ESPN cancela série documental de Spike Lee sobre o jogador de futebol americano Colin Kaepernick
Emissora destacou diferenças criativas como motivo
A série documental do diretor Spike Lee, feita para o canal ESPN, sobre o ex-jogador de futebol americano Colin Kaepernick não será mais exibida, segundo comunicado da própria emissora. Kaepernick jogou na posição de quarterback e, em 2016, chamou atenção por protagonizar importantes protestos contra o racismo durante jogos da NFL, a liga americana do esporte.
“A ESPN, Colin Kaepernick e Spike Lee decidiram coletivamente não seguir adiante com este projeto em razão de certas diferenças criativas”, disse a emissora em comunicado à agência Reuters no último. “Apesar de não termos chegado a uma conclusão, agradecemos todo o trabalho árduo e a colaboração que foram dedicados a esta série.”
À mesma agência, o diretor já havia falado sobre o assunto na sexta-feira.
“(A série) Não vai sair. É tudo o que posso dizer”, afirmou Lee no tapete vermelho antes do jantar da Fundação Harold e Carole Pump, um evento beneficente para pesquisa e tratamento do câncer, em Beverly Hills, Califórnia.
Questionado sobre o motivo, o diretor vencedor do Oscar em 2019 (pelo roteito adaptado de "Infiltrado na Klan") preferiu não se aprofundar, citando um acordo de confidencialidade. “Assinei um acordo de confidencialidade. Não posso falar sobre isso.”
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Os protestos do jogador
Kaepernick virou manchete mundial em 2016 quando se ajoelhou na hora do hino dos Estados Unidos, durante um jogo da NFL, como forma de protesto contra o racismo e a brutalidade policial. A partir de então, ele não voltou a atuar na liga, e muitos especialistas creditam esse fato a seu ativismo político. Os times teriam ficado receosos de contratá-lo, especialmente porque os protestos irritaram Donald Trump. Mais tarde, Kaepernick entrou com uma ação contra os donos de equipes, acusando-os de conluio. Ele a Liga fizeram um acordo, encerrando a ação em 2019.
A produção da série começou em 2022 a ESPN, gerida pela Walt Disney, a promovei como um “relato completo, em primeira pessoa” da trajetória de Kaepernick, que incluiria extensas entrevistas com o jogador.
Ano passado, o site "Puck News" publicou uma matéria sobre os atrasos do projeto devido diferenças criativas entre o jogador e o diretor.
A série é coproduzida por Jemele Hill, ex-repórter da ESPN suspensa pela emissora em 2017, depois de sugerir que os fãs deveriam boicotar os anunciantes da equipe Dallas Cowboys, quando o chefe da equipe criticou os protestos. Ele também era persona non grata na Casa Branca por ter feito um post no antigo Twitter dizendo: “Donald Trump é um supremacista branco que, em grande parte, se cercou de outros supremacistas brancos.”
Muito se tem especulado sobre o cancelamento da série porque se deu num momento em que o governo Trump tem processado veículos de comunicação que fizeram coberturas críticas ao presidente. Ele também tem pressionado empresas privadas e escolas a encerrarem iniciativas de diversidade, equidade e inclusão, usando o argumento de "discriminação ilegal contra americanos brancos".
Em dezembro passado, a ABC News, da Disney, concordou em pagar US$ 15 milhões a uma fundação e a um museu escolhidos por Trump como parte de um acordo num processo por difamação movido pelo presidente contra a emissora.

