Flip começa nesta quarta-feira (30) com Valter Hugo Mãe, Rosa Montero e programação focada no atual
Pela primeira vez desde 2019, festa volta a ser realizada entre julho e agosto; presença de autoras latino-americanas chama atenção
A 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começa nesta quarta-feira (30). Até domingo (3), 36 autores brasileiros e estrangeiros vão passar pelas 21 mesas da programação principal, no Auditório da Matriz. O homenageado da vez é o poeta, músico e judoca curitibano Paulo Leminski (1944-1989).
Este ano, o evento volta a ser realizado entre os meses de julho e agosto, como aconteceu entre 2003 e 2019. Em 2020 e 2021, em razão da pandemia, a Flip foi virtual. Foram necessários três anos para arrumar o calendário (e superar a crise de financiamento): em 2022 e 2023, a festa foi realizada em novembro; em 2024 foi antecipada para outubro. Voltar a fazer a festa nos meses de inverno era um desejo tanto da organização quanto dos comerciantes de Paraty — a Flip sempre ajudou a encher a cidade durante a baixa temporada.
Na mesa de abertura, “Essa noite vai ter sol” (quarta, às 21h), o cantor e compositor Arnaldo Antunes vai palestrar sobre o legado de Leminski. Em seguida, haverá um cortejo liderado por artistas paratienses saindo da Praça da Matriz e cruzando o Rio Perequê-Açú até o Palco do Areal, onde vai terminar numa ciranda aberta ao público.
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De olho no presente
A curadoria é novamente assinada pela editora Ana Lima Cecilio, que, como no ano passado, montou a programação com um olho na literatura e outro no noticiário. Não faltam mesas sobre o que ela chama de “assuntos incontornáveis”. E a sexta-feira foi reservada para as discussões urgentes: ao meio-dia, o jornalista Tiago Rogero (autor do podcast transformado em livro “Projeto Querino”) e a historiadora Ynaê Lopes dos Santos debatem as relações raciais no Brasil; às 17h, o historiador israelense Ilan Pappe explica as origens do conflito na Palestina; e às 19h, a festa recebe a ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Mas os fãs de literatura não têm por que se preocupar. Pela primeira vez, não há nenhum autor anglófono na Flip e chama atenção a presença de cinco escritoras latino-americanas que vêm dando o que falar no exterior: a chilena Alia Trabucco Zerán, as argentinas Dolores Reyes e María Negroni e as mexicanas Dahlia de la Cerda e Cristina Rivera Garza (vencedora do Prêmio Pulitzer). Cada uma a seu modo, essas autoras transitam mesclam gêneros literários e abordam as violências cometidas contra as mulheres ( Rivera Garza escreveu sobre o feminicídio da irmã em “O invencível verão de Liliana”).
Os francófonos também estão bem representados na festa: estarão em Paraty Neige Sinno (cujo livro “Triste tigre” parte do abuso sexual que sofreu de seu padrasto), o franco-ruandês Gaël Faye e o marfinense GauZ’. A participação desses autores tem o apoio da Temporada França-Brasil, uma série de eventos que promovem o intercâmbio cultural entre os dois países que se estende de agosto a dezembro em 15 cidades. Faye, aliás, já veio à Flip, em 2019, quando lançou “Meu pequeno país”, que narra o genocídio em Ruanda pelos olhos de um menino (o livro relançado em 2023 pela Carambaia com o título “Pequeno país”).
A programação também inclui autores estrangeiros que conquistaram o público brasileiro, como o italiano Sandro Veronesi (cujo romance “O colibri” vendeu mais de 20 mil cópias), a espanhola Rosa Montero e o português Valter Hugo Mãe — os dois, aliás, se tornaram queridinhos dos brasileiros depois de participações bem-sucedidas em Flips passadas. E, claro, não faltam autores nacionais na festa, como Giovana Madalosso, Lilia Guerra, Nei Lopes, Caetano Galindo, Fabrício Corsaletti, Veranilde Pereira e Sergio Vaz.
As mesas do Auditório da Matriz são transmitidas ao vivo no Auditório da Praça, pelo site e YouTube da Flip e pelo canal Arte1.
Novos palcos e programação paralela
Nesta edição, a Flip estreia dois novos palcos. O Caprichos & Relaxos (nome emprestado de um título de Leminski), ao lado do Auditório na Matriz, vai acolher 15 poetas brasileiros. Cada um deles terá 20 minutos para se apresentar. E o Palco da Praia, erguido na Praça Aberta (espaço dedicado a autores e editoras independentes às margens do Rio Perequê-açu), receberá manifestações culturais de Paraty e da região da Costa Verde.
A programação paralela continua pujante: serão 35 casas parceiras funcionando em Paraty durante a festa. As casas serão identificadas com sinalização desenvolvida pela Flip e as programações independentes serão divulgadas nos canais instituições do evento.

