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Literatura

Inaldete Pinheiro coloca anos de pesquisas escritas em dois novos livros digitais

Uma das maiores escritoras da literatura afrobrasileira, a potiguar radicada em Pernambuco chega com duas novas produções pela Lei Aldir Blanc

Inaldete PinheiroInaldete Pinheiro - Foto: Mayara Barbosa/Divulgação

Há quase meio século, encontrar a história do ponto de vista das pessoas negras era raro em escolas, universidades e outros espaços de conhecimento. Foi quando o Movimento Negro Unificado (MNU) se organizou, no fim da década de 1970, para reivindicar direitos para a população afrobrasileira e inserir, entre tantas pautas, cotas raciais e o ensino da história africana no currículo.

Uma das peças-chave para o desenvolvimento dessa narrativa em Pernambuco foi a escritora, enfermeira e mestra em Serviço Social Inaldete Pinheiro de Andrade, que foi uma das fundadoras do movimento na região. A história com a militância e o amor pela leitura trazem escritos de vivências suas e também da coletividade negra em dois livros lançados recentemente: “Escritos das Escravidões” e “Escritos das Liberdades”.

Os títulos foram publicados com apoio da Lei Aldir Blanc. Os recursos foram importantes para que a autora, com vasta experiência na literatura e na vida política, pudesse publicar os novos livros. O projeto tem coordenação executiva de Odailta Alves, outra grande escritora negra do Estado, e coordenação editorial do poeta e escritor Fred Caju. “Num País em que o incentivo à leitura e à escrita é limitado e seletivo, não causa estranhamento a imensa dificuldade de publicação vivenciada por escritoras negras. Dentro desse imaginário literário, os corpos das mulheres negras sequer são pensados para ocupar o lugar dessa produção acadêmica, literária, jornalística”, abre Odailta Alves em “Escritos das Liberdades”.

De fato, os escritos de Inaldete não poderiam ficar guardados. Ela tem uma vasta carreira com publicações infantis, com não-ficção, antologias e também poesias, desde que começou a publicar há 30 anos. Os dois livros juntam as trincheiras de comemorações dos 40 anos do movimento negro em Pernambuco, completados há três anos, com uma longa vida dedicada à pesquisa em temáticas raciais. Nos textos, há a leitura do mundo que Inaldete foi construindo com livros, jornais, filmes e a vivência com a militância.

Depoimentos de ex-escravizados

Em “Escritos das Escravidões”, Inaldete detalha a luta de negros que foram escravizados no Brasil, fazendo um resgate de anúncios de fugas em jornais e falas de ex-escravizados. Um deles vem logo na primeira parte do livro, “Escritos das Escravidões I”, em que ela recupera depoimentos orais de ex-escravizados, dando um outro tom à narrativa da escravidão no País. “Eu acho que pode ser uma abertura de informações para muita gente.

Particularmente, no primeiro capítulo eu tenho certeza que é algo novo para muita gente. Pode não ter uma boa escrita, mas tem muitas novidades”, conta Inaldete, aos risos, sobre a história de um padre inglês que passou 50 dias dentro de um navio negreiro vindo da Inglaterra.

Ela ainda traz falas de dois negros que foram escravizados ao professor Maestri Filho. “O senhor Mariano Pereira dos Santos, entrevistado em julho de 1982, disse que depois da libertação saíram sem nada, ele e o pai, ‘andavam que nem passarinho voando’”, relata, sobre o período após a abolição da escravatura.

Em “Escritos das Liberdades”, ela já traz a perspectiva da liberdade, os atos ou até a falta dela. Imagina-se que após a abolição em 13 de maio de 1888 houve liberação plena para a população negra, mas Inaldete esmiúça sua visão sobre a tal liberdade. “Não houve liberdade. Foi um alívio para o regime, também foi pressionado por outros países que tinham manifestações. A Inglaterra também tinha seus interesses em vender suas peças na revolução industrial e pressionou o Brasil, que era o único país a ter esse regime de escravidão”, conta a escritora, sobre o processo de abandono de direitos, também, após o período escravocrata. Os dois títulos podem ser encontrados em e-book, disponibilizados na plataforma Amazon, sob o preço de R$ 9,99 cada.

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