"Mar do Sertão" acerta ao dar destaque para os bons personagens das tramas paralelas
"Mar do Sertão" é exibida pela Globo, de segunda a sexta, às 18h30
A estrutura narrativa de “Mar do Sertão” bem que tentou evitar a falta de ação, a chamada barriga, durante sua exibição. Entretanto, equilibrando bons momentos de tensão e interessantes viradas na história, a novela vem passando por um momento de estagnação, justamente quando entra no terço final.
Prevista para terminar em meados de março, há semanas que a revelação de que Tertulinho e Zé Paulino, papéis de Renato Góes e Sérgio Guizé, são irmãos, vem rendendo pouco, de forma quase protocolar. Assim como o jogo de poder familiar em torno do Coronel Tertúlio, de José de Abreu, que depois de diversas provações e armações, surge agora um pouco mais consciente das mazelas que impôs ao povo da pequena Canta Pedra, cidade que ambienta a trama.
É, no mínimo, corajoso por parte do autor Mário Teixeira colocar para girar em círculos personagens tão importantes e que vinham em uma crescente dramática. Em contrapartida, é uma chance de trabalhar outros tipos que foram sendo esquecidos ao longo dos capítulos, caso de Pajeú, de Caio Blat.
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Na Globo desde o final dos anos 1990, Blat é um dos atores mais funcionais da emissora. Alternando gêneros, mas sempre comprometido com personagens de destaque em títulos como “Da Cor do Pecado”, “Império” e da ótima e recente “Segunda Chamada”, foi surpreendente sua escalação para um papel pequeno em relação aos serviços prestados à Globo. Enquanto dá um descanso aos protagonistas, o texto de “Mar do Sertão” entrega a oportunidade para Blat dominar a cena na pele do jagunço doente de amor.
Passional e disposto a ir para o tudo ou nada pelo que sente por Deodora, de Débora Bloch, o personagem mostra sua evolução, que começou como um simples peão misterioso e foi tendo sua força dramatúrgica intensificada. Em um momento em que pouca coisa acontece no protagonismo, quem ganha com a descentralização é a trama.
Com boa audiência já conquistada, os poucos mais de 30 minutos de cada capítulo podem até parecer repetitivos, mas a direção de Allan Fiterman e o desempenho do elenco entregam um feijão-com-arroz muito bem-temperado, com muitas cenas de festas, divertidas sequências de dança e destaque para um humor que soa quase pueril, garantindo risadas a partir do político corrupto Sabá, de Welder Rodrigues, e do agiota Vespertino, de Thardelly Lima.
Revelado ao Brasil por conta do contundente longa “Bacurau”, de 2019, o tom cômico de Lima já tinha chamado a atenção em “Quanto Mais Vida, Melhor!”, novela das sete exibida sem muita repercussão no ano passado. Agora, em um papel de maior relevância e em uma novela que é a cara e o colorido do Nordeste, o ator tem a chance de mostrar mais serviço. Se preparando para sair de cena, “Mar do Sertão” tem problemas para fluir, mas aposta nos tipos secundários certos para entreter o telespectador sem medo de qualquer fuga.
Bem escrita e dirigida e com uma unidade de atuação que impressiona, é a típica novela das seis que não será lembrada por ser um sucesso estrondoso, mas que passou sua mensagem de forma convincente e vai deixar saudade.

