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Crônica

Queda extravagante: Confira análise sobre Fuzuê

Com referências aos clássicos do horário das sete, "Fuzuê" sai de cena sem grandes momentos e distante do público

Cena da novela Fuzuê Cena da novela Fuzuê  - Foto: Divulgação

Gustavo Reiz é um grande fã das novelas das sete. Não as recentes, mas as concebidas entre os anos 1970 e 1990 por nomes como Cassiano Gabus Mendes, Carlos Lombardi e Silvio de Abreu. Sua contratação para o time de autores da Globo, inclusive, foi uma das últimas ações de Silvio como Diretor de Dramaturgia Diária da emissora. Mesmo afinado com o estilo e o público que consome as novelas do horário, Reiz acabou por distanciar a audiência com a colorida e dinâmica “Fuzuê”.

Conceitualmente, a novela não tem nada muito fora da curva, apostando no humor besteirol e em arquétipos do gênero como o galã confuso, a mocinha determinada e romântica, a vilã elegante e decadente, entre outros. O grande problema realmente foi a total falta de sintonia com a que o público quer assistir atualmente. Como resultado, “Fuzuê” chega ao fim com média de 19,2 pontos, a pior audiência da história do horário das sete da Globo, fundado em agosto de 1965, quando foi ao ar “Rosinha do Sobrado”.

Na história recente, a faixa das sete teve algumas outras tramas problemáticas que não conseguiram fisgar o telespectador, como “Quanto Mais Vida, Melhor!” e “Cara e Coragem”.  São muitos os fatores que envolvem o sucesso de um folhetim. Além do potencial popular da história e do carisma de personagens e intérpretes, é importante contar com um novelista hábil em adaptações e reviravoltas que possam fisgar ou manter a fidelidade do público – ainda mais em tempos de grande oferta de produções audiovisuais no streaming.

Hoje em dia, é muito mais difícil salvar uma novela do fracasso. E isso fica ainda mais complicado quando o autor tem algum tipo de apego mais radical ao trabalho realizado. A verdade é que a Globo demorou a interferir nos rumos de “Fuzuê”, acreditando que o público naturalmente se interessaria pela trama apenas com o aumento das chamadas na grade de programação. Depois de três meses sem grande repercussão, o experiente Ricardo Linhares passou a contribuir para a produção e, de cara, deu logo contornos mais adultos ao enredo.

Neste movimento, o jogo de gata e rata entre Luna e Preciosa, meias-irmãs de personalidades totalmente diferentes, papéis de Giovana Cordeiro e Marina Ruy Barbosa, foi para o segundo plano, e o elenco mais maduro passou a comandar os capítulos. Com destaque para o manipulador César, papel cheio de ambiguidade defendido por Leopoldo Pacheco, e também para o quadrilátero amoroso formado por ele, Maria Navalha, Nero e Bebel, papéis de Olívia Araújo, Edson Celulari e Lilia Cabral. Sendo assim, “Fuzuê” cresceu, ganhou contornos mais policiais e apostou na ação, o que evidenciou a habilidade do diretor Fabrício Mamberti para cenas do gênero.

Dessa forma, também foi possível ver Julio Cazarré mostrar todo seu potencial vilanesco na pele do ambicioso e imprevisível Pascoal. Infelizmente, não houve tempo para o autor desenvolver outros tipos secundários que poderiam render melhor em cena, como Alicia, Soraya e Olivia, de Fernanda Rodrigues, Heslaine Vieira e Jéssica Córes, respectivamente. Correta, mas sem grandes momentos, “Fuzuê” termina fadada ao simples esquecimento e deixando nítido que o tom mais exagerado das tramas dos anos 1980 e 1990 segue em baixa.

“Fuzuê” – de segunda a sábado, às 19h20.

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