Rapper Oruam diz que vai se entregar à polícia: "Estava muito nervoso com tudo o que aconteceu"
Cantor se envolveu em uma confusão com policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que cercaram a casa onde ele vive, no Joá, Zona Oeste da cidade
O rapper Mauro Davi Nepomuceno, mais conhecido como Oruam, disse que vai se entregar à polícia. O cantor teve a prisão decretada após se envolver em uma confusão com policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que cercaram a casa onde ele vive, no Joá, Zona Oeste da cidade.
Os agentes estavam no local após descobrirem que um adolescente, acusado de atuar como segurança de um chefe do Comando Vermelho, estava na residência. Após o episódio, o rapper foi indiciado pela Polícia Civil por desacato, resistência qualificada, lesão corporal, ameaça e dano.
Por que foi determinada a prisão preventiva do rapper Oruam?
Segundo o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, a prisão do cantor foi decretada pela prática dos crimes de resistência qualificada, desacato, dano, ameaça e lesão corporal.
"Os crimes teriam ocorrido no momento em que uma equipe policial tentava cumprir, na casa do cantor, no bairro do Joá, uma diligência de busca e apreensão de um adolescente, em razão da prática de atos infracionais análogos ao tráfico de drogas e a crimes patrimoniais, expedida pela Vara da Infância e Juventude da Capital", diz a nota do TJRJ.
O mandado de prisão foi expedido pelo Plantão Judiciário nesta terça-feira.
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“Analisando os autos, verifico que, no presente momento, mais adequado se faz a decretação da prisão preventiva (e não da prisão temporária), conforme sugerido pelo Ministério Público, conforme passo a expor. A prisão preventiva encontra respaldo nos artigos 311 a 313 do Código de Processo Penal e se faz pertinente para a garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. E os requisitos se fazem presentes, de acordo com os elementos probatórios”, diz um trecho da decisão.
Busca por adolescente
A confusão começou quando agentes da DRE foram à casa de Oruam após receberem informações de que um adolescente, apontado como segurança de Edgar Alves de Andrade, o Doca — um dos chefes do Comando Vermelho (CV) no Rio —, estaria no local. Segundo a polícia, o jovem também é um dos fundadores da Equipe do Ódio, grupo de roubadores ligado à facção.
Segundo a polícia, uma equipe permaneceu no local monitorando o alvo a partir de uma viatura descaracterizada. Quando o adolescente saiu de casa, acompanhado de outras quatro pessoas, foi abordado pelos agentes. Naquele momento, os policiais anunciaram a apreensão do jovem e a retenção dos bens que ele portava. Durante a abordagem, segundo a polícia, Oruam e outras oito pessoas apareceram na varanda, xingando e atirando pedras contra os policiais.
“Tais elementos desceram e continuaram proferindo insultos e ameaças contra a equipe. Um deles, inclusive, citou ser filho de Márcio dos Santos Nepomuceno, o 'Marcinho VP', uma das principais lideranças do Comando Vermelho, como forma de intimidação”, diz a nota da Polícia Civil.
Ainda segundo a nota, os agentes só entraram na residência depois que um dos homens envolvidos no ataque correu para dentro do imóvel.
“Ele foi autuado em flagrante por desacato, resistência qualificada, lesão corporal, ameaça, dano e associação para o tráfico. O morador do imóvel e os demais se evadiram do local, posteriormente realizando novos ataques aos policiais por meio das redes sociais. Vale destacar que esta é a segunda vez, em menos de seis meses, que um integrante da facção criminosa é localizado no interior da mesma residência”, afirma a nota.
O adolescente, alvo do monitoramento, conseguiu fugir de dentro da viatura descaracterizada durante a confusão.
Durante o episódio, Oruam filmou o delegado Moyses Santana, titular da DRE, e xingou o policial. "Tem mais de 20 viaturas na minha casa. O mesmo delegado que me prendeu. Eu estava saindo e colocaram a pistola na minha cara. Claro que ele vai querer prender nós (sic) porque nós é filho de bandido", disse o cantor em vídeo postado nos stories.
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Depois do episódio, o cantor foi para o Complexo da Penha e gravou um vídeo provocando os agentes:" Eu quero ver você vir aqui. Me pegar aqui dentro do complexo. Não vai me pegar, sabe por causa de quê? Que vocês peida", falou ele. No vídeo, ele ainda reforçou que é "filho do Marcinho".
"Marginal da pior espécie"
Na manhã desta terça-feira, o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, comentou o episódio ocorrido na casa de Oruam e afirmou ao Bom Dia Rio, da TV Globo, que o rapper é um "marginal da pior espécie e ligado ao Comando Vermelho". Oruam será indiciado por associação para o tráfico, por ligação direta dele com a facção,, disse Curi.
— Se alguém, tinha dúvida se era uma marginal ou um artista periférico, está claro: é um marginal — afirmou o delegado.
Versão do Oruam
Em nota, Oruam disse que se sentiu vítima de abuso de autoridade e que só atirou pedras na polícia depois que foi ameaçado com armas de fogo, incluindo fuzis. O músico questionou também o horário da abordagem e acusou a polícia de ser preconceituosa. Segundo Oruam, os policiais também teriam rasgado e destruído pertences dele e da noiva.
''Apesar da invasão, nenhuma objeção ou suspeita foi encontrada, pois não havia motivo algum para tal ação. Além disso, durante a abordagem, meu produtor, que estava comigo, foi algemado de maneira arbitrária e sem justificativa plausível. Essa ação violenta e desproporcional, além de humilhante, gerou grande sofrimento emocional e físico para todos nós presentes'', escreveu o músico.
"Local de acoitamento de criminosos foragidos"
Consta na decisão que decretou a prisão do Oruam que a vinculação orgânica do rapper com o Comando Vermelho é evidenciada “pela reiterada utilização de sua residência como local de acoitamento de criminosos foragidos”.
A decisão ainda cita postagens feitas por Oruam nas redes sociais: “As postagens em redes sociais nas quais o representado assume postura desafiadora às autoridades constituem grave atentado, pois incentivam a desobediência civil e a resistência violenta contra o Estado Democrático de Direito.”
Além disso, também diz que a liberdade Oruam possibilita "a reiteração de condutas criminosas similares, considerando o padrão comportamental do representado de desafiar abertamente as autoridades e auxiliar criminosos foragidos".
O documento ainda fala sobre a fuga do rapper para o Complexo da Penha e diz que a atitude demonstra "inequívoco desprezo pelas determinações da Justiça e clara intenção dese furtar à ação da lei":
"A atuação do plantão judiciário, inclusive em período noturno, é justificada pela necessidade inadiável degarantir a efetividade da persecução penal, diante de um cenário de flagrante complexidade e periculosidade,com repercussões graves e possível envolvimento de facção criminosa armada. Destaque-se novamente que o investigado já se encontra em situação de fuga, tendo em vista que o delito fora praticado em situação deflagrante regular. Assim, demonstra inequívoco desprezo pelas determinações da Justiça e clara intenção dese furtar à ação da lei", diz um trecho.
Quem é Oruam?
Oruam é filho de Marcinho VP, um dos chefes históricos do Comando Vermelho, preso desde 1996 e condenado por tráfico e homicídios. A relação com o pai, que já motivou declarações públicas e manifestações nos palcos, é parte central da imagem que o artista construiu. Em 2023, subiu ao palco do Lollapalooza usando uma camiseta com os dizeres “Liberdade para Marcinho VP”. A atitude provocou críticas, às quais ele respondeu dizendo se tratar de um “desabafo de um menor que cresceu sem o pai por perto”. Oruam tem tatuado no corpo também o nome de Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes, padrinho do rapper.
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Além das polêmicas, Oruam segue no topo do gênero que ajudou a popularizar entre o público jovem. É próximo de artistas como MC Daniel, Orochi, Chefin e MC Cabelinho, e não esconde o estilo de vida que escolheu levar. Diz ter gastado R$ 8 milhões em uma única noite em uma boate na Espanha, e ostenta nas redes um Porsche Carrera 911, um Audi TT RS e um gato da raça Savannah F1, avaliado em até R$ 120 mil. O animal, chamado Malandrex, é cuidado por sua namorada, Fernanda Valença, estudante de veterinária e influenciadora, com quem está há cinco anos.
Em fevereiro deste ano, Oruam foi preso em flagrante por abrigar, em sua casa, um foragido da Justiça. O cantor era alvo de buscas, mas os policiais encontraram em sua residência o traficante Yuri Pereira Gonçalves, que era procurado por envolvimento com organização criminosa. Com ele, foi apreendida uma pistola 9 mm com kit-rajada e munição. O rapper foi liberado horas depois.
Na semana anterior, ele já havia sido preso na orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste da capital, após dar um "cavalo de pau" na frente de um carro da Polícia Militar e parar virado para a contramão. Autuado em flagrante por direção perigosa, o rapper pagou uma fiança de R$ 60 mil e foi solto.
Mais recentemente, em junho, Oruam esteve envolvido em outro episódio que gerou polêmica. No dia da soltura do cantor Marlon Brendon Coelho Couto e Silva, o MC Poze do Rodo, ele subiu em um ônibus em meio a uma multidão em frente ao Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio.

