Sáb, 06 de Dezembro

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"Vivi um período sombrio; minha analista salvou minha vida", diz Alice Wegmann sobre depressão.

Em entrevista à jornalista Maria Fortuna no videocast Conversa vai, conversa vem, atriz lembra o impacto emocional de personagens intensas e conta como se sentia durante momentos conturbados

Alice Wegmann ns gravações de Alice Wegmann ns gravações de  - Foto: Repordução/Instagram

Alice Wegmann lembrou o burnout que sofreu durante as gravações de uma série e dimensionou a importância da terapia em sua vida durante participação no videocast ' Conversa vai, conversa vem,', videocast do jornal O Globo, comandado pela jornalista Maria Fortuna. A entrevista, em que ela também falou sobre como enfrentou a depressão, está no ar no Youtube.

Desde muito jovem, você tem uma profundidade enorme. Construiu sua carreira em cima de personagens densos, imersos em tramas sensíveis. Foi uma busca sua?
Acho que isso nasceu comigo. Era uma criança profunda, sensível, se sempre tive obsessão por aprender. Gosto de deixar as pessoas me ensinarem e tenho esse olhar de curiosidade para o outro. Me mudei várias vezes, isso foi me moldando. Fiz ginástica artística por oito anos. A realidade das meninas que faziam a ginástica comigo era muito diferente da minha. Eu olhava e pensava: "Por que o mundo é assim? Por que as meninas não tem dinheiro pra pagar uma passagem de ônibus para treinar". Desde criança, entendi a seriedade disso e de questionar a sociedade e o mundo do jeito que é. Essa profundidade, eu acho que vem de um incômodo, de uma vontade de mudar aquilo que não tá legal, de um comprometimento com o mundo e com a minha função.

Depois de tanto drama, vieram a Raíssa, de "Rensga Hits" e a Solange, que se aproximam muito mais da sua personalidade, com esse sorrisão iluminado, essa espontaneidade.
Raíssa chegou no momento em que virei para o Chico Accioly (do departamento artístico da Globo e disse: "Estou precisando fazer uma personagem solar". No teatro, fazia comédia, me soltava. Na TV, papeis sombrios, com questões emocionais. Aquilo me consumia. Em "Órfãos da terra" teve um dia que chorei durante 30 cenas. E, aí, fui jantar com o meu namorado e cortava o peixe chorando, não conseguia fechar a torneira. Tem um lugar emocional que mexe, desestabiliza a gente. Aí, pensei: " Estou precisando fazer uma personagem que mostre mais a arcada dentária" (risos).

Até porque você teve um burnout fazendo a Maria de "Onde nascem os fortes", personagem que te exigiu física e emocionalmente, e que sofria bastante...
Ainda não tinha maturidade de distinguir o que era personagem, atriz e Alice. Era muito intensa. Ali, entendi o meu limite. Tive que ser reanimada. Meu coração bateu a 31 e fui parar numa UPA. Estava numa cena de ação e comecei a passar mal. Passar mal. Falei: "Tem algo estranho acontecendo, não tô com força". Eu tremia, não conseguia falar direito. Fiquei deitada no chão, veio uma ambulância, tomei duas doses de atropina porque uma não adiantou, e tive uma reação alérgica, minha pupila ficou dilatada, não conseguia respirar direito. Minha mãe pegou foi me ver e o médico disse: "Tive muito medo de perder sua filha". Imagina uma mãe ouvir isso!

E depois caiu em depressão ao ter que se despedir da personagem.
Acabou a série e eu entrei pra análise. Vivi um período sombrio. Era um luto. Quando acaba uma novela, série, filme, peça está perdendo a sua melhor amiga com a qual conviveu durante meses. A história, a persona que criou não existe mais. Acabou. É um vazio. Vivi essa depressão. Não tinha vontade de sair, de me ver, de que me vissem. Tinha muita vergonha de mim. Não sabia me reconhecer mais. Estava com um cabelo que não era o meu e nem da personagem. Eu pensava: "Quem sou eu?". E mais, a vida inteira eu emendei colégio, faculdade, um trabalho no outro. Passei a maior parte do tempo fora de casa, vivendo outras vidas. E quando, finalmente, entro de férias e tenho tempo livre, não sabia o que fazer. "O que gosto de fazer?". Não sei!

E foi dar conta disso na terapia...
Foi quando eu conheci a minha analista. Ela salvou a minha vida. Porque eu saí de um buraco. Uma boa analista é aquela que te dá potência de viver, um motor para você agarrar a sua vida e fazer o que quiser dela. Mas que te faça bem. Hoje, quando vivo esses lutos, término olhe e falo: "Não quero viver o que vivi em 2018, não vou voltar para aquele lugar". Olho para esses pensamentos e penso: "Peraí, estou louca, vamos acalmar, tomar uma água, fazer uma massagem". Me ajuda muito a água, entrar no banho e deixar a agua escorrer. E, aí, eu peço proteção, me conecto com a minha espiritualidade, a minha fé. Me concentro em acender uma vela fazer a minha oração, pedir pra Deus e pros meus orixás.

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