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Walter Salles: "A história de 'Central do Brasil' teria sido diferente" sem Robert Redford

Cineasta brasileiro vencedor do Oscar por 'Ainda estou aqui' relembra parceria com astro americano que morreu hoje, aos 89 anos

Walter Salles, diretor de Ainda Estou AquiWalter Salles, diretor de Ainda Estou Aqui - Foto: Alberto Pizolli/AFP

Que perda. Robert Redford era um ator e diretor de uma absoluta integridade artística e política. Um homem de profunda humanidade e curiosidade, que eram a matéria-prima com que construía seus personagens.

Alguns deles, como o jornalista Bob Woodward a que deu vida em "Todos os homens do presidente", encarnaram a luta pelas liberdades civis e contra o autoritarismo vigente nos Estados Unidos, nos anos 1970. Era um homem de princípios, que não hesitava em se tornar um ativista das causas em que acreditava.

O Instituto Sundance que Redford criou foi e ainda é fundamental para o descobrimento de jovens talentos e para o fortalecimento do cinema independente, em todo o mundo. Fui uma das muitas pessoas que o Sundance apoiou. A história de " Central do Brasil" teria sido diferente se o roteiro do filme não tivesse sido abraçado pelo Sundance. Já "Diários de Motocicleta" não teria existido sem ele. É um projeto que Redford me ofereceu. Na nossa primeira reunião, eu disse que só achava que o filme seria possível se fosse filmado com jovens atores e muitos não atores, em espanhol, através do continente sul-americano. Redford não pestanejou um segundo: "Será assim, ou não o faremos". Vivemos quatro anos de recusas de distribuidores norte-americanos, até que o canal independente inglês Film Four tornou o projeto possível. Nesses quatro anos, Redford nunca me pediu para mudar uma linha do conceito do filme para viabilizá-lo. Palavra dada era palavra cumprida.

Tinha muita admiração por ele. Pelo imenso artista que era, pelo homem público que estava sempre do lado certo da História, pela pessoa privada e recatada que era na vida pessoal.


Walter Salles é diretor, roteirista e produtor de cinema, responsável por obras como "Terra estrangeira" (1995), "Central do Brasil" (1998), "Diários de motocicleta" (2004) e "Ainda estou aqui" (2024)

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