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Economia

Arte de fazer cerveja volta a fazer parte da vida dos pernambucanos

Com 2,5 milhões de litros produzidos por ano, Pernambuco é o maior produtor de cerveja artesanal do Norte/Nordeste e já conta com 24 marcas diferentes e 11 fábricas da bebida

Cervejas artesanais de PernambucoCervejas artesanais de Pernambuco - Foto: Anderson Stevens / Folha de Pernambuco

Quando desembarcou no Recife no século XVII, Maurício de Nassau não trouxe apenas cientistas e pintores. O cervejeiro Dirck Dicx também veio com o conde holandês. Por isso, a primeira cervejaria das Américas foi criada na capital pernambucana, no atual bairro da Capunga. Esse pioneirismo, porém, foi esquecido ao longo do tempo e só agora está sendo recuperado, mas com estilo. Afinal, a arte de fazer cerveja voltou a fazer parte da vida dos pernambucanos e fomentou a criação de um grande mercado de cervejarias artesanais. Já são 24 marcas diferentes fazendo a bebida em 11 fábricas no Estado e, assim, movimentando a economia local.

Graças a esse movimento, Pernambuco já é o maior produtor de cerveja artesanal do Norte/Nordeste do Brasil. Segundo a Associação Pernambucana de Cervejarias Artesanais (Apecerva), 2,5 milhões de litros já são produzidos por ano no Estado. Para ter ideia, só a menor das 11 fábricas produz cinco mil litros/mês e as maiores já chegam perto dos 100 mil litros/mês.

O setor, que começou pequeno, como um hobby dos pernambucanos que gostavam de fazer a própria cerveja nas panelas de casa, já emprega 100 pessoas, movimenta R$ 478 milhões por ano e gera R$ 354 milhões de arrecadação para o Estado. E a expectativa é que esses números cresçam ainda mais. Afinal, apesar de o número de rótulos pernambucanos já ter saltado de dois para 24 nos últimos três anos, outros cervejeiros já estão se movimentando para lançar novas marcas.

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Uma prova disso está na fábrica da Patt Lou, em Vitória de Santo Antão. É que, além da própria cerveja, os sócios Luís Picelli e Patrícia Sanches fazem a produção de outros nove rótulos pernambucanos. E eles já estão negociando com outros empreendedores. Por isso, já mandam bebida para Recife, Olinda, Garanhuns, Serra Talhada, Pesqueira, Chã Grande e até Petrolina.

“Nós prestamos um serviço para essas marcas, oferecendo o espaço e a mão de obra. E, assim, vamos alimentando o sonho de quem quer entrar no mercado, mas ainda não tem dinheiro para construir sua própria fábrica, as chamadas cervejas ciganas”, vibra Luís, admitindo que esse serviço também ajuda a impulsionar os investimentos e a venda da própria cerveja.

“O setor só cresce e ainda vai crescer bastante, porque cada vez mais pessoas estão conhecendo, aceitando e buscando as cervejas artesanais”, garante o presidente da Apecerva, Filipe Magalhães, que também é sócio da Babylon. Ele explica que, mesmo com a grande variedade, este mercado ainda representa uma parte muito pequena das vendas nacionais de cerveja, de 1% a 2%. Já em mercados mais evoluídos, como o dos Estados Unidos, esse número se aproxima dos 20%. Por isso, ainda há espaço para muitas cervejas artesanais no Estado.

Luís Picelli, sócio da cervejaria Patt Lou

Luís Picelli, sócio da cervejaria Patt Lou - Crédito: Anderson Stevens / Folha de Pernambuco

Os cervejeiros Felipe Benites e Felipe Franco sabem bem disso. Afinal, abriram a própria fábrica, a Navegantes, em janeiro deste ano. E, desde então, já dobraram suas vendas, chegando aos cinco mil litros/mês. “Agora, estamos recebendo ciganas. Por isso, já devemos alcançar os 10 mil/litros mês no fim do ano e já alugamos outro galpão para ampliar a fábrica”, conta Benites, que serve de inspiração para outros empreendedores. Danilo Gonçalves, por exemplo, acabou de colocar a sua cerveja no mercado, a Weissdorn. “Há mercado para todos. Eu mesmo estava desempregado antes disso. E, mesmo assim, consegui realizar esse sonho”, afirma Gonçalves, que já faz mil litros por mês.

“Quem chegou primeiro abriu o mercado para quem veio depois, porque um consumidor que entra nesse setor dificilmente sai. E quem gosta de uma acaba provando outras marcas. Por isso, podemos até para duplicar nosso número de cervejarias. Só quando chegarmos em 10% ou 15% do mercado é que o setor pode saturar”, acrescenta Magalhães. Ele reconhece, porém, que o Estado registrou um salto acima do esperado. E, para os cervejeiros, foi o bairrismo típico do pernambucano que propiciou esse crescimento tão rápido. “O paladar do público mudou, mas o bairrismo também incentivou, porque é do interesse das pessoas provar bebidas que nasceram aqui”, opina o sócio da Cerveja Pernambucana e da loja de insumos para cerveja CiBrew, Pedro Baltar.

Mercado em franca expansão

O mercado pernambucano de cervejas artesanais nasceu em 2015, com a DeBron e a Capunga, e logo depois ganhou o reforço da Ekäut. Com o passar do tempo, porém, viu-se cheio de novidades. É que, já em 2016, outros cinco rótulos foram criados. E, em 2017, o número de cervejarias passou para 17. Hoje, são 24. E outras marcas devem entrar nesse rol em breve. Mesmo assim, quem deu início a esse movimento não se sente ameaçado pela concorrência. Ao contrário, gosta tanto que tem até investido na disseminação da cultura cervejeira.

"O consumidor de cerveja artesanal é promíscuo, não prova uma marca só. Então, acreditamos que cada nova cervejaria desenvolve um pouco mais desse mercado e vemos com bons olhos a entrada de novas marcas”, contou o sócio da Ekäut, Diogo Chiaradia, no mais novo empreendimento da cerveja: o Ekäut Lab, espaço de experimentação e difusão da cerveja artesanal, que fica em Boa Viagem. “A ideia é estar junto dos nossos consumidores, fomentando essa cultura e aumentando esse mercado”, completa Bruno Paes, que também é sócio da Ekäut.

 Mercado de cerveja

“Não competimos uns com os outros. Ao contrário, as novas marcas fazem o mercado mais forte, porque causam mais experiência e curiosidade ao consumidor. Por isso, apoiamos a entrada de novas marcas e também vamos estimular isso”, acrescenta o sócio da DeBron, Eduardo Farias, garantindo que as novas marcas não reduzem as vendas das que já estavam no mercado. Por isso, assim como a Ekäut, a DeBron vai criar um ambiente dedicado ao estudo da bebida e à elaboração colaborativa de receitas. E esse laboratório vai ficar na própria fábrica da DeBron, que está em expansão para poder abrigar essa novidade e aumentar a produção.

Em Igarassu, a Capunga também está expandindo sua área produtiva. Mas a marca conta com uma estratégia diferente para atrair novos consumidores para a cerveja artesanal. A Capunga lançou uma cerveja mais leve, chamada de Pilsen Praia, para poder concorrer com rótulos premium como a Heineken. “Mas não vamos perder o DNA artesanal, porque este é o segredo do mercado. Quem entra no negócio não fica apenas olhando números. Ele coloca a mão na massa e dá o sangue para a cultura cervejeira crescer”, garante o sócio da Capunga, Victor Lamenha.

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