BC questiona operações de compra de carteiras de consignado entre BRB e Master
Segundo pessoas a par das negociações, há um incômodo de técnicos em relação ao perímetro do negócio, ou seja, os ativos que serão incluídos na operação
O Banco Central enviou questionamentos ao BRB e ao Banco Master sobre a venda da carteira de crédito consignado, após encontrar inconsistências nas transações que ocorreram no fim do ano passado, conforme revelou o colunista do GLOBO Lauro Jardim.
Em 2024, o BRB comprou cerca de R$ 8 bilhões em carteiras de crédito do banco liderado por Daniel Vorcaro, em uma espécie de primeiro passo na relação entre as duas instituições financeiras.
Leia também
• Santander adquire banco britânico TSB do Sabadell por US$ 3,4 bilhões
• Presidente do Fed diz que o banco deve permanecer 'completamente apolítico'
Pessoas a par das discussões afirmam que o pedido de informações realizado pelo regulador não está diretamente relacionado ao processo de análise da operação de aquisição do Master pelo banco do Distrito Federal.
Há, contudo, um incômodo de técnicos do BC em relação ao perímetro do negócio, ou seja, os ativos que serão incluídos na operação. Procurada, a autoridade monetária não se manifestou.
O BC quer assegurar que o BRB comprará um negócio viável. Quanto mais amplo o perímetro, pior a qualidade dos ativos, disse uma das pessoas envolvidas nas tratativas.
O acordo prevê a compra de 58% do capital social total do Master pelo BRB (49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais).
Inicialmente, cerca de R$ 23 bilhões de ativos do Master ficariam de fora do negócio, mas, na última comunicação ao BC, o BRB informou que o número chegou a R$ 33 bilhões. O banco público do Distrito Federal chegou a essa conta após auditorias. Foram retirados, por exemplo, precatórios e participações em empresas em dificuldades.
Questionado, o BRB disse que "as diligências, auditorias e a definição do perímetro da aquisição de parte do capital do Banco Master seguem em andamento".
Negociação
A operação entre os dois bancos está envolta em polêmicas. O Master enfrenta problemas de liquidez. O banco adotava estratégia que se baseava em captações via CDBs com retornos bastante acima da média do mercado, com a salvaguarda do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Por outro lado, os ativos para fazer frente a esses compromissos são em parte ilíquidos, como os precatórios e a participação em empresas em crise.
Nesse caso, se o Master entrasse em crise, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que é formado com contribuições das instituições financeiras associadas, teria de arcar com um volume relevante de ressarcimento para pessoas físicas com aplicações de até R$ 250 mil de pessoas físicas - um problema para o sistema financeiro.
Segundo o balanço de 2024, o Master tinha R$ 12,4 bilhões de CDBs a vencer até o fim deste ano, contra um ativo total para o mesmo período de R$ 18,3 bilhões. No total, o estoque de CDBs e CDIs era de R$ 49,8 bilhões. A liquidez do FGC, em junho de 2024, era de R$ 107,8 bilhões.
Diante disso, chamou atenção o interesse do BRB, um banco público, no negócio, e alguns participantes do mercado levantaram questionamentos sobre favorecimento político.
O BRB defendeu, contudo, que a operação seria importante na estratégia de crescimento da instituição, possibilitando uma atuação maior nas áreas de câmbio, mercado de capitais e cartão de crédito consignado.
"O novo conglomerado prudencial visa fortalecer a atuação conjunta no mercado, pela oferta completa de produtos e serviços bancários, de seguridade, meios de pagamento e investimentos a pessoas físicas e jurídicas, presença nacional e estrutura de governança, capital, liquidez, rentabilidade e conformidade regulatória compatível com o porte do novo conglomerado", disse o BRB na época do anúncio da compra.
Recentemente, a venda de ativos privados de Vorcaro ao BTG no valor de R$ 1,5 bilhão foi considerado um passo importante para viabilizar a operação com o BRB dentro do BC, já que os recursos foram aplicados no Master, dando um "refresco" imediato de liquidez. Para o Banco Central, é importante que o caso Master seja resolvido por inteiro.
Em nota, o Banco Master afirma que a operação segue trâmite normal. "O Banco Master esclarece que a análise regulatória em curso sobre a venda de ações ao BRB segue seu rito normal. Não existe irregularidade com qualquer transação com o BRB. O Master é uma instituição financeira regulada pelo Banco Central e auditada por auditorias terceiras. O Banco segue confiante na conclusão positiva da negociação com o BRB."

