Sáb, 20 de Dezembro

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Fraudes

Golpes digitais em viagens exigem atenção redobrada nas férias

De acordo com pesquisa do Instituto Datafolha, fraudes on-line de diferentes naturezas causaram prejuízo a 56 milhões de brasileiros em 2024, somando perdas estimadas em R$ 111,9 bilhões

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Passagem comprada, hospedagem reservada e malas prontas, tudo indica o início dos dias de descanso: as esperadas férias. Mas, ao tentar confirmar a reserva, o telefone informado não atende e vem a descoberta: o local simplesmente não existe. Você foi vítima de um golpe digital. Com a proximidade do verão e o aumento na busca por hospedagens e pacotes turísticos, esse tipo de caso acontece com uma certa frequência, principalmente nas compras on-line.  

De acordo com pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum de Segurança Pública, golpes digitais de diferentes naturezas causaram prejuízo a 56 milhões de brasileiros em 2024, somando perdas estimadas em R$ 111,9 bilhões.

O dado reforça uma preocupação que ultrapassa o dia a dia financeiro e chega até os momentos de lazer. Nem mesmo o período de férias está imune aos golpes virtuais, que se estendem também às reservas de hospedagem e pacotes de viagem. Dados da OLX, um dos principais anunciantes de locação, apontam que de janeiro a dezembro do ano passado, foram identificadas 3,2 mil notificações de fraudes envolvendo a reserva de casas, apartamentos e lofts alugados por temporada. 

Em Pernambuco, o turismo é o setor que figura como um dos mais promissores, tanto com o aumento do fluxo de visitantes de outros estados quanto com o fortalecimento do turismo interno. Dados do Ministério do Turismo apontam que, de janeiro a maio de 2025, a receita do setor cresceu 9,5%. O aquecimento desse mercado, no entanto, vem acompanhado de um alerta: a alta da demanda amplia também as oportunidades para fraudes e golpes digitais na região.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional), os setores de hospedagem e alimentação sofreram um prejuízo estimado de R$ 100 bilhões em fraudes no Brasil no ano de 2024.

Alerta
A agente de viagens Rayana Assis, que atua na área há mais de 11 anos, pontuou que geralmente as histórias de fraudes começam com o cliente sendo atraído pelas boas fotos que acompanham o anúncio do imóvel, que por vezes podem nem existir. “Na internet você pode ver fotos lindas, pode ter várias informações visuais, mas é importante pegar um feedback de quem já utilizou o serviço para ter certeza que aquilo ali tem procedência”, aconselhou a especialista.

Rayana também chama a atenção para os preços, que também podem ser um sinal de alerta. Para ela, não existe o “muito bom e muito barato”. “Quem viaja com frequência sabe que há uma precificação média para cada tipo de serviço. Se você encontra uma hospedagem ou passagem com valor muito abaixo do mercado, é motivo para desconfiar”, explicou.

A lógica funciona assim: se um mesmo tipo de hospedagem ou pacote de viagem custa, por exemplo, R$ 100 em um site e R$ 50 em outro, é importante desconfiar. Ela alertou que o cuidado deve se estender para todo e qualquer meio de compra de pacotes de viagens ou aluguel de locações, como agências, pousadas ou uma casa de veraneio. “Um passageiro que viaja com frequência, entende que existe uma precificação de mercado a respeito de cada produto”, contou.  

Pesquisa
A reportagem realizou buscas por hospedagem nos principais sites de locação em dois dos principais destinos turísticos do estado: Fernando de Noronha e Porto de Galinhas. Em Fernando de Noronha, por exemplo, as diárias para o primeiro fim de semana de janeiro variavam entre R$ 571, para quartos compartilhados, e R$ 3.800, para suítes de pousadas. Já em Porto de Galinhas, os valores iam de R$ 180 por um quarto compartilhado a R$ 2.800 por uma suíte completa em pousada.

Os valores oscilam de acordo com as comodidades oferecidas, como piscina, chuveiro aquecido, tamanho do quarto e outros diferenciais. Por isso, é fundamental que, ao realizar a pesquisa de preço, o viajante compare os valores levando esses aspectos em conta, evitando assim o risco de cair em golpes ou ofertas enganosas.

Além dos quartos em pousadas e hotéis, os aluguéis de casa por temporada também entram no radar de quem quer viajar com toda a família, ou optar por mais privacidade. Nesses casos, geralmente, os valores são mais elevados, ou seja, precisam de ainda mais cautela, lembra a especialista em imóveis e CEO da imobiliária Metro Quadrado, Sacha Myrna. 

“Antes de qualquer pagamento, o ideal é que o hóspede realize uma videochamada com o proprietário ou administrador para ver o espaço em tempo real. Também é importante conferir se o endereço e as imagens coincidem com o que foi apresentado no anúncio”. 

Sacha alerta ainda que nenhum depósito seja feito em contas pessoais fora das plataformas oficiais de busca, como Airbnb ou Booking, que possuem sistemas de pagamento intermediado e só liberam o valor ao anfitrião após o check-in. “Consultar avaliações de hóspedes anteriores e desconfiar de preços muito abaixo da média local também são medidas essenciais. Essa é uma das estratégias mais comuns em golpes de locação”, acrescentou.

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Contratos
O contrato de locação por temporada também é um ponto para se ter cuidado. Regulamentado pela Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), ele é a base da segurança jurídica entre as partes envolvidas. O documento deve conter a identificação completa de locador e locatário, a descrição minuciosa do imóvel, o prazo da locação – de até 90 dias, podendo ser prorrogável – além de detalhes sobre valores, forma de pagamento, caução, responsabilidades por danos e consumo de serviços, bem como as condições de cancelamento. “Um contrato bem redigido evita ambiguidades e facilita a resolução de conflitos sem necessidade de ação judicial”, ressalta.

Para o locador, a recomendação é exigir caução ou seguro-fiança específico para curtas estadias, o que ajuda a cobrir eventuais danos ou inadimplência. “A transparência é fundamental. Fornecer um inventário detalhado dos bens, realizar vistoria conjunta com registro fotográfico e emitir recibo de caução reforçam a credibilidade e profissionalizam a locação”, explicou Sacha.

Ela observa ainda que as plataformas digitais têm contribuído para a formalização das locações. “Airbnb, Booking e Vrbo integram contratos eletrônicos, histórico de avaliações e mediação de disputas. O modelo de pagamento retido até o check-in e os programas de garantia ao anfitrião tornam a relação mais equilibrada”, analisou. Mesmo assim, ela recomenda firmar um contrato complementar em locações de alto padrão, por exemplo, para incluir cláusulas não previstas nas políticas gerais das plataformas.

Caso o imóvel não corresponda ao anunciado ou apresente problemas durante a estadia, o hóspede tem direito ao reembolso integral e pode buscar indenização por danos morais e materiais. “A principal orientação é documentar toda a comunicação e reunir provas. A formalidade é o que define a força jurídica de qualquer relação de temporada”, conclui a especialista.

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