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Justiça veta cláusula de exclusividade da 99Food com restaurantes para barrar Keeta

Empresa vai recorrer da decisão

Justiça veta cláusula de exclusividade da 99Food com restaurantes para barrar KeetaJustiça veta cláusula de exclusividade da 99Food com restaurantes para barrar Keeta - Foto: 99Food/Divulgação

A Justiça de São Paulo vetou cláusulas de exclusividade impostas pela 99Food a restaurantes parceiros. Os instrumentos oferecem benefícios financeiros, como taxas mais atrativas, aos estabelecimentos conveniados, mas proíbe que os restaurantes operem com outras plataformas de delivery como a Keeta, autora da ação.

A Keeta é um aplicativo de entrega que pertence ao grupo chinês Meituan, e deve iniciar as operações no Brasil até o fim deste ano. Na ação, a empresa argumenta que sofre uma "barreira ilícita" da 99Food no mercado de delivery de comida, "com o objetivo de evitar a livre concorrência e 'banir' a Keeta do mercado".

Para o juiz Fábio Henrique Prado de Toledo, da 3ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), a prática viola os princípios constitucionais de livre concorrência e da isonomia.

Além de determinar a suspensão das cláusulas de exclusividade que barram a Keeta, a decisão ainda proíbe que a 99Food aplique qualquer tipo de penalidade aos restaurantes que tenham a cláusula de exclusividade mas que optem por firmar parcerias com a plataforma concorrente. O magistrado ainda determinou multa de R$ 100 mil caso sejam firmados novos contratos com cláusulas de exclusividade.

"Semiexclusividade"
Controlada pelo também chinês grupo DiDi, gigante global de mobilidade, a 99 retornou ao mercado de delivery de comida neste ano, após deixar o setor em 2023. A retomada começou por Goiânia e São Paulo, e chegou ao Rio de Janeiro no último dia 15.

No evento de lançamento da plataforma no Rio, o diretor-geral da 99 no Brasil, Simeng Wang, explicou que a empresa oferece aos estabelecimentos parceiros contratos com ou sem exclusividade, por até dois anos, com taxas e comissões que variam.

Entenda: Plano ambicioso da Keeta para enfrentar o iFood tem meta de cem mil entregadores no 1º ano

Além disso, há um modelo chamado de "semiexclusivo", no qual o restaurante acessa taxas mais vantajosas, mas continua operando com o iFood, que domina 80% do mercado. No entanto, “escolhe não trabalhar com potenciais novos entrantes”, segundo o executivo. É esse o objeto de questionamento da Keeta.

99Food recorre
A plataforma da Meituan disse em nota que, ao investir no Brasil, "firmou compromisso com o desenvolvimento de um mercado onde todos possam ter mais escolhas", e que, com a decisão, os restaurantes "estão livres para decidir pela plataforma que oferecer o melhor serviço".

Já a 99Food informou que vai recorrer da decisão. Ao Globo, o diretor de Comunicação da 99, Bruno Rossini, argumentou que a conduta da empresa "é legal e está dentro de todas as práticas regulatórias".

— Vamos recorrer não só porque achamos que nosso lado precisa ser bem apreciado mas porque queremos consolidar práticas inovadoras que possam garantir o investimento de longo prazo no Brasil — disse.

A empresa não abre números, mas afirma que "apenas centenas" de restaurantes estão sob as cláusulas de semiexclusividade, o que representa um percentual "muito pequeno" no universo de estabelecimentos cadastrados na plataforma.

O executivo defendeu que os contratos com exclusividade (parcial ou não) são importantes para "romper a inércia" e estimular a concorrência do mercado de entrega de comida no país, que tem 80% das operações dominadas pelo iFood, segundo estimativas do setor.

Questionado se limitar a atuação de concorrentes não é uma conduta contraditória ao que pregam, ele afirmou que a empresa não tem "força" para obrigar os restaurantes a optar pela exclusividade, mas que oferecem opções aos estabelecimentos.

— Estamos protegendo o espaço que conquistamos. Se não fizermos isso, vai ter uma "pancada" de empresa entrando no mercado para disputar os 20% que não são do iFood — avalia Rossini. — Estamos entrando no mercado e precisamos nos manter. (Os dois anos de contrato) são um período curto para conseguirmos nos estabelecer e desenvolver o mercado.

Briga também no Cade
Em paralelo à briga nos tribunais, Keeta e 99Food também travam uma disputa no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que regula a concorrência. A Keeta acusa a 99Food de bloquear sua entrada no mercado de entregas com os contratos de exclusividade, o que chama de “cláusula de banimento”.

Mais recentemente, a Rappi entrou na guerra do delivery, e pediu para fazer parte do processo aberto no Cade, alegando que estaria sendo incluída a proibição de que os estabelecimentos mantenham relação comercial com a Rappi nas cláusulas contratuais com restaurantes feitas pela 99.

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