Mauro Vieira e Marco Rubio discutem tarifaço em reunião à margem do G7
Os chefes da diplomacia dos governos Lula e Trump combinaram de marcar uma nova reunião
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reuniu-se na manhã desta quarta-feira com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em Niágara, no Canadá, à margem da reunião ministerial do G7.
Segundo interlocutores, em uma conversa que levou cerca de cinco minutos, o chanceler reiterou a Rubio a importância de avançar nas negociações, conforme determinação dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.
Durante do encontro, os chefes das diplomacia dos dois países concordaram em agendar uma nova reunião presencial, em data próxima, para discutir o atual estágio das conversas. Também na reunião, Vieira relatou a Rubio os entendimentos mantidos até agora no nível técnico sobre a questão das tarifas e informou que a parte brasileira encaminhou, no último dia 4 de novembro, uma proposta de negociação à parte americana, após reunião virtual entre as equipes.
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Apesar desse movimento diplomático, as negociações para suspender o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros seguem sem avanços concretos. Nem mesmo a recente sinalização de Washington sobre a possibilidade de reduzir “algumas tarifas de importação de café” — mencionada por Trump e reiterada pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent — foi suficiente para destravar o diálogo.
A indicação, porém, foi recebida com otimismo por interlocutores do governo e do setor privado, que viram no gesto um possível alívio para o café brasileiro, embora o país não tenha sido citado nominalmente.
Segundo integrantes do governo Lula, a possível redução das tarifas seria unilateral, parte da estratégia americana para conter a inflação doméstica, pressionada pela alta de preços após o tarifaço.
O tarifaço, que soma uma sobretaxa de 40% a uma tarifa-base de 10%, atinge setores estratégicos da economia brasileira, entre eles aço, alumínio, carne, café, frutas, pescados, máquinas e equipamentos industriais. O plano A do governo brasileiro prevê a suspensão temporária das sobretaxas até a conclusão das negociações para um acordo comercial mais amplo. O plano B propõe ampliar a lista de exceções, começando por produtos que o próprio Trump classificou como “recursos naturais indisponíveis” nos Estados Unidos.
Apesar das restrições comerciais, o clima entre Brasília e Washington melhorou após meses de tensão. O breve cumprimento entre Lula e Trump durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, abriu caminho para uma conversa telefônica e, posteriormente, para o encontro presencial na Malásia — gestos que ajudaram a reduzir a temperatura de uma crise considerada uma das mais sérias em mais de dois séculos de relações diplomáticas entre os dois países.
Enquanto tenta retomar o diálogo comercial, o governo brasileiro também busca a revogação de sanções impostas por Washington a cidadãos brasileiros, entre eles o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e tenta evitar novas punições no âmbito da Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA.
Esse dispositivo permite ao governo americano retaliar países cujas práticas sejam consideradas “injustificáveis ou discriminatórias” contra empresas dos Estados Unidos.
No caso brasileiro, a investigação examina questões como comércio digital, serviços financeiros, tarifas preferenciais, desmatamento ilegal e até o uso do Pix como meio de pagamento instantâneo. Se confirmadas as acusações, novas medidas punitivas poderão ser adotadas, ampliando a tensão bilateral.

