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ECONOMIA

Modo de governar de Trump não tem precedente nos EUA, diz Haddad

Ministro da Fazenda diz que discussões estão muito centralizadas em uma só pessoa na Casa Branca e diz estar tranquilo em relação à renovação do visto

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad O ministro da Fazenda, Fernando Haddad  - Foto: Diogo Zacarias/MF

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou na noite deste domingo a dificuldade de interlocução com o governo americano para discutir o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. Em entrevista ao Canal Livre, da Band, Haddad afirmou que o país segue disposto ao diálogo com os EUA.

- Está muito centralizado numa pessoa só as decisões no governo americano, é um novo modo de governar que não tem precedente naquele país - afirmou, ponderando porém que a ação do empresariado americano no sentido de atenuar o impacto já foi percebida na lista de 694 exceções ao tarifaço a produtos do Brasil.

Indagado sobre a notificação do governo americano a respeito do processo para aplicação da Lei de Reciprocidade, Haddad lembrou que a lei foi aprovada no Congresso com apoio da oposição e da situação. E que agora uma comissão vai analisar o que convém ao Brasil fazer e a melhor oportunidade para colocar a política em prática.

Haddad voltou a lembrar que recebeu um e-mail do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, marcando uma reunião virtual com data e horário e que depois foi cancelada com a justificativa de falta de agenda. O ministro lembrou que no mesmo dia o secretário de Trump encontrou com Eduardo Bolsonaro.

 

De acordo com Haddad, uma expectativa de mudança no relacionamento entre os dois paises pode surgir a partir da divulgação das conversas entre Eduardo Bolsonaro e o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Um dos motivos alegados por Trump para impor a sobretaxa ao país é o julgamento do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado.

- Acredto que depois das revelações da quebra do sigilo... O governo dos EUA vai olhar para aquilo. Pode fingir que não viu. Mas a embaixada vai ter que informar a Casa Branca. (...) O estado vai distensionar - afirmou. - O tempo vai trazer alguma racionalidade - acrescentou.

Visto para os EUA
Indagado se estaria preocupado com o pedido de renovação de visto para os EUA, Haddad disse estar tranquilo por avaliar que se trata de questão protocolar. Ele lembrou que conta com visto como cidadão e visto diplomático. E lembrou que precisa do documento para representar o país na reunião do G20, que ocorrerá nos EUA.

Haddad lembrou que a participação dos EUA como destino de exportações brasileiras caiu nos últimos anos e que o Brasil tem buscado novos parceiros para enfrentar os efeitos do tarifaço.

Juro de 15% ao ano
Perguntado a respeito de sua avaliação sobre o patamar atual da taxa básica de juros, de 15% ao ano, Haddad afirmou que é preciso normalizar a divergência dentro do governo e que isso não significa contestação da autoridade. Destacou ainda que a diretoria do Banco Central conta com 7 de 9 integrantes indicados pelo presidente e que ela vai avaliar qual será o momento adequado para iniciar o ciclo de corte da Selic.

Ele ponderou, porém, que uma taxa de juro real (descontada a inflação) de 10% representa "um peso muito grande" para a economia e citou fatores de preocupação no radar, como deaceleração da atividade e inadimplência.

Correios inspira cuidado
Perguntado sobre a situação das estatais, Haddad afirmou que "a situação dos Correios inspira cuidados". Ele lembrou que a empresa hoje tem "o passaivo de ter que entregar cartas físicas para quem ainda usa esse recurso nas regiões mais remotas do país". O ministro definiu a situação como um problema estrutural e lembrou que os concorrentes da estatal não têm qualquer obrigação de entregar cartas.

- Os concorrentes vão pegando o filé mignon. Ele está tentando se reinventar, hoje a concorrência internacional em relação aos Correios é monstruosa - afirmou, citando marketplaces.

Operação Carbono Neutro
Ao comentar a Operação Carbono Neutro, que investiga os laços econômicos do PCC, Haddad afirma que ela inaugura um novo momento na segurança pública do país.

Haddad afirmou que o resultado da operação foi possível pela cooperação entre instituições federais, Receita e Polícia Federal, além do Ministério Público, que uniram forças para investigar lavagem de dinheiro das fintechs no epicentro do mercado financeiro no país, a região da Faria Lima, em São Paulo.

- A operação chegou no comando do sistema, tanto é que chegou na Faria Lima. Ela inaugurou um novo momento da segurança pública no país - disse Haddad.

Na avaliação do ministro, de acordo com o avanço das investigações, é possível que se chegue a um valor da ordem de centenas de bilhões de reais nos últimos anos.

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