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Juros

O impacto da taxa de juros na rotina e no bolso do consumidor

Do cartão de crédito ao financiamento, especialistas esclarecem os reflexos dos juros nas finanças

Contas públicasContas públicas - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A sociedade brasileira acompanhou nos últimos dias a decisão do Banco Central (BC) de manter  a taxa básica de juros (Selic) no mesmo patamar de 10,50%, após sete reduções consecutivas. 

A medida recebeu críticas do setor produtivo e até do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vem questionando as decisões do Banco Central com relação à taxa de juros e defendendo uma política monetária mais desenvolvimentista. Por outro lado, a instituição defende que "eventuais ajustes futuros" na taxa de juros "serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta". O órgão estabelece que o controle das estimativas de inflação, que está em alta, requer uma "atuação firme" da autoridade monetária.

Com a taxa de juros mantida em 10,50% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o Brasil figura em segundo lugar entre os países com as maiores taxas do mundo, perdendo apenas para a Rússia. De acordo com especialistas, a manutenção da taxa Selic em níveis altos afeta diretamente a renda e o consumo da população.

Produtividade
Em entrevista à Folha de Pernambuco, o economista Sandro Prado explicou que o impacto da manutenção da taxa de juros em um patamar alto para a economia é sentido com mais força no bolso das pessoas que consomem produtos básicos (como é o caso de itens de alimentação). 

De acordo com ele, a alta taxa de juros deixa de lado os investimentos na atividade produtiva, que geralmente são feitos por meio de empréstimos e financiamentos, e torna mais lucrativa a compra de produtos financeiros, como títulos do tesouro, desestimulando o investimento produtivo.

Investimento
Para a população, o impacto é ainda maior, segundo o economista, porque, sem o investimento no setor produtivo para abertura de novos negócios ou equipamentos novos para as empresas, a taxa de desemprego tende a subir e a renda das famílias sofre uma queda, reduzindo o consumo e bloqueando o crescimento econômico do País. 

“Os empresários dependem de financiamentos, empréstimos bancários para investir na atividade produtiva, e com a taxa Selic alta os juros dos financiamentos ficam mais elevados, o que inibe novos investimentos”, afirma.

Cartão de Crédito
Como taxa básica da economia, a Selic também tem impacto nos juros cobrados pelo cartão de crédito e empréstimos feitos pelos bancos. Isso porque, quando a taxa aumenta ou se mantém, como o Banco Central decidiu recentemente, o ajuste dos juros cobrados acompanha o movimento. A economista Lytiene Rodrigues explica que a alta taxa de juros pode ser sentida, principalmente, nos juros cobrados pelo cartão de crédito após o vencimento da fatura, o que resulta em menos dinheiro para custear as demais despesas.

“Se as famílias se endividam significa que elas vão reduzir muito a sua renda disponível porque vão fazer o pagamento de uma taxa de juros mais alta”, alertou a especialista. 

Financiamento
O financiamento de veículos e imóveis também fica afetado tanto pelo aumento dos juros cobrado no parcelamento, quanto pelo consequente encolhimento da renda das famílias. A economista Lytiene Rodrigues citou o exemplo da classe C, que hoje possui uma média de renda entre R$ 3.500 a R$ 5.000, e que, ao somar as despesas mensais obrigatórias, teria dificuldades de lidar com o preço das parcelas praticado neste momento com a taxa de juros elevada. 

“Fica restrito o consumo de certos bens e serviços a um determinado nível de faixa de renda, por exemplo, a A e B, enquanto C,D e E consomem menos”, explica Lytiene Rodrigues, que destacou ainda o impacto direto desta política monetária nas áreas de crédito e financiamento.

“Para as pessoas físicas eleva também os juros do cartão de crédito, do cheque especial, dos financiamentos de bens duráveis, como carro, casa própria, e, sendo mais caro, diminui a compra das famílias, contribui para aumentar o endividamento e a inadimplência”, ressaltou Sandro Prado. 

Lytiene aconselha aos consumidores a esperarem por novas reuniões do Copom do Banco Central  antes de investir na compra de um carro ou imóvel parcelado devido às taxas de juros praticadas no sistema financeiro. 

“Agora não é o momento para os consumidores se endividarem, seja por empréstimo, com cartão de crédito, seja com cheque especial. Então, se está pensando em comprar um carro ou imóvel, segura um pouco, vamos ver se na próxima reunião do Banco Central a gente vai ter uma queda”, aconselhou Lytiene.

Gastos
Além dos efeitos na população, uma taxa de juros elevada faz o gasto do governo aumentar, pois muitos dos investimentos do Estado são oriundos de operações financeiras como os recursos advindos da renda fixa, adquiridos por meio da venda de títulos públicos. 

“O governo está gastando mais dinheiro para fazer investimentos. Em razão da taxa de juros de empréstimo mais elevada, os financiamentos ficam mais elevados porque a taxa média da economia é muito focada na taxa de juros”, afirma.

Preços
Na vida da população, a preocupação com a alta dos preços é uma constante. No caso da dona de casa Márcia Silva, de 50 anos, a compra de itens básicos da feira mensal acabou sendo afetada. A alta nos preços dos produtos a fez criar estratégias para substituir alimentos por opções mais baratas.

“Quando eu sinto que tem um aumento nos produtos eu já troco por outros ou reduzo. O arroz mesmo está aumentando, todo mês quando eu vou, tem um aumento. Eu reduzo, em vez de comprar oito quilos, compro só seis e compro mais macarrão que é pra complementar o arroz”, declarou a consumidora. 

O comerciante Samuel José, dono de uma bomboniere na Região Meteropolitana do Recife, afirmou que também tem sentido a alta dos preços na hora de repor o estoque de produtos, mas relevou que, para manter um preço mais baixo para os clientes, utiliza de estratégias. 

“Na hora da compra a gente pede desconto, penchincha, mas quando não tem jeito a gente tem que aumentar”, explicou. 

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