Sáb, 06 de Dezembro

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UE se prepara para intensificar diálogo com países afetados pelas tarifas de Trump

Presidente da Comissão Europeia planeja conversar ainda hoje com o primeiro-ministro canadense

Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen,Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, - Foto: Sergei Supinsky / AFP

A União Europeia está se preparando para intensificar o engajamento com outros países afetados pelas tarifas do presidente Donald Trump, após uma série de novas ameaças ao bloco e a outros parceiros comerciais dos EUA.

Embora o contato regular com outros países, especialmente entre os membros do Grupo dos Sete (G7, que reúne as nações mais ricas do mundo), seja comum, o risco de guerras comerciais mais amplas trouxe “um novo senso de urgência”, disse o principal negociador comercial da UE, Maros Sefcovic, a repórteres nesta segunda-feira, ao chegar a uma reunião de ministros do comércio.

Os contatos com nações como Canadá e Japão podem incluir uma possível coordenação, informou anteriormente a Bloomberg News. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, planeja conversar ainda nesta segunda-feira com o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, segundo um funcionário da UE.

Essa iniciativa acontece enquanto as negociações comerciais entre Canadá, UE e EUA se arrastam, permanecendo travadas em várias questões que vão desde automóveis até agricultura.

Com tarifas punitivas prestes a entrar em vigor em apenas duas semanas — e poucos países conseguindo assinar um acordo com Trump —, alguns aliados econômicos dos EUA estão repensando sua dependência histórica de barreiras comerciais baixas com a maior economia do mundo.

— Precisamos explorar até onde e quão profundamente podemos avançar na área do Pacífico com outros países — disse a comissária europeia de concorrência Teresa Ribera à Bloomberg TV nesta segunda-feira, de Pequim, onde participa de reuniões com autoridades chinesas focadas em clima.

Ela destacou as negociações comerciais em curso entre a UE e a Índia, que devem ser concluídas até o final do ano.

Aproximação com Indonésia
O caso mais consequente é o da União Europeia. O bloco está engajado em negociações com Washington, ao mesmo tempo em que avança em tratativas bilaterais já existentes e avalia novas estratégias que estejam alinhadas com o sistema global de comércio baseado em regras — sistema que Trump prometeu reformular por meio de medidas unilaterais, incluindo tarifas destinadas a beneficiar os EUA.

— Dou meu apoio à Comissão em seus esforços para formar parcerias globais, alianças com outros países ameaçados pelas tarifas dos EUA — disse o ministro do Comércio da Áustria, Wolfgang Hattmannsdorfer, a repórteres nesta segunda-feira. —Juntos podemos aumentar a pressão exercida sobre os EUA.

No fim de semana, a UE chegou a um acordo econômico provisório com a Indonésia — um país que enfrenta uma tarifa de 32% imposta pelos EUA, apesar de negociações em andamento com Washington para reduzir essa taxa.

O presidente indonésio, Prabowo Subianto, chamou o desfecho com a UE de um “avanço” após dez anos de negociações comerciais e espera retornar a Bruxelas para a assinatura formal do acordo, conhecido como Acordo de Parceria Econômica Abrangente (Comprehensive Economic Partnership Agreement).

'Governo imprevisível'
Um funcionário canadense afirmou na semana passada que mais coordenação é necessária diante de “um governo american altamente imprevisível”.

— Estamos tentando garantir que, à medida que os EUA se enfraquecem, nós nos tornemos mais fortes, que possamos diversificar e nos voltar para a Europa — disse a ministra da Indústria do Canadá, Mélanie Joly, a repórteres na sexta-feira em Ottawa. — Precisamos ter certeza de que estamos em modo de ação, em modo de solução com outros países, porque não estamos sozinhos.

Para Trump — que alertou grupos como o Brics contra a formação de alianças contrárias aos interesses dos EUA — o risco é que a realocação comercial que ele tenta promover acabe afastando investimentos e forçando os países a se unirem entre si — uma fragmentação que pode beneficiar a China.

— Teremos que procurar outros parceiros para comprar nossos produtos — disse o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, depois que Trump ameaçou o país com uma tarifa de 50% sobre suas exportações para os EUA, por uma razão não relacionada ao comércio.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.

Contramedidas em estudo
Von der Leyen sinalizou no fim de semana que as negociações ainda são o caminho preferido, afirmando que o bloco de 27 nações estenderá até 1º de agosto a suspensão das medidas de retaliação comercial contra os EUA em reação às taxas setorias impostas pelos americanos a produtos como aço e alumínio.

Essas medidas haviam sido adotadas, foram suspensas e estavam programadas para voltar a vigorar à meia-noite desta terça-feira.

— Ao mesmo tempo, continuaremos a preparar novas contramedidas para estarmos totalmente preparados — disse von der Leyen a repórteres em Bruxelas no domingo, reiterando a preferência da UE por uma “solução negociada”.

A lista atual de contramedidas atingiria cerca de € 21 bilhões (US$ 24,5 bilhões, equivalente a R$ 136,8 bilhões) em produtos dos EUA, enquanto a UE já tem outra lista pronta que totaliza cerca de € 72 bilhões, além de alguns controles de exportação, que serão apresentados aos Estados-membros já nesta segunda-feira, segundo fontes.

Von der Leyen também afirmou que o instrumento anticoerção da UE — a ferramenta comercial mais poderosa do bloco — não será utilizado neste momento.

— O ACI foi criado para situações extraordinárias. Ainda não chegamos a esse ponto — disse ela.

Em uma publicação nas redes sociais respondendo ao anúncio de Trump, o presidente francês Emmanuel Macron pediu a aceleração dos preparativos para contramedidas críveis, incluindo o uso do instrumento anti-coerção, caso nenhum acordo seja alcançado até 1º de agosto.

O chanceler alemão Friedrich Merz afirmou no domingo à noite que tarifas de 30% atingiriam “no cerne” os exportadores da maior economia da Europa, caso não se encontre uma solução negociada para o conflito comercial.

A tarifa proposta de 30%, somada às taxas setoriais já existentes e a uma esperada cobrança sobre bens críticos, elevaria o aumento da tarifa efetiva dos EUA sobre produtos da UE em 26 pontos percentuais, escreveram economistas do Goldman Sachs Group, incluindo Sven Jari Stehn, em uma nota. Se implementada e mantida, essa medida reduziria o PIB da zona do euro em 1,2% até o fim de 2026, sendo que a maior parte do impacto ainda estaria por vir.

Trump enviou cartas a vários parceiros comerciais, ajustando os níveis tarifários propostos em abril e convidando-os para novas negociações. Em uma carta publicada no sábado, o presidente dos EUA advertiu a UE de que enfrentará uma tarifa de 30% a partir do próximo mês, caso não sejam negociados termos mais favoráveis.

A UE buscava concluir um acordo preliminar com os EUA para evitar o aumento das tarifas, mas a carta de Trump frustrou o recente otimismo em Bruxelas quanto à possibilidade de um acordo de última hora. Outros países, como o México, que também estão negociando com os EUA, ficaram surpresos ao receber cartas semelhantes.

O principal negociador de Bruxelas, Maros Sefcovic, afirmou que conversará com seus homólogos americanos ainda nesta segunda-feira.

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