Sáb, 20 de Dezembro

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Esportes

Atletismo tenta recuperar imagem após seguidos escândalos

Primeiro esporte olímpico parece estar sobrevivendo em meio a casos de doping e corrupção, mas caminho é longo

Mundial de Londres 2017 teve público satisfatórioMundial de Londres 2017 teve público satisfatório - Foto: Andrej Isakovic/AFP

Dois anos depois do vasto escândalo de doping e corrupção no esporte da Rússia, o atletismo tenta virar a página com reformas impulsionadas pelo presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Sebastian Coe, e pressão máxima sobre o país, cujos atletas continuam suspensos.

Com 720 mil espectadores nos dez dias do Mundial de Londres e 250 mil no Mundial Sub-18 de Nairóbi, o primeiro esporte olímpico parece não estar sobrevivendo bem após os escândalos de doping institucionalizado na Rússia, em 2015, e denúncias de sistema de corrupção na IAAF.

"Somos fortes. O público não deu as costas para o atletismo", declarou Coe à AFP em outubro. Apesar da confiança, ele sabe que é preciso muito trabalho para reconquistar a credibilidade de uma federação com tal retrospecto.

A marca de material esportivo alemã Adidas rompeu compromisso com a IAAF antes do previsto, por conta do escândalo russo. Em seu lugar, assumiu a marca japonesa Asics. Antigo bicampeão olímpico dos 1500 metros e ex-deputado do partido conservador (1992-1997), Coe reagiu rapidamente, com reformas para acalmar os ânimos e tranquilizar os demais patrocinadores.

Em 2016, a IAAF aprovou a criação de uma unidade independente que se encarrega de doping e da integridade dos atletas (AIU), atribuindo responsabilidade para os controles e as investigações dos atletas de nível internacional. Uma ferramenta "que nenhum outro esporte possui", destacou Coe.

Reintegração em novembro
A AIU atuou pela primeira vez no Mundial de Londres, em agosto: 1.513 amostras de sangue e urina foram recolhidas antes e depois das provas. Nos 10 meses que antecederam as competições, mais de dois mil testes sanguíneos e três mil amostras de urina foram realizadas fora de competição, segundo dados oficiais.

A estratégia para reconduzir o caso da Rússia, suspensa de todas as competições internacionais desde novembro de 2015, se baseia em um princípio similar. Colocou-se em marcha uma força-tarefa independente para avaliar os progressos do país na luta contra o doping.

O próximo relatório desta força-tarefa vai ser feito neste mês, em Monaco, pelo conselho mundial da IAAF, que avaliará se as medidas tomadas pelos russos são suficientes para a reintegração do país às competições.

"Não sei quando a Rússia será reintegrada. O que sei é que existem coisas que devolveram minha confiança nos últimos meses. Fizeram progressos no caminho para cumprir os critérios", explicou Coe à AFP, lembrando o pedido de desculpas do novo presidente da Federação Russa, Dmitry Shlyakhtin, durante congresso da IAAF no final de agosto.

Clima viciado
Apesar de todos os esforços, o clima parece viciado. Pelo menos é o que indicam as últimas revelações sobre Sergueï Bubka, vice-presidente da IAAF, que é suspeito de ter feito transferências a um dos principais protagonistas do escândalo de corrupção na nomeação dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Outro indício é a suspensão provisória decretada pela AIU ao ex-velocista Frankie Fredericks como membro do conselho mundial da IAAF, também por suposta corrupção.

O sucesso popular do último Mundial também não pode ocultar a imagem desastrosa deixada após a vitória de Justin Gatlin nos 100 metros rasos. O americano foi suspenso duas vezes por doping, antes de protagonizar retorno controverso e vitorioso às pistas.

Questionado pelo público, Gatlin jogou água no chope da homenagem prevista à lenda jamaicana Usain Bolt. Diante de tudo isso, Sebastian Coe reconhece: "a confiança no atletismo não vai retornar em uma noite".

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