Sáb, 20 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Esportes

Número de brasileiros cai, mas NBA só cresce no Brasil

Edição da NBA 2018/19 terá apenas três brasileiros. Em contrapartida, transmissões e a própria marca despontam

NenêNenê - Foto: AFP

Nenê Hilário, pivô do Houston Rockets, Cristiano Felício, pivô do Chicago Bulls e Raulzinho, armador do Utah Jazz. Esse é o trio que defende a bandeira brasileira na temporada 2018/19 da NBA, iniciada na última terça-feira. Para quem já teve nove representantes disputando uma só edição maior liga de basquete do mundo, o número é diminuto - o menor desde as edições de 2008/09 e 2009/10, quando apenas Nenê, Leandrinho e Anderson Varejão atuaram. O curioso é que essa queda de representantes acontece justamente em um período de enorme crescimento da NBA entre os brasileiros. Desde 2012, quando foi instalado o escritório da liga no País, a marca só apresenta índices positivos.

Um estudo com 45 indicadores, como acordos de mídia, audiência e venda de produtos, por exemplo, aponta o escritório nacional como o segundo mais influente no mundo, atrás somente da China. Dados de uma pesquisa recente do Ibope/Repucom, indicam que o Brasil tem mais de 31 milhões de fãs de basquete e, entre os chamados ‘superfãs’ da modalidade, 83% declararam sua paixão pela NBA. “Tivemos mais de 300 partidas ao vivo na TV na última temporada e devemos aumentar entre 20% e 30% para este ano, além da oferta de conteúdo e jogos pelo aplicativo League Pass”, diz no Head da NBA no Brasil, Rodrigo Vicentini.

Essa “contradição” está relacionada a vários fatores. Em um breve retrospecto, é possível ver que as caras nacionais nas últimas edições da liga vinham se repetindo. E é preciso considerar o envelhecimento dessa geração, que teve protagonistas em algumas franquias, como Tiago Splitter, Anderson Varejão e Leandrinho. “Essa geração envelheceu, começou a sofrer com lesões e caiu de produção”, pontua o ex-jogador e comentarista da ESPN, Eduardo Agra. Além disso, a globalização da marca NBA gerou um aumento no número de atletas desejando ingressar na liga, o que deixa as peneiras cada vez mais refinadas.

Leia também:
[Vídeo] NBA: confira no Folha em Campo as projeções para temporada
NBA começa temporada com mais de 100 jogadores estrangeiros
NBA traz clínica para técnicos ao Brasil pela primeira vez
Flamengo jogará amistoso na pré-temporada da NBA

Desde a temporada 2016/17, o número de estrangeiros na liga deu um salto, ultrapassando a marca de 110 atletas de mais de 40 diferentes países. No último draft, dois dos mais cobiçados jovens, inclusive, eram de fora dos Estados Unidos: DeAndre Ayton, das Bahamas, selecionado na primeira escolha pelo Phoenix Suns, e Luka Doncic, da Eslovênia, escolhido na terceira rodada pelo Atlanta Hawks. Nesse contexto de aumento de oferta, ser selecionado e, principalmente, se firmar em uma franquia ficou mais difícil.

Os brasileiros acabam levando desvantagem nessa concorrência. “Bruno Caboclo e Lucas Bebê, por exemplo, foram muito jovens para a NBA. E um jovem brasileiro é diferente de um jovem americano ou de um jovem que joga na Europa, pois eles têm mais rodagem em quadra. Os nossos jogadores estão chegando muito novos na NBA, com pouca bagagem, o que dificulta a adaptação. Tem uma safra de bons jogadores vindo, até para jogar internacionalmente, mas não estão no nível da NBA”, explica Agra.

Esse hiato entre gerações tem a ver com a estagnação de mais de uma década do basquete brasileiro, maior vítima das recentes gestões conflituosas da Confederação Brasileira, que chegou a ser suspensa pela Federação Internacional (Fiba). “Vemos uma vontade maior nessa gestão de agora e esperamos que dê certo. Torcemos para a CBB e também a LNB, que está consolidando o NBB, consigam reerguer a modalidade. A NBA por si só cresceu muito e a gente torce para que isso dê um respaldo. Vemos que está tendo uma boa adesão”, diz Agra.

   Feminino

A situação das brasileiras é ainda pior. O País já chegou a ter oito representantes em uma única edição da WNBA, em 2002, ano em que Érika foi campeã com o Los Angeles Sparks. Depois, a própria Érika fez sucesso no Atlanta Dream, com três convocações para o All-Star Game. Já Janeth Arcain foi tetracampeã com o extinto Houston Comets. Nos últimos anos, passaram pela Terra do Tio Sam Iziane Castro, Clarissa dos Santos, Nádia Colhado, entre outros talentos. Na WNBA 2018, contudo, o Brasil foi representado somente pela pivô Damiris Dantas, no Atlanta Dream.

   Auxílio de luxo

A presença forte da marca NBA no Brasil, além de naturalmente atrair mais visibilidade para o esporte, pode contribuir no processo de recuperação da modalidade no País. No final de 2014, a Liga Nacional de Basquete (LNB), responsável pelo NBB (Novo Basquete Brasil) e outros campeonatos nacionais, fechou parceria com a NBA visando popularizar o esporte como produto, tendo o auxílio da Confederação Brasileira (CBB). A princípio, era uma ajuda no âmbito comercial. Mas o trabalho expandiu e abrangeu outras áreas, como capacitação de atletas, técnicos, árbitros, entre outros profissionais.

Em agosto deste ano, Raulzinho promoveu camping em São Paulo com quase 70 jovens. Além dele, participou ainda Rudy Gobert, também do Utah Jazz, eleito ‘Jogador de Defesa do Ano da NBA’ em 2018. Antes, já havia acontecido uma clínica com técnicos do Sacramento Kings e do Denver Nuggets. Fora intercâmbios com times da liga jogando no Brasil e times nacionais participando da pré-temporada nos EUA. “Ter o basquete local forte é importante para o crescimento da modalidade em todos os sentidos”, destaca o Head da NBA no Brasil, Rodrigo Vicentini.

Outro braço do trabalho da NBA no País é a plataforma Júnior NBA League, consolidada em mais de 30 países e com duas edições já realizadas no Brasil. Reúne mais de 600 jovens com idade entre 8 e 16 anos em uma liga entre escolas públicas e privadas e projetos que difundem o basquete. Os times recebem os nomes das franquias da NBA e da WNBA e a disputa segue o modelo de disputa da liga, com temporada regular e playoffs, além de um evento no estilo All-Star Weekend.

Na ponta da agulha, está ainda a NBA Basketball School, plataforma lançada no final de setembro e que espalhará núcleos de escolinhas e centros de treinamento pelo País. Quarenta e oito clubes, associações e/ou projetos sociais manifestaram intenção em obter a licença, que consta de um livro de 700 páginas com as diretrizes da NBA, mas, inicialmente, apenas 20 serão autorizadas a implementar o método. Os professores receberão capacitação e serão acompanhados pelos representantes da plataforma junto à liga. A licença custa R$ 9 mil para uma temporada, enquanto a mensalidade gira em torno de R$ 1 mil. 

“A força da marca NBA pode ajudar a resgatar o basquete brasileiro. Mas só funciona se todos atuarem em suas áreas. Se os clubes potencializarem as equipes, se as federações promoverem campeonatos e as confederações tiverem um trabalho legal nas categorias de base e nas seleções. Por mais que o atleta treine, ter ritmo de jogo é diferente. Ele precisar viver situações de jogo para encorpar e isso só é possível competindo. Precisa ter um bom calendário de competições estaduais e nacionais”, pontua o técnico pernambucano campeão brasileiro, Roberto Dornelas.

 

Veja também

Newsletter