Sáb, 06 de Dezembro

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Frente a Trump, Brics rejeita o protecionismo

O presidente chinês, Xi Jinping, instou o bloco a "resistir a qualquer forma de protecionismo"

O presidente dos EUA, Donald Trump.O presidente dos EUA, Donald Trump. - Foto: Mandel Ngan / AFP

Os líderes do Brics rejeitaram o protecionismo em uma reunião virtual nesta segunda-feira (8), em meio à ofensiva comercial lançada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs tarifas punitivas a produtos de vários países do grupo.

Convocada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando o Brasil exerce a presidência das economias emergentes neste ano, a videoconferência foi marcada para demonstrar unidade frente às políticas do Estados Unidos.

O presidente chinês, Xi Jinping, instou o bloco a "resistir a qualquer forma de protecionismo".

"Devemos defender o sistema multilateral de comércio, com a Organização Mundial do Comércio como eixo central, e resistir a qualquer forma de protecionismo", disse Xi a Lula e seus colegas russo Vladimir Putin, sul-africano Cyril Ramaphosa, entre outros.

A China é a principal potência dominante dentro do Brics, bloco de onze países que representa quase metade da população mundial e 40% do PIB do planeta.

Pequim mantém delicadas negociações com os Estados Unidos, depois que as duas principais potências mundiais se envolveram em uma acirrada guerra comercial, cada uma em resposta aos aumentos tarifários da outra.

"Chantagem tarifária" 
Lula, que chamou Trump de "imperador" por sua política tarifária, afirmou que os países do Brics são "vítimas" de práticas comerciais "injustificadas e ilegais".

"A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas", afirmou Lula.

Trump impôs tarifas punitivas a produtos do Brasil, argumentando que há uma "caça às bruxas" contra seu aliado Jair Bolsonaro (PL), julgado por uma suposta trama golpista.

O Supremo Tribunal Federal decidirá esta semana se o ex-presidente tentou dar um golpe de Estado após perder as eleições em 2022 para Lula.

Trump contra o Brics 
Em paralelo, Washington castigou severamente a Índia por comprar petróleo da Rússia. Produtos de ambos os países devem pagar 50% de tarifas alfandegárias para entrar nos Estados Unidos.

"Aumentar as barreiras e complicar as transações não adiantará nada. Tampouco serviria vincular as medidas comerciais a questões não comerciais", disse na videoconferência o chanceler indiano, Subrahmanyam Jaishankar.

O sul-africano Ramaphosa criticou um ambiente cada vez mais protecionista, fruto de medidas tarifárias unilaterais, que "representam grandes dificuldades e perigos para os países do Sul Global".

Trump já havia se voltado contra o Brics em julho, durante uma cúpula no Rio de Janeiro, quando ameaçou impor novas tarifas a "qualquer país que se aliasse" ao grupo.

Nesta segunda-feira, os líderes do bloco também coordenaram sua participação em eventos de 2025, como a Assembleia Geral da ONU, no final do mês, a conferência climática COP30 em Belém (Pará), em novembro, mesmo mês da cúpula do G20 na África do Sul. Trump já anunciou que não comparecerá a esta última.

A lista de parceiros do Brics foi ampliada para incluir Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, incorporados ao grupo fundado em 2009 para fortalecer o chamado "Sul Global".

"Fator de tensão" 
A escalada entre os Estados Unidos e a Venezuela também foi abordada por Lula em seu discurso.

A Marinha americana posicionou vários navios no Mar do Caribe para combater o narcotráfico, após Washington acusar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de liderar um cartel de drogas e oferecer uma recompensa de 50 milhões de dólares (271 milhões de reais) por sua captura.

Pouco depois, Trump afirmou ter destruído uma embarcação que supostamente pertencia ao grupo criminoso venezuelano Tren de Aragua e que transportava drogas da Venezuela. No ataque, morreram "11 terroristas", disse ele.

"A presença de forças armadas da maior potência do mundo no Mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região", disse Lula nesta segunda-feira.

Maduro denunciou a presença militar como a maior ameaça ao continente "nos últimos 100 anos".

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