77ª reunião da SBPC: projetos unem ciência, tecnologia e criatividade
De jogos educativos a robôs de inteligência artificial, a feira exibe iniciativas que, além de inovadoras, ajudam a democratizar o acesso ao conhecimento científico
A 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no bairro de Dois Irmãos, no Recife, tem atraído olhares não apenas pelas discussões acadêmicas. O encontro também tem chamado a atenção pela criatividade de projetos que traduzem ciência e tecnologia em soluções práticas para o dia a dia e lúdicas para a disseminação de conhecimento sobre ciência.
De jogos educativos a robôs de inteligência artificial, a feira exibe iniciativas que, além de inovadoras, ajudam a democratizar o acesso ao conhecimento científico.
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Super SUS
Um dos destaques do evento é o Super SUS, um jogo para celular criado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que ensina de forma lúdica os princípios do Sistema Único de Saúde. O projeto reúne designers, desenvolvedores e pesquisadores da Fiocruz com o objetivo de simplificar conceitos de saúde pública e formar defensores do SUS entre os jovens.
“Cada fase do jogo representa uma ação do SUS. Tem transplante de órgãos, vacinação, vigilância sanitária e epidemiológica. A gente faz ações nas escolas para os jogadores o conhecerem e, a partir do jogo, desenvolvemos o conhecimento deles em torno do sistema”, explicou Ingrid França, pesquisadora e comunicadora da Fiocruz.
O app está disponível para download tanto na Play Store, do sistema Android, quanto na App Store, do iOS.
"Passa ou repassa"
Também com foco educativo, mas no campo da engenharia, a equipe de Elâne Silva, de 22 anos, e Débora Fernanda, 39, estudantes da Universidade Acadêmica de Belo Jardim, da UFRPE, apresentou um “passa ou repassa” eletrônico inspirado em Alice no País das Maravilhas.
“O passa ou repassa personalizado tem como objetivo fazer perguntas da engenharia também envolvendo mulheres. A gente fez ele totalmente eletrônico, com componentes de nível industrial, mas de forma mais simples, para mostrar o quão bacana é a engenharia de controle e automação”, contou.
O projeto integra o programa Meninas na Ciência, que incentiva meninas a ingressarem nas engenharias.
Ainda no universo dos jogos, o Ciclo do Poder, também da Fiocruz, aborda um tema considerado tabu: a menstruação.
“A gente achou que seria uma forma de estimular o diálogo sobre menstruação e trazer isso para o máximo de pessoas possíveis”, afirmou Tânia Zaverucha do Valle, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz.
O projeto já tem financiamento para produzir cópias e distribuí-las em escolas e unidades básicas de saúde do estado do Rio de Janeiro.
Para o agronegócio, uma aposta tecnológica desenvolvida por alunos da Universidade Federal de Goiás apresenta um cachorro robô programado para ajudar os agrônomos no controle de pragas.
“Ele vai na lavoura, procura pragas e monitora o crescimento das plantas. Em vez do agrônomo ter que olhar a lavoura inteira, planta por planta, o robô automatiza esse processo com inteligência artificial e o agronômo apenas audita o material produzido por ele”, explicou Mateus Nery, de 18 anos, um dos responsáveis pelo desenvolvimento.
Cultura em destaque na SBPC
A cultura também tem espaço na SBPC. A pesquisadora Leda Sampson, do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), apresentou o Cordel dos Cientistas Brasileiros Notórios, que transforma a trajetória de nomes como Paulo Freire, Nise da Silveira e Berta Lutz em literatura de cordel.
“A gente percebeu que é uma forma muito legal de aproximar a figura do cientista da população e de tornar o consumo de ciência também divertido”, afirmou.
Novo pluviômetro
Outro destaque é um novo pluviômetro automático desenvolvido pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) para atuar na prevenção de desastres de uma forma mais moderna e assertiva.
"Em 2012 a gente adquiriu 3 mil pluviômetros para realizar esse monitoramento, porém são equipamentos que demandam muitos recursos para manutenção, e a logística para manutenção no país continental como o nosso não é fácil, além de ser muito caro. Faz com que o equipamento tenha períodos indisponíveis, o que atrapalha a própria operação do órgão", iniciou Marisa Pulice Mascarenhas.
"Então, a gente tomou isso como um problema a ser enfrentado e desenvolveu um protótipo eficiente, autônomo e viável economicamente. A partir de 2025, ele será instalado em mais 750 municípios, inclusive em Pernambuco, onde instalaremos esses equipamentos em mais 53 municípios do estado até 2026”, explicou.
Ministra destaca importância de projetos
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou a importância da criação de projetos lúdicos, como os apresentados no evento, para a disseminação da informação sobre a ciência e tecnologia.
“Nós temos um grande desafio que é virar a página do negacionismo e, ao mesmo tempo, estimular o conhecimento. É a curiosidade, a criatividade e nada melhor do que uma exposição dessa, do saber, do fazer científico. Diversas unidades de pesquisa explicam o quanto a ciência está presente no dia a dia da vida das pessoas", frisou a ministra.
"Eu acho essa exposição sempre um caso de sucesso, é tanto que vem uma meninada, porque a curiosidade e o conhecimento explicam fenômenos, e isso dá uma noção da verdadeira liberdade, que é você explicar o fenômeno e interferir nele para transformar a realidade para melhor”, destacou.






