Caso Aldeia: Jussara agiu em legítima defesa, diz o advogado de defesa à entrada do julgamento
Julgamento da farmacêutica acusada de matar e esquartejar o marido começou nesta segunda-feira em Camaragibe
Acusada de matar e esquartejar o marido, o médico cardiologista Denirson Paes, a farmacêutica Jussara Rodrigues da Silva Paes "agiu em legítima defesa" segundo o advogado da ré, Rafael Nunes. O julgamento de Jussara começou nesta segunda-feira (4) no Fórum de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife.
"Ela ocultou o cadáver de forma reprovável, é verdade, mas agiu em legítima defesa. Se, na manhã de dia 31 de maio do ano passado, Jussara não tivesse se defendido de Denirson, hoje ela se limitaria a um número, a uma estatística de feminicídio", afirmou o advogado, à entrada do fórum.
"Ele [Denirson] era cruel, dissimulado. Para os pacientes e amigos, era amado, tudo de bom", afirmou o advogado, citando que a empregada doméstica - uma das cinco testemunhas de acusação - "idolatrava ele". Segundo Rafael Nunes, o cardiologista "muitas vezes obrigou Jussara a ter relação sexual com ele, batia e colocava ela pra fora do quarto, e ela ia dormir com os filhos". "Ele nunca deu um beijo em Jussara na frente de ninguém. Era opressor, limitador, era dissimulado. Isso não justifica, mas explica o fato dela ter agido em legítima defesa. Ele não merecia, mas ali não existia mais vida".
Além da empregada doméstica, são também testemunhas de acusação contra Jussara o filho caçula dela e do médico cardiologista, Daniel Paes; o policial civil Arlan Dourado Gomes da Silva, que participou das investigações; e os peritos do Instituto de Criminalística Diogo Henrique Leal de Oliveira Costa e Fernando Henrique Leal Benevides.
O julgamento, que tem o conselho de sentença formado por cinco mulheres e dois homens, tem previsão de durar quatro dias. A dinâmica da sessão prevê considerações da acusação e defesa; ouvidas das testemunhas e acusação e da ré; votação e veredicto, dado pela juíza Marília Falcone, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Camaragibe. Não haverá testemunha de defesa.
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Relembre o caso
O cadáver do médico cardiologista Denirson Paes foi encontrado em 4 de julho de 2018 dentro de uma cacimba da casa onde morava, no condomínio de luxo Torquato de Castro I, localizado no km 13 da Estrada de Aldeia, em Camaragibe, Região Metropolitana do Recife. O desaparecimento do médico vinha sendo investigado desde o início de junho.
Em um Boletim de Ocorrência registrado em 20 de junho sobre o desaparecimento do marido, a farmacêutica Jussara Rodrigues Silva Paes alegava que a vítima teria viajado para fora do País e que não teria retornado desde então. A delegada Carmem Lúcia, de Camaragibe, desconfiou do envolvimento dos familiares e solicitou um mandado de busca e apreensão no condomínio em que eles moravam.
Na busca policial, realizada em 4 de julho, foram encontrados os primeiros restos mortais do médico na cacimba da residência. Para a polícia, havia indícios suficientes da participação de mãe e filho na ocultação do corpo de Denirson, Danilo. Em 5 de julho, Jussara e Danilo foram presos temporariamente suspeitos de ocultação de cadáver.
Danilo foi encaminhado para o Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everaldo Luna (Cotel), em Abreu e Lima. Jussara foi levada para a Colônia Penal Feminina do Recife. Em 20 de agosto, um laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou asfixia por esganadura como a causa da morte do cardiologista. Os três pedidos de habeas corpus feitos pela defesa de Jussara. Em dezembro passado, Danilo recebeu habeas corpus, obtendo liberdade.

