Centrífugas em Fordow "não estão mais operacionais", diz chefe da agência nuclear da ONU
Rafael Grossi disse a uma rádio francesa que "não há como escapar de danos físicos significativos" após o bombardeio dos EUA sobre a instalação
As centrífugas da usina de enriquecimento de urânio de Fordow, no Irã, “não estão mais operacionais” depois que os Estados Unidos atacaram a instalação com bombas antibunker, afirmou nesta quinta-feira Rafael Grossi, diretor-geral da agência nuclear da ONU, em entrevista a uma rádio francesa.
Os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não conseguiram acessar os locais nucleares desde os bombardeios. Mas Grossi declarou à Radio France Internationale que, embora seja difícil avaliar os danos apenas com imagens de satélite, o poder das bombas lançadas e as características técnicas da instalação fazem com que já seja possível dizer que “essas centrífugas não estão mais operacionais”.
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As centrífugas — máquinas giratórias usadas para enriquecer urânio — exigem alta precisão e são vulneráveis a vibrações intensas, explicou Grossi, acrescentando não ser possível “escapar de danos físicos significativos”. Ele afirmou, porém, que é “exagero” afirmar que o programa nuclear iraniano foi “aniquilado” após os bombardeios dos Estados Unidos e de Israel, observando que nem todos os locais nucleares foram atingidos no Irã — e que autoridades do país disseram que tomariam “medidas de proteção” para o urânio já enriquecido.
As declarações de Grossi, diretor-geral da AIEA, surgem em meio a questionamentos sobre a eficácia dos ataques americanos contra os locais nucleares iranianos. O presidente americano, Donald Trump, tem insistido que o bombardeio “aniquilou” a instalação de Fordow — posição que alguns membros de sua administração continuam defendendo, mesmo após o vazamento de um relatório de inteligência preliminar e confidencial dos EUA, segundo o qual os ataques teriam atrasado o programa nuclear iraniano em apenas alguns meses.
Nesta quinta-feira, o secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, e o general Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto, ofereceram mais detalhes sobre o planejamento e a execução dos ataques americanos. Mas não apresentaram novas avaliações sobre os danos causados ou sobre o estado do programa nuclear iraniano. E, na entrevista à rádio francesa, Grossi se recusou a estimar em quanto tempo o programa nuclear iraniano teria sido atrasado pelos ataques:
— Talvez décadas, dependendo do tipo de atividade ou objetivo — disse ele, ecoando comentários feitos por Trump nesta semana durante uma cúpula da Otan. — É verdade que, com essas capacidades reduzidas, será muito mais difícil para o Irã continuar no mesmo ritmo de antes.
Um dos principais objetivos da AIEA é monitorar a atividade nuclear na República Islâmica e em outros países, inclusive aqueles que assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Mas as relações entre a agência e o Irã já estavam em baixa mesmo antes de Israel atacar o país.
Os inspetores da agência permaneceram no território iraniano durante a guerra, mas não conseguiram acesso às instalações nucleares devido aos combates. E não está claro quando — ou mesmo se — eles poderão retornar agora que um cessar-fogo está em vigor.
O Parlamento iraniano, dominado por linhas-duras, votou na quarta-feira a favor de um projeto de lei para suspender a cooperação com a agência e proibir a entrada de seus inspetores no país. Embora o projeto ainda precise da aprovação de uma instância superior iraniana para entrar em vigor, sua aprovação foi vista por analistas e autoridades como um gesto de desafio por parte de Teerã.
Mas, como signatário do Tratado de Não Proliferação, observou Grossi na entrevista, o Irã é “obrigado a ter um sistema de inspeções”. Ele instou as autoridades iranianas a não “rejeitarem unilateralmente” as inspeções, “porque, caso contrário, estaremos à beira de outra grande crise”.
Grossi, que classificou como “limitada” a cooperação do Irã com a AIEA antes da guerra, disse que entrou em contato com o ministro das Relações Exteriores iraniano para discutir o retorno dos inspetores da agência aos locais nucleares do país, mas ainda não recebeu resposta.

