Efeito sexta-feira: por que pessoas que fazem cirurgias antes do fim de semana têm mais complicações
Estudo encontrou um risco 5% maior de complicações, readmissões e óbitos entre aqueles operados na sexta-feira em comparação com os que foram submetidos aos procedimentos na segunda
Pesquisadores americanos e canadenses analisaram dados de quase 430 mil pacientes e apontaram que aqueles submetidos a uma cirurgia na sexta-feira tiveram um risco 5% maior de complicações, readmissão e morte do que os operados após o final de semana, na segunda-feira.
Os achados foram publicados na revista científica JAMA Network Open.
Os cientistas buscavam analisar de forma mais abrangente algo que já foi observado em outros trabalhos, o chamado “efeito do fim de semana”.
Segundo escrevem no artigo, o termo refere-se à possibilidade de resultados piores para os pacientes operados durante os fins de semana ou na sexta-feira, que recebem cuidados pós-operatórios no sábado e no domingo.
Em 2013, por exemplo, pesquisadores do Imperial College de Londres, no Reino Unido, analisaram o risco de morte após todas as cirurgias eletivas realizadas pelo NHS, o serviço público de saúde britânico, entre 2008 e 2011 na Inglaterra.
O trabalho, publicado no British Medical Journal, encontrou um risco até 44% maior entre os operados na sexta-feira, em comparação com os na segunda.
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No novo estudo, que englobou cirurgias eletivas e de emergência em diferentes períodos de tempo, esse aumento foi menor. Nele, os pesquisadores analisaram 199.744 pacientes submetidos a uma cirurgia na sexta-feira e os compararam com 229.947 operados na segunda-feira.
Todos realizaram algum dos 25 procedimentos cirúrgicos mais comuns na província canadense de Ontário entre janeiro de 2007 e dezembro de 2019.
Os dados dos pacientes foram acompanhados por até um ano após a cirurgia. Os responsáveis pelo trabalho analisaram as mortes, readmissões e complicações nos períodos de 30 dias, 90 dias e um ano após o procedimento.
No geral, eles encontraram um risco cerca de 5% maior para os desfechos entre os operados na sexta-feira.
Especificamente sobre a mortalidade, os pesquisadores observaram um aumento de 9% no risco durante o primeiro mês após cirurgia; de 10% três meses depois e de 12% após um ano.
“Esse efeito de fim de semana foi observado em várias subespecialidades, especialmente entre os pacientes submetidos a operações eletivas. (...) Nosso estudo é consistente com a maioria da literatura publicada, indicando um risco maior de resultados pós-operatórios adversos entre os pacientes submetidos à cirurgia antes do fim de semana”, resumem os autores no artigo.
A pesquisadora do Hospital Metodista de Houston, nos EUA, e uma das autoras do artigo, Vatsala Mundra, disse ao jornal Gizmodo que uma das possíveis explicações para o efeito é a mudança das dinâmicas nos hospitais no sábado e no domingo:
"As cirurgias antes do fim de semana podem ser mais arriscadas porque, muitas vezes, os pacientes que passam por um procedimento na sexta-feira podem ter de ficar no fim de semana para receber cuidados pós-operatórios, e estudos demonstraram que há uma redução significativa de médicos, enfermeiros e equipe clínica durante o sábado e o domingo".
No estudo, os pesquisadores defendem que os achados “ressaltam a necessidade de um exame crítico das práticas atuais de agendamento cirúrgico e alocação de recursos”.
“Uma abordagem a ser considerada é a otimização das vias de atendimento perioperatório (período de tempo que vai desde a preparação para a cirurgia até a recuperação do paciente) para atenuar os resultados adversos (...) Além disso, abordagens em nível de sistema e esforços de políticas de saúde também podem desempenhar um papel na redução dessas disparidades”, sugerem.

