Em reunião com Zelensky, vice de Trump diz buscar paz duradoura; ucraniano cobra garantias de segura
Encontro discutiu linhas de plano de paz que Washington quer apresentar aos aliados ocidentais para o conflito, mas que ainda mostra ter lacunas
O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, disse que seu governo busca uma “paz duradoura” na Ucrânia, e sinalizou que as negociações para um acordo patrocinado pela Casa Branca estão em curso.
Durante uma reunião com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Alemanha, Vance ouviu cobranças por “reais garantias de segurança” a Kiev antes do início de conversas diretas com a Rússia de Vladimir Putin.
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A conversa, às margens da Conferência de Segurança de Munique, era aguardada com alguma apreensão, uma vez que os EUA prometeram levar ao encontro, que reúne algumas das principais lideranças do planeta, um esboço de um plano de paz.
Mas Vance não quis dar detalhes sobre o que está sendo discutido neste momento, afirmando apenas que “teve várias conversas proveitosas, e várias coisas para acompanhar e trabalhar”.
— É importante que nos reunamos e comecemos a ter as conversas que serão necessárias para encerrar este acordo. É tudo o que vou dizer por enquanto, porque quero preservar a opcionalidade aqui para os negociadores e nossas respectivas equipes para encerrar essa coisa de forma responsável — afirmou o vice-presidente a jornalistas, após a reunião.
Para o vice, o objetivo central da Casa Branca é “que a guerra chegue ao fim”.
— Queremos que a matança pare, mas queremos alcançar uma paz duradoura e durável, não o tipo de paz que deixará a Europa Oriental em conflito daqui a alguns anos — disse o vice-presidente.
Durante um discurso, mais cedo, no qual não mencionou diretamente a guerra na Ucrânia, Vance sinalizou que os países europeus deverão investir mais em sua própria segurança, uma vez que os EUA precisam concentrar suas forças em “locais mais perigosos” — no mês passado, o presidente dos EUA, DonaldTrump disse que retiraria até 20 mil soldados americanos do continente.
"Garantias de segurança"
Zelensky, por sua vez, agradeceu o apoio dos EUA, e disse esperar que o encontro com Vance “seja o primeiro, mas não o último”. Ao mesmo tempo, ele fez cobranças aos aliados americanos.
— Realmente o que precisamos [té] falar mais, trabalhar mais e preparar o plano de como parar [o presidente russo Vladimir] Putin e terminar a guerra. Realmente, queremos muito a paz, mas precisamos de garantias reais de segurança, e continuaremos nossas reuniões e nosso trabalho — disse o líder ucraniano.
Em publicação no Telegram, o líder ucraniano afirmou que, durante a reunião, que também foi acompanhada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, foram abordadas “muitas questões importantes”, e disse esperar a visita do enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg, a Kiev para “uma avaliação mais aprofundada da situação no local”.
“Estamos prontos para avançar em direção à paz real e garantida o mais rápido possível. Agradecemos sinceramente a determinação do presidente Trump, que pode ajudar a interromper a guerra e fornecer à Ucrânia justiça e garantias de segurança”, escreveu.
Antes de se sentar à mesa com Vance, Zelensky disse, durante um painel com congressistas americanos, que está disposto a se encontrar com Vladimir Putin caso seja elaborado um “plano comum” entre Kiev e seus aliados ocidentais, contando com a inclusão de garantias de segurança contra novos ataques russos no futuro.
Ao mesmo tempo, ele não escondeu o pessimismo com suas pretensões de integrar a Otan, a principal aliança militar do Ocidente.
— Os Estados Unidos nunca nos viram como parte da Otan, eles só falavam sobre isso, mas eles na verdade não nos queriam na Otan, é verdade — desabafou o ucraniano durante o painel. — Não é sobre pessoas, sempre houve congressistas que apoiaram nossa participação na Otan, mas no nível mais elevado de liderança, do presidente do país, jamais escutei isso, que nós vamos entrar na Otan.
Na quarta-feira, o secretário de Defesa americano, Pete Heghseth, disse “não enxergar” uma futura adesão do país à aliança militar, e o presidente Trump afirmou que “provavelmente a Rússia não permitiria” isso.
Um dos argumentos de Putin para invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022 era a percepção, segundo Moscou, de que o país se tornaria um satélite da organização em uma área que considera ser sua zona de influência.
O governo americano ainda quer firmar um acordo com Kiev para garantir acesso às reservas minerais ucranianas em troca da manutenção da ajuda financeira e militar.
A proposta, ventilada por Trump há alguns dias e que conta com o aval de Zelensky.
O foco do plano são os depósitos de terras raras, usadas em indústrias de alta tecnologia, e de lítio, usados em baterias elétricas — contudo, algumas áreas de exploração estão em regiões hoje ocupadas pelos russos, e o Kremlin não vê a iniciativa com bons olhos.
— Acho que ele [Trump] vai encontrar uma maneira de acabar com essa guerra, de uma forma que Putin seria um tolo em fazer de novo. Como você desencoraja Putin? Você arma esse cara até os dentes — disse o senador americano Lindsey Graham, apontando para Zelensky, durante um painel em Munique.
— Vamos armar esse cara, vamos fazer o acordo de minerais para que você tenha interesses comerciais americanos. Putin não entende o que está acontecendo. Se assinarmos esse acordo de minerais, Putin estará ferrado, porque Trump defenderá o acordo.

