Em viagem à União Europeia, chanceler russo diz que 'nova Guerra Fria' pode esquentar
Participação de representante de Moscou foi contestada pela Ucrânia, mas Malta, país anfitrião do encontro, justificou que canais deveriam ser mantidos abertos
Em sua primeira viagem oficial a um país-membro da União Europeia desde o começo da guerra na Ucrânia, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, acusou o Ocidente de desatar uma nova "Guerra Fria", por meio do apoio massivo a Kiev, afirmando que a situação pode levar a um verdadeiro conflito entre Oriente e Ocidente.
A declaração do líder russo, citado pela agência estatal RIA Novasti, foi feita nesta quinta-feira, durante a reunião de cúpula da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que está sendo realizada em Malta.
— [O Oriente é responsável por uma] reencarnação da Guerra Fria, agora com um risco maior de se converter em [uma guerra] quente — afirmou Lavrov durante o encontro, que também era atendido pelos representantes diplomáticos de EUA e Ucrânia.
A última vez que Lavrov havia visitado um país da União Europeia foi em dezembro de 2021, quando compareceu a uma reunião da OSCE em Estocolmo. Desde então, o diplomata virou alvo de sanções europeias, relacionadas ao seu papel como parte do governo na guerra da Ucrânia. Na última reunião de cúpula da organização, realizada no ano passado na Macedônia do Norte, ele acusou a OSCE de ter se tornado um "apêndice" da Otan e da UE.
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A presença do chanceler russo mereceu um comentário do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiga, que chamou Lavrov de "criminoso de guerra" e acusou Moscou de ser "a maior ameaça" à segurança regional.
— A Rússia não é um parceiro, é a maior ameaça à nossa segurança comum. A sua participação na OSCE representa um perigo para a cooperação na Europa — declarou Sybiga na reunião.
Fundada em 1975 para reduzir as tensões entre Oriente e Ocidente durante a Guerra Fria, a OSCE tem 57 membros. O seu trabalho inclui a coordenação de questões como garantia de direitos humanos e o controle de armas, embora Moscou acuse a organização de se desviar dos seus princípios.
O retorno da Rússia ao encontro ocorre em um momento em que o mundo aguarda com expectativa o impacto para a guerra no Leste Europeu do retorno de Donald Trump à Casa Branca. A mudança de poder nos EUA já teve impacto no front ucraniano, com soldados ucranianos relatando terem recebido ordens para manter suas posições em Kursk até a posse do novo presidente, e com avanços de Moscou no Leste do país inimigo.
Nesta quinta, EUA e Rússia afirmaram que os chefes do Estado-maior dos dois países mantiveram uma conversa por telefone pela primeira vez na semana passada, em 27 de setembro, tratando sobre a segurança global e região, principalmente a Ucrânia. Em Malta, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, também participou do encontro da OSCE, mas não tinha nenhum encontro bilateral previsto com Lavrov.
Canais abertos
A participação de Lavrov na cúpula da OSCE foi proibida pela Polônia, em 2022, assim que o conflito na Ucrânia iniciou. Varsóvia presidia a reunião naquele ano. Desta vez, um porta-voz de Malta, o país anfitrião, explicou que embora o diplomata esteja sujeito a sanções da UE, incluindo o congelamento de bens,não está proibido de viajar. O convite foi estendido, segundo o porta-voz, para "manter abertos determinados canais de comunicação".
Lavrov, segundo a sua porta-voz Maria Zajárova, aproveitará o evento para denunciar o que considera uma "crise institucional" dentro da OSCE. Zakharova afirmou que vários países ocidentais estão "usando esta plataforma para os seus próprios interesses" e que a organização foi "ucranizada". (Com AFP)