Sáb, 06 de Dezembro

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Argentina

Entenda como funciona suposto esquema de fraude de criptomoeda promovido por Milei na Argentina

Presidente menciona token em publicação, valor do ativo sobe exponencialmente, mas, em seguida, colapsa; governo argentino anuncia "investigação urgente" de conduta imprópria que pode ter lesado cerca de 40 mil pessoas

Javier Milei, presidente da ArgentinaJavier Milei, presidente da Argentina - Foto: Fabrice Coffrini/AFP

O presidente da Argentina Javier Milei está sendo investigado por conduta imprópria como agente público devido a promoção de uma criptomoeda possivelmente ligada a uma ação fraudulenta.

A $LIBRA teve valor das ações infladas após o político divulgá-la em sua conta na plataforma X, nesta sexta-feira, e horas depois sofreu uma queda abrupta.

O governo argentino anunciou uma "investigação urgente" sobre o lançamento dessa moeda, que se enquadra no golpe financeiro conhecido como "Rug Pull", no mercado das criptomoedas.

A $LIBRA é uma memecoin, ou seja, uma moeda sem base na economia real. Ela estava quase totalmente vinculada a apenas cinco carteira digitais e antes da promoção do presidente argentino, ela valia US$ 0,30, mas chegou ao ápice de US$ 4,9 mil (R$ 28,5 mil, na cotação atual), após publicação do político nas redes.

Cinco horas após divulgação de Milei, ela perdeu US$ 4 bilhões de capitalização de mercado.

“A Argentina liberal está crescendo!!! Este projeto privado será dedicado a incentivar o crescimento da economia argentina por meio do financiamento de pequenas empresas e startups argentinas. O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, postou Milei, junto com um link para o projeto com o nome do token, uma unidade de valor digital baseada na tecnologia blockchain que não é lastreada por dinheiro real.

O que é "Rug pull'?
Embora o caso tenha atraído grande atenção internacional, o modus operandi desta ação não é incomum, tanto que foi nomeado como "Rug Pull" ("puxada de tapete", do inglês) no mercado financeiro.

Esse nome descreve um golpe em que os criadores de uma criptomoeda ou outros projetos digitais, atraem investimentos massivos em troca de retornos muito acima do real. Toda criptomoeda tem uma determinada oferta de unidades.

Após aumentarem artificialmente o valor da moeda, devido ao aumento da demanda, esses criadores vendem as ações deles, abandonando o projeto e fazendo com que o token perca praticamente todo o valor.

Dessa forma, quem comprou ações acreditando no retorno do projeto, fica com o prejuízo.

Uma hora após o lançamento da moeda houve a retirada de quase US$ 90 milhões de poucas carteiras digitais, que concentravam 82% do total em circulação, fazendo o valor do $LIBRA despencar. Por volta da meia-noite, o presidente decidiu apagar a publicação e postar uma nova mensagem explicando o ocorrido.

“Há algumas horas, publiquei um tuíte, como tantos outros incontáveis, apoiando uma suposta empresa privada com a qual, obviamente, não tenho qualquer ligação.

Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois de tomar conhecimento, decidi não continuar a divulgá-lo (por isso apaguei o tuíte)”, disse ele.

Economistas e especialistas em criptomoedas na Argentina, bem como representantes do espectro político da oposição, rapidamente criticaram Milei e apontaram que esse ativo digital parecia ser um golpe ou esquema de pirâmide. Fontes no Congresso argentino falam em cerca de 40 mil vítimas, de acordo com imprensa local.

À medida que as críticas aumentavam, a Presidência argentina anunciou na noite de sábado que, "à luz dos acontecimentos", Milei "decidiu encaminhar imediatamente o assunto ao Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente".

Ele também anunciou a criação de uma "Força-Tarefa Investigativa" na órbita do presidente, encarregada de "iniciar uma investigação urgente sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todas as empresas ou pessoas envolvidas nesta operação", acrescentou a Presidência em um comunicado no X.

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