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JUSTIÇA

"Esquentei o almoço. Aguardo ela chegar até hoje", diz em audiência mãe de mulher morta em Jaboatão

Audiência de instrução e julgamento do caso acontece, nesta quarta-feira (9)

Família aguarda o final da sessãoFamília aguarda o final da sessão - Foto: Cortesia

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A primeira audiência de instrução e julgamento referente ao caso da assassinato da voluntária Simone Menezes Costa, de 42 anos, acontece nesta quarta-feira (9), na 2ª Vara do Tribunal do Júri de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. No banco dos réus, está o ex-namorado da vítima, Ewanderson João da Silva, 37.

O feminicídio aconteceu em 29 de janeiro último, dentro da ONG Projeto Saúde Ativa Social, onde Simone atuava como voluntária do setor administrativo, no bairro de Sucupira, em Jaboatão. O local seria inaugurado uma semana depois.

Simone Menezes foi morta a golpes de arma brancaSimone Menezes foi morta a golpes de arma branca | Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), está prevista a ouvida das testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que seriam dois voluntários da ONG e a irmã da vítima, na condição de informante. O acusado será interrogado.

Antes da sessão, a mãe da vítima, Ivanise Cosmo Inácio, de 57 anos, relembrou que a filha já havia sido vítima de violências no relacionamento e havia rompido já no primeiro sinal, justamente por isso. Para Ivanise, o último contato com Simone é inesquecível.

“O nosso último contato foi ela dizendo: 'Mãe, eu vim almoçar em casa, porque a ONG ainda vai ser inaugurada. Guarde meu almoço'. E ela não voltou. Deu meio-dia e eu esperando ela voltar. Quando deu 13h, e eu disse: 'Eu vou ligar para saber'. Como estava chovendo muito nesse dia, eu disse: 'A chuva que está atrapalhando ela chegar'. Mas, não. Minha filha estava morta. Não teve o direito de dar o último abraço. Minha filha não teve direito ao socorro. Ela morreu da hemorragia. Agonizou até à morte”, rememorou ela, soluçando.

Ainda durante a entrevista, a mãe contou que a vítima era uma pessoa querida e bastante conhecida no bairro de Cavaleiro, também em Jaboatão, onde morava. Simone, que era evangélica, tinha costume de fazer caridades para pessoas em situação de rua e que passavam fome.

“Se ela visse alguém na chuva, dava a sombrinha dela para a pessoa. Eu a perdi. Ele tirou a minha filha de mim, repentinamente. Eu não tenho mais a minha filha. A casa se tornou vazia. Meu coração sangra todos os dias. Na hora de eu ir dormir, a cama dela está vazia. Na hora do almoço, eu lembro, ela disse que ia almoçar e ela não veio. Eu esquentei o almoço. Aguardo ela chegar até hoje. Ela não vem mais”, lamentou.

“Eu desejo justiça. Que ele pague, que ele pegue a pena máxima, para que esses homens tenham consciência de que nós não somos objeto deles. Quantas mulheres mais não têm o direito de dizer: 'Não, eu não quero sofrer'. Porque ele se acha dono. 'Não. Se você não apanhar de mim, eu mato você'. Foi isso que ele fez. Minha filha disse: "Não, eu não quero'. E ele a matou, em menos de dois meses. Eu não sei nem dizer a personalidade dele, porque não deu tempo a gente saber quem é essa pessoa”, finalizou.

Relembre o caso
No dia do crime, um técnico instalava internet na ONG quando Ewanderson João da Silva chegou ao portão. Simone autorizou a entrada dele, alegando ser o ex-namorado dela. Minutos depois que o técnico de internet foi embora, os dois ficaram sozinhos no local.

Após pouco tempo, a mulher foi encontrada morta, com pelo menos três golpes de faca, sendo duas na região do peitoral e uma no abdome, segundo a perícia.

O relacionamento teria começado em novembro de 2024, e os dois haviam terminado havia duas semanas. Informações da época dão conta de que o suspeito havia aparecido na ONG, uma semana antes do crime, levando um buquê de flores e pedindo para reatar a relação, mas Simone não quis.

Depois do crime, o homem foi autuado por feminicídio consumado pela Polícia Civil de Pernambuco.

O sepultamento de Simone aconteceu no Cemitério Parque das Flores, no bairro de Tejipió, na Zona Oeste do Recife, em 30 de janeiro.

Quais os próximos passos?
Segundo o TJPE, a audiência de instrução e julgamento é considerada como ‘o começo de tudo’. O próximo passo será abrir prazo para alegações finais da acusação (MPPE) e da defesa do acusado.

Com a entrega das alegações finais, o processo ficará concluso (pronto) para que haja a decisão que definirá se o réu será levado a júri popular (decisão de pronúncia) ou não.

Se não for possível ouvir todas as testemunhas ou interrogar o réu na audiência de instrução, será necessário agendar uma nova audiência para completar essa fase.

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