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Falha em método de alfabetização pode dificultar o aprendizado

Recife faz projetos contra deficiência no método, mas Interior continua criando analfabetos funcionais

Criança Criança  - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

O processo de alfabetização no Brasil está longe do ideal. Tanto, que uma em cada quatro pessoas é considerada analfabeta funcional. O número assustador é reflexo de um método ultrapassado de ensinar a ler e a escrever que persiste no País. O problema, debatido na última edição da revista científica Educação, preocupa prefeituras como a da Capital pernambucana, que cria projetos específicos para tentar diminuir a quantidade de cidadãos incapazes de interpretar o que leem e, quase consequentemente, de desenvolver o pensamento crítico.

Quase 30% dos nordestinos conhecem as letras mas não lhe fazem úteis. Os dados alarmantes são do IBGE de 2015. São considerados analfabetos funcionais as pessoas que não conseguem interpretar o conteúdo escrito, apesar de lê-lo em voz alta. Segundo a professora Jailza Maria, da rede municipal de Recife, os métodos de ensino tradicionais não são suficientes para garantir a plena faculdade da leitura. “E a rede implanta projetos que ensinam a contextualização, mas segue com o método tradicional.” Mais que passar o conhecimento das regras gramaticais, ortográficas e sintáticas, é preciso tornar o aluno capaz de circular pelo universo letrado de maneira independente.

A pedagoga Roberta Andrade, da escola municipal Santo Amaro, no bairro homônimo no Centro do Recife, trabalha com as turmas de alfabetização e afirma que a educação infantil peca por não começar a estimular desde cedo o letramento. “A alfabetização é um processo contínuo e tem que ser considerado toda a questão do contexto, da vivência de cada criança. Muitos alunos chegam na alfabetização sem nem identificar as letras”.

De acordo com o diretor pedagógico da Prefeitura do Recife, Rogério Morais, a rede de ensino municipal está investindo em programas alternativos para sustentar a metodologia. “O processo mecânico não é suficiente. Se é só isso, os alunos levam as consequências pela vida.” São exemplos da preocupação do poder municipal o Proler, com mais de 30 mil alunos, que visa à alfabetização com criatividade em mesas de jogos pedagógicos e o Alfaletrando, que analisa personalizadamente o progresso dos alunos. Há outros seis programas em curso.

Os vários projetos de reforço ainda não são suficientes, pois muitos alunos ainda chegam ao ensino fundamental com dificuldades para entender a escrita. Mais de 20% reprova no terceiro ano do ensino fundamental. O Estado tenta, timidamente, ajudar. Quem tem dificuldade é encaminhados a um dos três programas de reforço. “Cheguei ao sexto ano sem entender nada. Só sabia escrever meu nome”, contou Paulo Maciel, participante do Alfabetizar com Sucesso.

No Interior, contudo, é que a falha segue incólume. Na maioria das cidades, nem o projeto pedagógico básico é seguido à risca. Pensar em reforço é um disparate. Na última quinta-feira, o MPF chegou a agir sobre o sistema de ensino de Santa Maria da Boa Vista, no Sertão, que, além de faltar merendas e ter infraestrutura periclitante, não faz jus ao projeto pedagógico previsto pelo MEC. O secretário de educação da atual gestão, Adão Dias, afirmou que precisou intervir emergencialmente nos prédios para iniciar o ano letivo e, entre outras medidas, criar uma comissão para entender déficits de ensino. O Sintepe afirma que o problema é generalizado no Sertão.

Não existe idade certa para a alfabetização. Ela pode durar até dois anos e é dividia em estágios. A psicopedagoga da Universidade Salgado de Oliveira, Angelica Portela, explica que os seis anos é uma média. “Mas cada criança possui o seu ritmo”. A trajetória de aprendizado, normalmente interrompida, se inicia com a criança representando uma palavra através de um desenho. Depois acredita que coisas grandes, como um elefante, precisa ser representada por palavras grandes também. Posteriormente, corresponde os fonemas com as letras e entende o que escreve.

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