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meio ambiente

Frente ao negacionismo, chefe do IPCC reforça papel humano no aquecimento global

"Sem dúvida, os humanos são a causa das mudanças climáticas que estamos assistindo", ressaltou professor escocês

Sir James "Jim" Skea, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)Sir James "Jim" Skea, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) - Foto: Stephane De Sakutin / AFP

Frente ao auge do negacionismo climático, o presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Jim Skea, reforçou, em entrevista à AFP, o papel da ciência e que as mudanças climáticas são, "sem dúvida", o resultado das atividades humanas.

A França recebe, até esta sexta-feira (5), mais de 600 membros do IPCC, grupo de cientistas climáticos da ONU, que vão iniciar os preparativos para seu próximo relatório.

"Sem dúvida, os humanos são a causa das mudanças climáticas que estamos assistindo", ressaltou Jim Skea, professor escocês que preside o painel.

PERGUNTA: O senhor disse há pouco que era "quase inevitável" que o mundo ultrapasse o limite de 1,5º C de aquecimento no curto prazo. Qual será, então, a mensagem de seu próximo relatório, dentro de alguns anos?

RESPOSTA: "A mensagem é que, se quisermos que o aquecimento global seja de 1,5º C, as decisões que precisamos tomar são muito claras. Precisamos reduzir significativamente as emissões relacionadas com a energia e o uso do solo. Também devemos começar a pensar em retirar o CO2 da atmosfera em larga escala. E faltam muitos conhecimentos sobre este tema".

P: A França expressou seu apoio ao IPCC esta semana frente ao auge do negacionismo climático. É um apoio importante?

R: "É realmente importante e bem-vindo ter este nível de apoio de parte do governo francês, de múltiplas fontes: o chefe de Estado, três ministros. É um nível de apoio significativo e dá muito incentivo aos cientistas. Quando falei com eles depois, estavam muito felizes: deu a eles confiança e entusiasmo para seguir adiante".

P: Como as conclusões do IPCC vão se sobrepor ao público apesar da desinformação, quando há quem qualifique as mudanças climáticas de fraude, como o presidente americano, Donald Trump?

R: "Devemos continuar comunicando a ciência de forma muito clara. Nosso último relatório tinha essa conclusão muito simples: sem dúvida, os humanos são a causa das mudanças climáticas que estamos assistindo. Devemos reforçar essa mensagem e podemos apoiá-la com vários tipos de explicações e múltiplas fontes de dados".

P: O governo dos Estados Unidos está ausente do IPCC e não financia os pesquisadores que participam de seus trabalhos. Mas o senhor não teme que bloqueie seus relatórios quando os países tiverem que aprová-los?

R: "Seguimos nos beneficiando de uma enorme presença americana no IPCC. Temos quase 50 autores nesta reunião, cuja presença é financiada por organizações filantrópicas americanas e que foram nomeados por organizações observadoras procedentes dos Estados Unidos (...) Quanto às sessões de aprovação, quando terminamos os relatórios, sempre foram difíceis porque os cientistas e os governos precisam estar de acordo em cada ponto e vírgula. E não acho que agora seja realmente mais difícil do que já era.

Só aconteceu uma vez na história do IPCC a não aprovação do resumo [elaborado] para as autoridades e o adiamento da decisão até a sessão seguinte. E não é algo recente, foi em 1995. Então, isso sempre foi difícil, mas sempre superamos esses obstáculos".

P: Países como a França querem que o próximo relatório de avaliação do IPCC seja publicado em 2028, antes da COP33 na Índia, que dará lugar a um segundo "balanço mundial" dos esforços realizados desde o Acordo de Paris. Mas a Arábia Saudita e a Índia preferem esperar 2029. É importante?

R: "Cabe aos governos decidirem se nosso relatório será publicado a tempo do balanço mundial. Para os cientistas, a questão é, ao contrário, saber se o calendário é compatível com o tempo necessário para produzir uma avaliação. E, francamente, esse tempo não deveria ser nem curto demais, nem longo demais".

P: Qual é a sua mensagem para os dirigentes e o público em geral, agora que está começando um novo ciclo de trabalho?

R: "Segurem a respiração à espera do que vamos publicar dentro de uns três anos! Há novos temas de pesquisa, novas lacunas nos nossos conhecimentos que temos que explorar, inclusive esta questão: 'É possível limitar o aquecimento global a 1,5º C no longo prazo?'"


 

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