Justiça "apaga" de site evidências de crimes cometidos na invasão do Capitólio
Banco de dados que detalhava as acusações criminais e condenações bem-sucedidas dos manifestantes envolvidos no motim foi removido do site do Departamento de Justiça
Uma semana após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, perdoar quase todos os condenados pela invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, um banco de dados que detalhava a vasta gama de acusações criminais e condenações bem-sucedidas dos manifestantes envolvidos no motim foi removido do site do Departamento de Justiça, publicou a CNN americana nesta segunda-feira.
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Os perdões concedidos pelo republicano abrangeram condenações que variaram de invasão de propriedade a agressões a policiais com armas — fato que gerou controvérsia política no país na semana passada.
O presidente também libertou antecipadamente 14 membros de grupos extremistas de direita, incluindo dez condenados por conspiração. Ele ainda pediu aos tribunais federais de Washington para arquivar mais de 300 casos que ainda não haviam sido resolvidos.
A remoção da página do Departamento de Justiça foi celebrada pelos condenados por suas ações no 6 de janeiro e por seus apoiadores.
No X, Brandon Straka, um dos perdoados por Trump por seu papel no motim, escreveu que tratava-se de uma “grande vitória”, afirmando que o site era “uma das inúmeras armas de assédio usadas pelo governo federal para tornar a vida impossível para seus alvos” no caso da invasão do Capitólio.
Straka também creditou a remoção do site ao novo procurador interino dos EUA, Ed Martin, ativista conservador nomeado pelo republicano e que esteve envolvido no financiamento do comício de Trump em 6 de janeiro de 2021, ocorrido antes do ataque ao Capitólio.
Straka escreveu que fez campanha pela remoção do site porque “toda vez que um possível empregador, proprietário, novo contato social ou de negócios procurava alguém alvo do caso, ele lia um dossiê sobre a pessoa cheio de acusações e narrativas do FBI e do departamento que nunca foram comprovadas”.
O ataque de 6 de janeiro, no entanto, gerou a maior investigação criminal federal da História dos Estados Unidos, e a grande maioria das alegações do governo foi comprovada nos tribunais.
Até este ano, mais de 1.583 pessoas haviam sido acusadas, das quais mais de mil se declararam culpadas, e mais de 200 foram condenadas em julgamento. Cerca de 300 casos estavam pendentes, sem veredito ou acordo de confissão, quando Trump ordenou que o Departamento de Justiça retirasse as acusações.
Partes do banco de dados ainda estavam acessíveis no domingo por meio do Internet Archive, mas nem todas as informações estavam atualizadas, publicou a CNN.
Algumas páginas listavam apenas as acusações contra os indivíduos, sem indicar quais foram condenados.
Milhares de páginas que faziam parte do banco de dados agora parecem inacessíveis, embora alguns detalhes dos casos de 6 de janeiro ainda possam ser vistos na forma de comunicados de imprensa sobre as acusações e condenações.
Mudanças no FBI
O FBI — representando outra parte do Departamento de Justiça — também retirou do ar seus arquivos sobre procurados pelo motim no Capitólio. Alguns dos indivíduos que apareciam no site eram fugitivos ou manifestantes não identificados, e o FBI havia postado imagens e outras informações dos suspeitos que ainda estavam procurando.
Na semana passada, um porta-voz do FBI afirmou à NBC News que os sites “não estão mais ativos”. Questionado sobre o motivo da remoção ou quem teria ordenado a ação, o FBI não forneceu explicações.
As páginas do FBI e do Departamento de Justiça também forneciam informações sobre o caso não resolvido das duas bombas encontradas fora da sede dos comitês nacionais Republicano e Democrata em 5 de janeiro de 2021.
No início deste mês, o FBI ainda não havia identificado a pessoa que se acreditava ter plantado os explosivos, apesar de agências de aplicação da lei oferecerem uma recompensa de até US$ 500 mil por informações que pudessem levar à prisão de envolvidos.
A recusa de Trump em aceitar sua derrota eleitoral em 2020 tornou-se central em sua identidade política após o seu primeiro mandato.
Ele fez da promessa de perdão em massa aos acusados do 6 de janeiro um pilar de sua campanha de reeleição — ainda que, antes dessa medida, críticos e ex-procuradores tenham alertado que os perdões em massa normalizariam a violência política. Segundo o escritório do procurador dos EUA, mais de 140 policiais foram agredidos, e os manifestantes causaram milhões de dólares em danos ao Capitólio.