Maestro russo rejeitado no Ocidente por apoio a Putin fará apresentação na Itália
Valery Gergiev tem sido rejeitado nos Estados Unidos e Europa desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2022
Valery Gergiev, o renomado maestro russo que foi rejeitado no Ocidente por ter laços estreitos com o presidente Vladimir Putin, da Rússia, se apresentará ainda este mês em um festival na Itália — seu primeiro compromisso na Europa Ocidental desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022.
Gergiev, considerado um fiel aliado de Putin, irá se apresentar no dia 27 de julho no Palácio Real de Caserta — um edifiício histórico localizado ao norte de Nápoles. No espetáculo, que foi anunciado na semana passada pelo festival Un’Estate da RE, o artista conduzirá uma orquestra de Salerno, na Itália, junto à participação de artistas do Teatro Mariinsky de São Petersburgo, instituição da qual é diretor.
Leia também
• Ministro russo é encontrado morto depois de Putin demiti-lo
• Putin vai falar no Brics ao vivo de Moscou, mas Brasil não vai transmitir discurso do russo
O anúncio gerou protestos de políticos e ativistas italianos, que expressaram preocupação com o fato de Gergiev estar sendo autorizado a se apresentar novamente no Ocidente. O russo, que possui uma extensa carreira internacional e já se tornou um dos maestros mais requisitados do mundo, foi declarado persona non grata nos Estados Unidos e na Europa desde a invasão da Ucrânia.
Comportamento considerado 'inaceitável': Maestro Gergiev é expulso de academia sueca por apoio a Putin
Gergiev não se pronunciou sobre o assunto.
A decisão de contratá-lo também gerou críticas porque o festival é financiado pela União Europeia. Os recursos vêm do governo nacional da Itália para uma empresa da região de Campânia, onde o festival é realizado. A empresa financia diversos eventos culturais na região, incluindo o Un’Estate da RE.
Pina Picierno, uma política italiana progressista que atua como vice-presidente do Parlamento Europeu, afirmou que é "inaceitável que fundos europeus estejam sendo usados para financiar a apresentação de um apoiador do Kremlin". Em uma publicação na rede social X, ela pediu ao festival e às autoridades regionais "ação imediata para impedir a participação de Valery Gergiev e garantir que o dinheiro dos contribuintes não vá parar nos bolsos de um apoiador de um regime criminoso".
Vincenzo De Luca, presidente de centro-esquerda da região da Campânia, defendeu a decisão do festival de contratar Gergiev em um comunicado. Ele afirmou que o convite demonstrava que "o diálogo entre os povos pode crescer e os valores da solidariedade humana podem se desenvolver".
Em entrevista por telefone, nesta segunda-feira, Picierno — que está sob proteção policial há um mês devido ao seu trabalho no combate à propaganda e desinformação russas — pediu que a União Europeia garanta que seus fundos não sejam usados para apoiar "iniciativas ligadas a personalidades próximas a regimes contrários aos valores europeus".
Apoio a Putin
Gergiev, de 72 anos, já apoiou publicamente a reeleição de Putin e participou de concertos na Rússia e no exterior para promover suas políticas. Os dois se conhecem desde o início dos anos 1990, quando o presidente era um funcionário em São Petersburgo. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, Gergiev foi demitido da Filarmônica de Munique, onde era maestro titular, devido ao seu longo histórico de apoio a Putin.
Ao mesmo tempo, Gergiev continuou a expandir sua influência sobre a cena cultural russa. Em 2023, ele foi nomeado para dirigir o renomado Teatro Bolshoi, em Moscou, além de manter suas funções no Teatro Mariinsky.
Após a invasão, muitas instituições culturais nos Estados Unidos e na Europa apressaram-se em cortar laços com artistas e instituições russas próximas a Putin, rompendo com décadas de intercâmbio cultural que persistiram até mesmo nos períodos mais tensos da Guerra Fria.
As companhias de balé dos teatros Bolshoi e Mariinsky também enfrentaram cancelamentos de apresentações em Londres, Madri, Nova York e outras cidades. Vários músicos russos de destaque, que possuem ligações com Putin, perderam contratos no Ocidente nos meses seguintes à invasão, incluindo o pianista Denis Matsuev e a soprano Anna Netrebko. No entanto, Netrebko, uma das maiores estrelas da ópera mundial, já voltou aos principais palcos e casas de ópera em Paris, Berlim e outras cidades da Europa, e se apresentou em um gala da Palm Beach Opera, na Flórida, em fevereiro — sua primeira apresentação nos Estados Unidos desde 2019.
Enquanto o Ocidente permaneceu fora dos limites para Gergiev, ele voltou-se para outros mercados, incluindo a China, onde artistas e grupos culturais russos têm sido calorosamente recebidos. Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, ele já liderou diversas turnês com o Mariinsky no país asiático.

