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ASSINATURAS

Mais de 600 mil sérvios pedem investigação da ONU sobre suposto uso de arma sônica em protesto

Em março, milhares de pessoas protestavam contra o presidente Vucic quando parte da multidão entrou em pânico ao escutar um barulho desconhecido

Alexander VucicAlexander Vucic - Foto: wikipedia

O escritório da ONU em Belgrado, na Sérvia, recebeu nesta terça-feira um pedido com 600 mil assinaturas, organizado pelo movimento Kreni-Promeni, de uma investigação internacional sobre o suposto uso de uma arma sônica pela polícia em uma manifestação.

Em 15 de março, milhares de pessoas protestavam contra o governo do presidente Alexander Vucic, em Belgrado, quando parte da multidão entrou em pânico ao escutar um barulho forte e desconhecido.

À época, alguns manifestantes relataram um ruído semelhante ao de um avião prestes a cair, e outros, o que parecia ser um carro atropelando pessoas.

Inicialmente, o governo sérvio negou possuir uma arma sonora, mas imagens feitas por manifestantes e pela agência AFP mostram ao menos um veículo da polícia equipado com o que parecia ser um Dispositivo Acústico de Longo Alcance (LRAD, em inglês). Isso levou a administração de Vucic a mudar de posição. O ministro do Interior sérvio, Ivica Dacic, confirmou que a polícia tem tal dispositivo, mas negou que tenha sido utilizado.

Já o presidente Alexander Vucic, principal alvo das manifestações, prometeu renunciar caso o uso seja comprovado. Na ocasião, Vucic chamou de “mentira vil” as acusações sobre o uso de uma arma sônica.

— Tive a oportunidade de ver essa arma no exterior, e ela emite um som forte e penetrante. Esse som não foi ouvido nas ruas de Belgrado na noite [dos protestos] — afirmou, em pronunciamento, no qual confirmou a abertura de uma investigação formal. — Eles também devem processar aqueles que tornaram pública uma mentira tão notória.

Relato dos manifestantes
Os manifestantes, após ouvirem o som, relataram ter sentido dores de cabeça, tontura e enjoo.

— Foi um som horrível, muito poderoso. Parecia que algo iria cair em nossas cabeças — disse Lela Sredojevic, uma das manifestantes em Belgrado, à BBC. — Eu nunca tinha sentido nada assim. Eu estava realmente assustada. Durou menos de um minuto, mas naquele momento, pareceu uma eternidade.

Não demorou até que surgissem os primeiros rumores sobre o uso de uma arma sônica pelas forças de segurança. Considerado um armamento não-letal, o equipamento emite ondas sonoras, com volume de até 160 decibéis (o som de um avião a jato atinge, em média, 130 decibéis).

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— Parecia um estrondo louco, como um jato voando sobre nossas cabeças — disse o manifestante Miroslav Lukic à DW. — Mas não era ensurdecedoramente alto, era mais como um barulho distante e ameaçador.

Os sintomas
Os sintomas podem variar desde um incômodo provocado pelo som alto, confusão e desorientação, até problemas de saúde mas graves, dependendo da intensidade empregada no equipamento. Nos últimos anos, o LRAD foi empregado por embarcações na Somália para impedir a atuação de piratas, contra imigrantes que tentavam entrar de forma irregular na União Europeia e por forças policiais nos EUA em manifestações.

Oficialmente, as armas sônicas são proibidas na Sérvia, mas ativistas apontam que, em 2022, o Ministério do Interior tentou aprovar uma lei que abria caminho para seu uso no país, um projeto que acabou arquivado.

Mesmo que o uso de uma arma sônica não seja confirmado, as acusações são mais um golpe contra um presidente Alexander Vucic cada vez mais contestado pela sociedade. Desde o ano passado, seu governo é alvo de manifestações motivadas inicialmente pelo desabamento em uma estação de trem em Novi Sad, em novembro, que deixou 15 mortos.

Para muitos, o desastre foi causado pela corrupção no Estado, e como o governo de Vucic faria vista grossa aos crimes contra o patrimônio público ocorridos em sua administração. O presidente, por sua vez, rejeita as alegações, afirma que o movimento, liderado por estudantes e grupos de oposição, é uma tentativa de derrubá-lo, e diz que serviços de inteligência do Ocidente dão apoio aos manifestantes.

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