Mesmo em queda, inflação termina 2024 perto de 120% na Argentina
Índice de preços de dezembro se mantém controlado, pelo terceiro mês seguido abaixo dos 3%, em meio ao duro ajuste fiscal de Javier Milei, que tem o desafio de liberar o câmbio
A inflação mensal na Argentina continuou em um nível próximo ao menor patamar em quatro anos em dezembro, mas o índice anual de preços em 2024 ainda ficou em três dígitos: 117,8%.
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A desaceleração mensal vista nos números oficiais divulgados hoje, segundo analistas, abre caminho para que o presidente Javier Milei faça sua primeira mudança na política cambial em mais de um ano.
Os preços subiram 2,7% em dezembro em relação a novembro, marcando o terceiro mês consecutivo abaixo de 3%, em linha com a estimativa mediana de economistas consultados pela Bloomberg. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a inflação desacelerou para 117,8%, segundo dados do governo publicados nesta terça-feira.
A popularidade de Milei permanece alta antes das eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, em grande parte porque ele reduziu a inflação anual de quase 300%, mantendo a taxa de câmbio relativamente estável.
Risco da armadilha do câmbio
Os argentinos estão cada vez mais otimistas com a economia sob sua gestão, mas qualquer mudança na política cambial corre o risco de elevar a inflação e comprometer a posição de seu partido junto aos eleitores.
O governo de Milei controla o ritmo da desvalorização do peso e manteve a chamada "crawling peg" (desvalorização gradual) em 2% ao mês desde que assumiu o cargo há um ano, apesar de a inflação ter superado esse índice.
Embora os mercados em geral aplaudam as outras conquistas econômicas de Milei, economistas afirmam que a política cambial está supervalorizando o peso, uma receita que, sob governos anteriores, levou a desvalorizações abruptas e instabilidade política.
Desde novembro, Milei e seus formuladores de política econômica prometeram reduzir o "crawling peg" para 1% ao mês caso a inflação se mantivesse constante até o final de 2024.
Um porta-voz do Banco de La Nación, o banco central argentino, se recusou a comentar sobre possíveis mudanças de política cambial.
Macri fracassou no câmbio
Embora Milei tenha prometido desacelerar o "crawling peg", ele também se comprometeu a adotar uma "taxa de câmbio flexível" assim que suspender os controles cambiais da Argentina em algum momento deste ano.
A última vez que um governo argentino eliminou os controles e deixou a moeda flutuar, em 2015, o plano fracassou: a inflação disparou, e o ex-presidente Mauricio Macri enfrentou contratempos precoces em seu único mandato. Ele acabou perdendo a reeleição para o peronista Alberto Fernández.
A equipe de Milei está considerando introduzir uma taxa de câmbio gerida — um "câmbio flutuante sujo" — assim que suspender os controles cambiais e de capital, permitindo que o peso flutue livremente dentro de parâmetros rigorosos que ainda não foram definidos.

