"Ninguém vem para outro país para ser dopado", diz entregador que filmou golpe contra turista no Rio
Jovem de 19 anos registrou cena de vítima do golpe "boa noite, Cinderela" na areia da praia; três mulheres com histórico de crimes semelhantes são procuradas pela Polícia Civil
Era por volta das seis da manhã de sexta-feira, quando o jovem Kauan Almeida, 19 anos, entregador de mercado, percebeu um homem cambaleando e quase caindo na areia da praia de Ipanema, na Zona Sul do Rio, em frente ao Boteco Belmonte.
A cena chamou a atenção de Kauan que, ao o se aproximar, ouviu de um ambulante que o rapaz havia acabado de ser vítima do golpe conhecido como "boa noite, Cinderela", em que a vítima é dopada para ser roubada.
— Eu perguntei a um rapaz que estava por perto o que tinha acontecido, e ele disse que o gringo tinha sido vítima do golpe e que tinham levado todas as coisas dele. Tentei ajudar, mas não toquei nele porque não sabia exatamente o que tinha ocorrido. Logo depois, ele caiu na areia — relatou Kauan.
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Sem hesitar, o entregador ligou para a emergência, registrou a cena em vídeo e avisou que acionaria a ambulância. Após confirmar o atendimento, ele voltou ao trabalho, mas não chegou a ver a chegada da equipe médica.
— Fiz o vídeo e mandei para um perfil no Instagram e para amigos. No dia seguinte, ao chegar no mercado, soube que o vídeo viralizou. Minha intenção era mostrar o crime, porque foi uma sacanagem o que fizeram com ele. Se a pessoa está se divertindo, tudo bem, mas dopar alguém para roubar é errado — afirmou.
A história ganhou repercussão quando vídeo do turista britânico viralizou nas redes sociais e ajudou a Polícia Civil, por meio da Delegacia de Atendimento ao Turismo (Deat), a identificar as três mulheres suspeitas de aplicar o golpe contra dois turistas britânicos, na madrugada do mesmo dia, em Ipanema.
Segundo as investigações, as vítimas, universitários britânicos de 21 anos, conheceram as mulheres durante uma roda de samba na Lapa. Elas teriam oferecido caipirinhas adulteradas, após as quais os jovens perderam a consciência. Ao acordarem na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Copacabana, notaram o sumiço de seus celulares, e um deles teve R$ 110 mil roubados via transferência bancária feita pelas criminosas.
As suspeitas são Raiane Campos de Oliveira, 27 anos, Amanda Couto Deloca, 23, e Mayara Ketelyn Américo da Silva, 26 — todas com antecedentes por crimes semelhantes. Raiane, velha conhecida da polícia, tem 24 passagens, incluindo associação criminosa, ameaça e roubo. Ela chegou a cumprir seis meses de prisão após ser condenada a seis anos no regime semiaberto por um golpe idêntico aplicado em 2023, quando dopou e roubou um turista inglês na Pedra do Sal.
Amanda e Mayara também têm passagens por roubos.
— Nunca tinha presenciado algo assim, mas sei que essas mulheres circulam por ali. Quando percebi que estava filmando, elas ficaram assustadas, chamaram um táxi e fugiram — contou Kauan.
Ele ainda ressaltou o impacto do crime nas vítimas, que vêm de outro país para conhecer o Rio e acabam passando por uma situação de vulnerabilidade.
— Ninguém vem para outro país para ser dopado e ter suas coisas roubadas. Se estivesse só bêbado, eu não teria me metido, mas era outra coisa. Isso é uma sacanagem e uma impunidade — concluiu.
A Polícia Civil segue investigando o caso e faz buscas pelas suspeitas.

