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EUA

No dia do aniversário de Trump, EUA realizam primeira parada militar em Washington em três décadas

Oficialmente, evento celebra os 250 anos do Exército, mas desfile tem sido tratado como prioridade pela Casa Branca, em meio a questionamentos sobre uso político das Forças Armadas

Tropas marcham nas ruas de Washington em parada militar em homenagem aos 250 anos do Exército  Foto: Andrew Leyden/Getty Images/AFPTropas marcham nas ruas de Washington em parada militar em homenagem aos 250 anos do Exército Foto: Andrew Leyden/Getty Images/AFP - Foto: Andrew Leyden / AFP

Oito anos após defender pela primeira vez a realização de uma parada militar nas ruas da capital americana, Washington, o presidente dos EUA, Donald Trump, teve seu desejo realizado neste sábado, com um desfile de tropas em celebração aos 250 anos do Exército, e que caprichosamente coincidiu com seu aniversário de 79 anos.

Segundo os organizadores, foram às ruas da capital americana 6,7 mil soldados, além de mais de 150 veículos, incluindo tanques e carros de combate — as tropas desfilaram diante de uma multidão, afastada por grades de proteção e ostentando numerosos bonés com a frase "Façam a América Grande Novamente", um símbolo do trumpismo. Nos céus, paraquedistas e aviões de combate, alguns da Segunda Guerra Mundial, tentavam se destacar em um dia nublado e com pancadas de chuva.

Além de um narrador que explicava o histórico das unidades, incluindo em quais conflitos elas atuaram, a trilha sonora ecoou a conhecida dos eventos de campanha de Trump: rock clássico, com muitas guitarras.

Mas um elemento chamava mais atenção do que as unidades de combate e os veteranos de guerras passadas: o tamanho do palco onde estavam as autoridades, em especial o aniversariante do dia, Donald Trump, que tinha a seu lado o secretário de Defesa, Pete Hegsetgh, e a primeira-dama, Melania Trump.

Nos dias que antecederam o desfile, Trump se referia a ele como um evento "grande e bonito", mas se comparado com paradas similares de outros países seus números talvez tenham sido eclipsados. No desfile pelo Dia da Vitória sobre os nazistas, na Segunda Guerra Mundial, a Rússia desfilou com 12 mil homens e mais de 200 veículos na Praça Vermelha. Alguns anos antes, em 2019, a China mobilizou 15 mil militares e mais de 500 equipamentos militares de vários tipos, de tanques a drones, em Pequim para celebrar os 70 anos de fundação da República Popular.

Desde o fim da Primeira Guerra do Golfo, em 1991, a capital americana não via tropas desfilarem em suas ruas, mas Trump, ainda em seu mandato anterior, levou a ideia de uma parada, ao estilo da realizada anualmente em Paris no Dia da Bastilha. Inicialmente, o custo, de quase US$ 100 milhões, o afastou da ideia, chamada de "ridícula" na época. Contudo, em sua segunda passagem pela Casa Branca, e com aliados ainda mais leais no governo, ninguém pareceu ousar dizer não.

O custo estimado do evento foi de US$ 45 milhões, e Trump parecia especialmente interessado nos preparativos — ao ser questionado sobre a possibilidade de protestos na capital americana, ameaçou usar força máxima contra eventuais manifestantes. E apesar do Exército afirmar que o desfile integra os festejos de 250 anos da instituição, não foram poucos a apontar a coincidência da data com a do aniversário de Donald Trump. Ele nega que o evento seja em homenagem a seu aniversário.

A celebração militar ocorre no momento em que o presidente é acusado de querer avançar sobre os limites institucionais das Forças Armadas nos EUA. Na semana passada, ele ordenou a mobilização de quase 5 mil soldados da Guarda Nacional da Califórnia e dos Fuzileiros Navais para atuarem em Los Angeles, em meio a protestos contra sua política migratória. Contudo, as autoridades californianas alegam que não pediram tal reforço, e acusaram o presidente de querer criar uma crise.

A disputa sobre a presença dos soldados nas ruas está nos tribunais, e Trump tem ameaçado usar uma lei do século XIX, o Ato de Insurreição, para dar aos soldados poderes de agentes da lei — hoje, as tropas não podem, por exemplo, atuar em operações da imigração, como gostaria o presidente, mas a eventual invocação da legislação mudaria isso. Para muitos analistas, Los Angeles está sendo usada como um balão de ensaio para um uso mais recorrente das tropas em solo americano, e por vezes contra cidadãos americanos.

Os críticos do presidente apontam ainda para sinais de que ele quer quebrar uma antiga tradição das Forças Armadas: o caráter apartidário. Na semana passada, Trump participou de um evento na base de Fort Bragg, no qual vendeu itens de campanha, como seus bonés "MAGA", e no qual fez um discurso marcado por ataques a adversários e autoelogios, nem todos verdadeiros. Na plateia, militares fardados eram incitados a vaiar rivais como o governador da Califórnia, Gavin Newsom, potencial candidato à sua sucessão, e o ex-presidente Joe Biden.

Enquanto Trump saudava os soldados em Washington, milhares de pessoas realizavam protestos ao redor dos EUA contra o governo, em um movimento intitulado "Dia Sem Reis", uma referência a gestos considerados autoritários do republicano. Um dos principais argumentos dos manifestantes era o elevado custo do desfile militar, além da ofensiva contra imigrantes, algo que motivou os protestos em Los Angeles nos últimos dias. Na cidade, o maior dos 15 atos previstos reuniu cerca de 20 mil pessoas, e Karen Bass foi às redes sociais elogiar a mobilização que não registrou atos de violência.

“LA é forte. É assim que se parece um protesto pacífico”, disse Bass na rede social X. “Nós recusamos o caos.”

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