Nvidia perde quase US$ 600 bi em Wall Street em dia de pânico para empresas de IA
A empresa perdeu cerca de R$ 589 bilhões (R$ 3,5 trilhões) em valor de mercado
A fabricante americana de semicondutores Nvidia liderou uma turbulência no setor de inteligência artificial (IA) em Wall Street nesta segunda-feira (27), sofrendo uma perda próxima a R$ 600 bilhões (R$ 3,55 trilhões) em capitalização de mercado após o surgimento da start-up chinesa DeepSeek e de seu modelo de IA de baixo custo.
A Nvidia, que produz chips ultrapotentes e de alto custo para a indústria de IA, despencou mais de 17% no fechamento do mercado.
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A empresa perdeu cerca de R$ 589 bilhões (R$ 3,5 trilhões) em valor de mercado, uma das maiores quedas na história, de acordo com a imprensa dos Estados Unidos, enquanto os investidores avaliavam a possibilidade de uma solução mais econômica oferecida por grupos chineses para a IA.
O movimento abalou profundamente a Bolsa de Nova York, que encerrou o dia com desempenhos mistos. O índice tecnológico Nasdaq foi o mais afetado, com uma queda de 3,07%. O S&P 500 perdeu 1,46%, enquanto o Dow Jones, após registrar perdas, conseguiu se recuperar e fechou com um ganho de 0,65%.
A start-up chinesa apresentou na semana passada um modelo de IA que afirma ser mais acessível em termos de custo.
O mercado foi impactado nesta segunda-feira por relatos de que o chatbot da DeepSeek oferece alto desempenho, mesmo utilizando chips de capacidades reduzidas, algo que pode ameaçar o domínio dos grandes grupos americanos no setor.
"Os investidores estão desconcertados com essa nova reviravolta nos acontecimentos e com o temor de que as empresas americanas especializadas em IA percam influência", resumiu Sam Stovall, da CFRA, à AFP.
"O domínio [americano] está sendo desafiado pela China", resumiu Kathleen Brooks, diretora de pesquisa da plataforma de trading XTB. "A questão agora é se a China pode fazer melhor, mais rápido e com menores custos que os Estados Unidos, e se podem vencer a corrida da IA", acrescentou.
"Podemos acreditar neles?"
Art Hogan, chefe de estratégia da B. Riley Wealth, foi cauteloso e descreveu a reação do mercado nesta segunda-feira como "atire primeiro e pergunte depois". O experiente analista destacou que há muito ceticismo no mercado em relação às afirmações da start-up chinesa.
"Todos estão se perguntando: 'Podemos acreditar neles?'", afirmou.
A DeepSeek declarou ter gastado apenas US$ 5,6 milhões (R$ 33,1 milhões) para desenvolver seu modelo, um valor irrisório em comparação com os bilhões de dólares investidos pelas gigantes americanas.
Wall Street teme que o chatbot da DeepSeek possa competir com a OpenAI e seu popular ChatGPT.
Mesmo assim, a DeepSeek denunciou nesta segunda-feira ser alvo de um "ataque cibernético malicioso em larga escala" e restringiu temporariamente novas inscrições de usuários.
A empresa, fundada em 2023, informou que aqueles que já possuem uma conta poderão continuar acessando seus serviços normalmente.
Nesta semana, o mercado está de olho nos resultados de diversos gigantes da tecnologia e da IA, como Meta e Microsoft, o que será uma oportunidade para comentários sobre o surgimento da empresa chinesa.
Além disso, espera-se a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) sobre as taxas de juros na quarta-feira.
Recalculando
Outras empresas do setor dos semicondutores também sofreram quedas: a Broadcoam perdeu 17,4%, enquanto a alemã ASML, que fábrica as máquinas usadas para construir semicondutores, cedeu 6,7%.
Na Europa, as bolsas de Frankfurt e Paris fecharam em baixa, enquanto Londres permaneceu estável.
Na semana passada, após sua posse, Donald Trump anunciou investimentos de 500 bilhões de dólares (R$ 2,96 trilhões) na construção da infraestrutura de IA nos Estados Unidos, em uma iniciativa liderada pelo japonês SoftBank e pela criadora do ChatGPT, a OpenAI.
O SoftBank teve uma queda de 8% na bolsa de Tóquio pela manhã.
"Os investidores tentam determinar a forma como o panorama (...) da IA poderia evoluir, e se devem reavaliar" as ações, disse Sam Stovall, da CFRA. "Farão uma análise profunda de suas carteiras para verificar se não estão expostos demais no setor tecnológico", acrescentou.
O DeepSeek foi criado por uma "start-up" sediada em Hangzhou, no leste da China, cidade conhecida pela alta concentração de empresas tecnológicas.
Disponível tanto em aplicativo para celulares quanto para computadores, oferece muitas funcionalidades parecidas às de seus concorrentes ocidentais: escrever letras de canções, ajudar a lidar com situações do cotidiano, como propor uma receita com o que se tem na geladeira.
O DeepSeek consegue se comunicar em vários idiomas, mas, segundo disse à AFP, domina mais o inglês e o chinês.
No entanto, a plataforma tem os mesmos limites que outros softwares conversacionais chineses: quando perguntado sobre temas delicados, com o presidente Xi Jinping, prefere evitar o assunto e sugere "falar de outra coisa".