ONU afirma que presença israelense em zona desmilitarizada nas Colinas de Golã é violação de acordo
Porta-voz do secretário-geral diz que não é permitida a presença de pessoas armadas na área; EUA afirmam que incursão deve ser "temporária"
Um porta-voz da ONU afirmou que a presença de tropas israelenses em uma zona desmilitarizada nas Colinas de Golã, ocupadas por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, viola um acordo firmado nos anos 1970 com a Síria. No domingo, logo após a queda de Bashar al-Assad em Damasco, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou que suas tropas ocupassem a área desmilitarizada para “evitar que forças hostis” se estabeleçam na fronteira.
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Em entrevista coletiva, Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral, disse que a força de paz da ONU para as Colinas do Golã “informou a seus homólogos israelenses de que essas ações constituem uma violação do acordo de retirada de 1974. Segundo ele, os militares estão presentes “em pelo menos três lugares” da zona de segurança.
Citado por Dujarric, o acordo firmado entre Israel e Síria em 1974, após a guerra do Yom Kippur, estabeleceu os termos para o fim dos combates entre os dois países nas Colinas do Golã, ocupadas por Israel desde o fim da Guerra dos Seis Dias, em 1967, e incluiu a criação de uma zona desmilitarizada de 235 km² em território sírio.
Ali, afirma o texto, não seriam permitidas atividades de tropas, e a paz seria garantida pela ONU, através da Força das Nações Unidas de Observação da Separação (UNDOF), composta hoje por cerca de mil homens.
— Não devem haver forças ou atividades militares na zona de separação — disse Dujarric.
O Conselho de Segurança da ONU se reúne a portas fechadas nesta segunda-feira para discutir as implicações da incursão israelense.
No domingo, logo após a queda do regime de Bashar al-Assad, Netanyahu considerou o acordo nulo, por causa da mudança no poder em Damasco, e determinou que suas tropas entrassem na zona tampão a partir de posições nas Colinas de Golã, anexadas formalmente em 1981. Segundo ele, a medida é “temporária”, e tem como objetivo impedir que “forças hostis” se instalem na área.
— Todos nós entendemos a grande importância da nossa presença lá nas Colinas de Golã — disse Netanyahu no domingo, afirmando ainda acreditar que a presença de Israel garante sua segurança e soberania. —As Colinas de Golã serão para sempre uma parte inseparável de Israel.
Ao comentar a decisão israelense, os EUA afirmaram que a incursão deve ser apenas “temporária”.
— Esta é uma ação temporária que eles [os israelenses] tomaram em resposta às ações dos militares sírios para se retirarem daquela área. Agora, o que queremos ver, em última instância, é que esse acordo seja cumprido de forma total, e estaremos atentos para ver se Israel o fará — declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller
Em 2019, no primeiro mandato de Donald Trump, o governo americano reconheceu a soberania israelense das Colinas de Golã, formalmente anexadas em 1981, em um movimento não aceito pela maioria da comunidade internacional. No pronunciamento, Netanyahu agradeceu a Trump pela decisão, afirmando que “esse reconhecimento histórico foi confirmado hoje (domingo) e entendemos a importância disso.