Sáb, 20 de Dezembro

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opinião

A importância de fortalecer a cultura de doação no Brasil

Apesar da percepção geral de que somos um povo solidário, a cultura de doação ainda não é um hábito consolidado no país. A pandemia, inclusive, mostrou como a solidariedade pode emergir com força em momentos de crise, mas também revelou o quanto ainda precisamos avançar para mantê-la de forma contínua. Embora sejamos rápidos em agir diante de situações de urgência, ainda temos um longo caminho para transformar a solidariedade pontual em uma prática constante e planejada.

A Pesquisa Doação Brasil 2024, levantamento do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e realizado pela IPSOS, mostrou que o número de pessoas dispostas a doar mensalmente para a mesma organização recuou, passando de 44% em 2022 para 39% em 2024. Além disso, apenas 49% afirmaram manter doações recorrentes para as mesmas instituições, diante de 55% em 2020 e 69% em 2015.

O enfraquecimento da fidelização está ligado à predominância das contribuições emergenciais, que representaram 74% das motivações em 2024, de acordo com a mesma pesquisa. Esses dados revelam que há competição na carteira dos doadores entre demandas imediatas e o comprometimento contínuo com uma causa ou organização.

As doações recorrentes são essenciais para a sustentabilidade financeira das organizações do terceiro setor. O apoio permanente é o que possibilita planejar, ampliar atendimentos e investir em inovação, pilares indispensáveis para o impacto social de longo prazo.

Na AACD, que é referência em ortopedia e neuro-ortopedia, mais de 80% dos atendimentos são realizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), porém a tabela de repasse de verba pública é deficitária. Com isso, anualmente a Instituição enfrenta o desafio de superar um déficit em torno de R$ 90 milhões na operação, o que exige captação de recursos ao longo de todo o ano.

Ainda que a AACD conte com a solidariedade da população brasileira durante o Teleton, maratona televisiva transmitida pelo SBT e que neste ano chegou a 28ª edição, a campanha representa somente 40% da necessidade anual de captação de recursos. Por isso, as doações regulares de pessoas físicas são uma frente importantíssima para a sustentabilidade da Instituição.

Em 2024, a AACD contou com mais de 40 mil doadores frequentes, cuja arrecadação correspondeu a cerca de 21% do valor necessário para sustentabilidade financeira da instituição. Para continuar contando com esse apoio fundamental, valorizamos a transparência em nossas prestações de contas, para que cada doador saiba da importância da sua contribuição na ampliação de estruturas, modernização de equipamentos e manutenção de atendimentos gratuitos.

Nosso objetivo é manter e ampliar as doações recorrentes, mas temos outras modalidades de captação de recursos. Também entram nessa conta os atendimentos médicos e terapêuticos particulares e via convênio em nosso Hospital em São Paulo, vendas dos bazares de todas as unidades, campanhas institucionais e parcerias com empresas, como a ação de arredondamento de troco disponível em alguns estabelecimentos.

Ao entrarmos na fase de planejamento para 2026, em que pensamos em como alocar recursos da melhor forma, fica ainda mais evidente a importância da cultura de doação. É fundamental reconhecer o papel estratégico das organizações do terceiro setor, que complementam políticas públicas e apoiam milhões de pessoas em áreas essenciais, como saúde, educação e assistência. Quando a generosidade é estruturada, isso fortalece a cidadania, amplia a participação social e contribui para a redução das desigualdades.
 


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