Engenharia Civil no Brasil
Em 16 de novembro de 2023, constava no Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Educação Superior do Ministério da Educação 9.775 cursos de engenharia civil no Brasil, dos quais 8.449 de Educação a Distância e somente 1.326 presenciais desses, 200 estavam inativos.
Na cidade de Exu/PE com pouco mais de 31 mil habitantes, em 2022, estavam disponíveis 300 vagas para o curso de engenharia civil, modalidade EaD, sob responsabilidade da UNIARAXÃ de Santa Catarina. Na mesma data, ao todo, estarrecedores 79.606.720 – Setenta e nove milhões, seiscentos e seis mil, setecentas e vinte vagas estavam autorizadas. Isso mesmo, de cada 3 brasileiros, 1 poderia estudar engenharia civil pois havia e há vaga autorizada.
No Brasil, cerca de 60 a 70 mil profissionais são autorizados, anualmente, pelos CREAs para o exercício das engenharias e os investimentos públicos em infraestrutura este ano são inferiores a USD 100 bilhões.
Nos EUA o número de profissionais é de apenas 12 mil e os mesmos investimentos estão calculados em USD 2,59 trilhões (Report Card da ASCE – American Society of Civil Engineers) encaminhado ao Congresso Americano para que sejam incluídos nos planos e programas oficiais. Um simples cálculo mostra que aqui sobram engenheiros enquanto lá, faltam profissionais.
Enquanto lá, o processo de certificação profissional exige que seja percorrido um longo caminho de 4 anos, sob a tutela de um profissional licenciado e experiente, aqui, a apresentação da documentação de conclusão do curso na instituição de ensino garante a permissão.
Em 07 de junho deste ano o MEC, através da portaria no. 528, estabeleceu que até 31/12/2024 fará a revisão do marco regulatório da educação à distância e que até 10/03/2025 nenhum outro curso nessa modalidade de ensino, mais vagas e novos credenciamentos serão autorizados. Na oportunidade fomos todos convidados pelo MEC a contribuir na revisão dessas regras para a formação dos futuros alunos dos cursos superiores.
Particularmente, um alívio para nós engenheiros diante de um quadro assombroso de excesso de profissionais, baixa qualificação e o mais grave, um mercado de trabalho que, diante dessa escandalosa oferta de mão de obra, paga salários indignos, levando milhares de formandos a buscar seu sustento fora da profissão que escolhera.
Representando a engenharia civil no nosso Conselho Federal este ano, colocamos como objetivos para o mandato trabalhar pela melhoria da qualificação dos egressos, implantar um modelo de avaliação e certificação profissional, assim como, iniciar um processo de acreditação dos cursos junto às nossas escolas de engenharia. Uma tarefa enorme diante de poderosos agentes de mercado que buscam o lucro com a nossa educação.
Um enorme desafio se nos coloca daqui por diante. Como efetivamente ensinar engenharia à distância e garantir uma boa formação dos alunos? Sem sombras de dúvidas, essa modalidade terá que conter ao menos 60 ou 70% de aulas presenciais. Laboratórios e obras, a convivência com os colegas de classe, a socialização das experiências e do aprendizado, a formação natural de equipes multidisciplinares, a presença do mestre, tudo isso é insubstituível por qualquer mecanismo, máquina ou algoritmo.
Liderança e gestão de equipes, visão geral dos desafios a enfrentar, planejamento estratégico, construção de matrizes de risco e avaliação com a forte participação das pessoas, são exigências diárias do ser social. O avanço tecnológico na execução de tarefas corriqueiras, de uma forma rápida e com redução de erros, esses processos são velhos conhecidos da engenharia.
Em Pernambuco na habitação a construção industrial em larga escala remonta a década de 1970. Máquinas para corte, solda, montagem industrial são usados desde o fim da 2ª. Guerra Mundial. Médicos realizam cirurgias com auxílio de robôs evitando cortes imprecisos, por exemplo, já que suas garras e pinças são firmes, mas, a análise do órgão doente sempre é sujeita a interpretação do médico e de sua larga experiência profissional.
Enfim.
Diante de um desafio dessa magnitude, resta convocar a todos e a cada um a colaboração, a participação e mais ainda, a contribuição das longas vidas profissionais dos colegas para a construção de um novo caminho, um novo olhar sobre a educação, sabendo de antemão que as futuras gerações serão cobradas e cobrarão por aquilo que estamos fazendo agora.
* Engenheiro civil, Presidente da ABENC/PE, Coordenador Nacional das Câmaras Especializadas de Engenharia Civil do CONFEA
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