IA aumenta a precisão dos exames de colonoscopia e endoscopia e oferece diagnósticos mais precoces
O câncer colorretal é hoje um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil. Trata-se do terceiro tumor que mais mata no país e, de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), entre 2023 e 2025 devem ser registrados mais de 135 mil novos casos. Embora mais frequente em pessoas idosas, a doença tem crescido de forma preocupante entre os jovens. Esse cenário reforça a importância do diagnóstico precoce, que pode elevar as chances de cura para acima de 90% quando o tumor é identificado em fase inicial.
Um estudo da Universidade de Missouri-Kansas City, apresentado no congresso internacional Digestive Disease Week 2024, mostrou que a taxa do câncer intestinal aumentou 333% entre adolescentes de 15 a 19 anos, entre 1999 e 2020. Em crianças de 10 a 14 anos, o crescimento foi ainda maior, chegando a 500% nos últimos 20 anos. Já entre jovens de 20 a 24 anos, o aumento registrado foi de 185%. Embora a incidência em faixas etárias tão precoces ainda não justifique rastreamento em massa, os números evidenciam que não se trata mais de um problema restrito à população idosa.
A colonoscopia é a principal ferramenta para detectar precocemente alterações que podem evoluir para o câncer de intestino. As diretrizes atuais recomendam a realização do exame a partir dos 45 anos, repetido a cada dez anos em caso de resultado negativo. Pacientes com histórico familiar devem iniciar a rotina dez anos antes da idade em que o parente próximo recebeu o diagnóstico. Essa estratégia permite identificar pólipos e lesões iniciais ainda assintomáticas, quando o tratamento é menos invasivo e as chances de cura são muito superiores.
Nos últimos anos, um aliado poderoso tem transformado a prática clínica e potencializado os resultados desses exames: a Inteligência Artificial. Já disponível em centros de referência no Nordeste, a tecnologia foi incorporada a equipamentos de endoscopia e colonoscopia por meio do sistema CAD EYE. Funciona como um “olho extra”, treinado com milhões de imagens, capaz de reconhecer em tempo real padrões específicos de pólipos e alterações da mucosa. Além de identificar lesões sutis que poderiam passar despercebidas, o sistema sugere a histologia mais provável. Estudos indicam que o CAD EYE pode aumentar em até 34% a taxa de detecção de pólipos, oferecendo maior segurança diagnóstica e ampliando a possibilidade de um diagnóstico precoce.
A inovação não se restringe à inteligência artificial. Recursos complementares elevam ainda mais o padrão dos exames. A Magnificação Óptica Real permite ampliar as imagens em até 145 vezes, com alta definição, favorecendo a análise de vasos e estruturas microscópicas. Já o LCI (Linked Color Imaging) intensifica o contraste entre tons vermelhos e brancos, facilitando a visualização de inflamações e lesões iniciais. O BLI (Blue Light Imaging), por sua vez, utiliza luz azul-violeta para destacar vasos e estruturas da mucosa, auxiliando na diferenciação entre lesões benignas e malignas.
Esse ecossistema tecnológico representa um marco para a saúde digestiva. Com ele, a colonoscopia e a endoscopia se tornam ainda mais sensíveis e eficazes. O apoio da inteligência artificial reduz falhas humanas, aumenta a precisão e garante diagnósticos mais confiáveis. Para o paciente, o impacto é direto: mais segurança, mais chances de cura e mais tranquilidade diante de um exame fundamental para a prevenção do câncer colorretal.
A incorporação de recursos de alta tecnologia não é apenas uma evolução da prática médica, mas uma necessidade diante do avanço da doença. O Brasil registra cerca de 45 mil novos casos de câncer colorretal por ano, com aproximadamente 24 mil mortes apenas em 2023. Ao mesmo tempo, cresce a procura por colonoscopias, especialmente após casos de grande repercussão nacional, como o da cantora Preta Gil. O aumento de 138% nos exames realizados pelo SUS e a duplicação da demanda em clínicas particulares mostram que a população está mais consciente da importância da prevenção.
* Médica, presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva em Pernambuco, diretora médica da Endogastro.
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