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Mercado de trabalho: transformações que empresas e profissionais não podem ignorar

O mercado de trabalho tem atravessado uma verdadeira revolução nesta década, marcada por transformações estruturais que impactam tanto empresas quanto profissionais. Três grandes movimentos se destacam: a aceleração da digitalização e automação, a consolidação do trabalho remoto e híbrido, e a valorização de competências comportamentais — as chamadas soft skills.

Tecnologias como inteligência artificial, machine learning e automação têm substituído tarefas repetitivas e manuais, ao mesmo tempo em que impulsionam novas profissões digitais, como analistas de dados, especialistas em cibersegurança e desenvolvedores. A pandemia impulsionou o trabalho remoto como regra, que agora evolui para formatos híbridos, ainda que muitas empresas já sinalizem um retorno gradual aos escritórios. Paralelamente, cresce o foco na diversidade (inclusive etária), nas práticas ESG e nas habilidades humanas, como empatia e comunicação.

Essas mudanças também alteram profundamente a relação entre empregadores e profissionais. A rigidez dos antigos modelos de controle dá lugar à confiança e à flexibilidade. Hoje, os profissionais buscam empresas que compartilhem seus valores — o trabalho, mais do que fonte de renda, tornou-se uma extensão da identidade pessoal.

No contexto da automação, algumas competências se tornam verdadeiras moedas de ouro. Pensamento crítico, criatividade, inteligência emocional, fluência digital e capacidade de resolver problemas complexos são atributos cada vez mais requisitados. A IA está redesenhando carreiras inteiras, criando novas oportunidades e tornando obsoletas outras. O trabalho não acaba, mas se transforma — e quem souber se reinventar estará um passo à frente.

Esse novo cenário exige das empresas uma resposta ao fenômeno da "Grande Renúncia" e às expectativas das gerações mais jovens. Flexibilidade real, escuta ativa, segurança psicológica e lideranças empáticas são ingredientes fundamentais para manter e atrair talentos. Além disso, o mercado ainda enfrenta desafios estruturais para se tornar verdadeiramente inclusivo. Combater culturas organizacionais tóxicas e investir no desenvolvimento contínuo de lideranças são passos essenciais — inclusão é processo, não evento.

A conciliação entre diversidade e meritocracia também precisa ser melhor compreendida. Elas não são excludentes. Na verdade, políticas de inclusão bem aplicadas promovem a meritocracia real, ao corrigir desigualdades históricas que distorcem a competição por oportunidades.

E o que dizer da formação acadêmica? Hoje, há um evidente descompasso entre o que as universidades ensinam e o que o mercado exige. Currículos ainda ancorados no século passado falham ao não desenvolver habilidades como colaboração, adaptabilidade e pensamento crítico. É urgente repensar grades curriculares e investir em experiências práticas, projetos reais e desenvolvimento de competências socioemocionais.

Por fim, diante da escassez de mão de obra qualificada em áreas críticas, o caminho está na requalificação. Empresas visionárias já apostam em formar talentos do zero por meio de academias corporativas, bootcamps e parcerias com instituições de ensino. O segredo está em deixar de procurar pessoas prontas e passar a investir em quem tem potencial. Quem fizer isso primeiro, com consistência, liderará o futuro do trabalho.


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