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OPINIÃO

O caso Marrone e a importância de se acompanhar o glaucoma de forma precoce

Recentemente, o caso do cantor sertanejo Marrone, que perdeu parte da visão devido ao glaucoma, virou notícia. O episódio com o artista, que precisou fazer uma cirurgia de urgência nos dois olhos para retardar o avanço da doença, é um alerta para importância do acompanhamento precoce do glaucoma.

O glaucoma é uma condição ocular séria que pode levar à perda permanente da visão se não for tratada adequadamente. Essa doença é caracterizada pelo aumento da pressão intraocular, que danifica o nervo óptico, essencial para a visão. Embora muitas pessoas possam não perceber os sintomas nos estágios iniciais, o glaucoma pode progredir silenciosamente, resultando em danos irreversíveis.

Marrone já tratava a condição com colírios, e outros membros da sua família também sofrem do problema. Mesmo assim, o glaucoma dele foi progredindo silenciosamente e o avanço do quadro só foi descoberto após ele ir ao médico com queixa de dores de cabeça (que não estava relacionada com a condição). Por sorte, a cirurgia foi um sucesso e ele poderá levar uma vida normal, continuando a realizar os shows com seu parceiro Bruno. 

O glaucoma é uma doença que acomete cerca de  1,5 milhão de brasileiros e é a maior causa de cegueira irreversível no mundo. Estudos projetam que, em 2030, 95,4 milhões de pessoas irão sofrer da doença globalmente. Apesar da gravidade do quadro, quatro em cada dez pessoas não sabem o que é a doença, de acordo com levantamento realizado pelo Ibope Inteligência, a pedido do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). O índice chega a 53% entre jovens com idade de 18 a 24 anos, e a 71% entre adultos com 55 anos ou mais. Há, ainda, diferença em relação ao gênero: 44% dos homens consultados estão desinformados sobre o assunto, contra 38% das mulheres.

O glaucoma é caracterizado por uma alteração do nervo óptico que leva a um dano irreversível das fibras nervosas e, consequentemente, perda de campo visual, podendo levar à perda da visão. Essa lesão pode ser causada por um aumento da pressão ocular ou uma alteração do fluxo sanguíneo na cabeça do nervo óptico. O grande fator de risco para o desenvolvimento do glaucoma e do avanço da doença é o aumento da pressão intraocular; e a redução dessa pressão é o principal objetivo do tratamento.

O diagnóstico de glaucoma inclui a medição da pressão intraocular, o exame do nervo óptico e o teste de campo visual para avaliar a perda de visão periférica. A detecção precoce permite o início do tratamento, que pode incluir colírios para reduzir a pressão ocular, terapia a laser ou cirurgia, dependendo da gravidade da condição.

A doença é capaz de causar cegueira se não for tratada a tempo, e 80% dos casos não apresentam sintomas no início. O acompanhamento periódico com o médico oftalmologista especialista em glaucoma é fundamental, já que se trata de uma doença na maior parte das vezes assintomática, e a avaliação do nervo óptico e dos exames funcionais, como o campo visual, orientam sobre o controle da doença e as alternativas de tratamento.

Uma pessoa com glaucoma em estágio avançado terá visão embaçada, dificuldades para enxergar em ambientes escuros, e perda de visão lateral, com uma mancha escura em volta. Há várias opções de tratamento para o glaucoma. Apesar da doença não ter cura, é possível evitar a sua progressão através do controle da pressão intraocular. Felizmente, hoje em dia, dispomos de um arsenal terapêutico amplo, que vai desde colírios hipotensores oculares, a tratamentos com lasers e cirurgias. O diagnóstico precoce da doença é fundamental para que possamos agir quando ainda não haja alterações visuais funcionais e impactos na qualidade de vida.

*Oftalmologista do Hospital de Olhos Santa Luzia e especialista em glaucoma

 

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