Os inimigos da Política
Não é de hoje que a política tem seus inimigos. Muitos deles são frutos do desconhecimento da importância que ela exerce e outros por causa da má política, que promove figuras totalmente descompromissadas para o que lhe fora confiada. O crescimento da insatisfação ocorreu a partir de 2011, onde uma crise econômica foi o estopim.
Durante o apogeu de Tony Blair, chegou a afirmar que “agora todos nós somos classe média e podemos entender uns aos outros”. Essa fala patrocinou a quimera do fim das ideologias, ou melhor, a subordinação à ideia única.
Pairando uma pergunta: a ideologia voltou? Certamente, a melhor resposta é de que ela nunca saiu, mas o que se encontra em voga é o confronto ideológico e consequentemente o declínio do bom debate. Infelizmente, a luta pela separação entre o poder civil e o religioso não foi suficiente para extirpar sua perigosa fusão. Afirmou Hannah Arendt que no totalitarismo as pessoas não conseguem seu próprio espaço, vivem como se estivessem em um campo de concentração. Alguém duvida que nunca foi tão fácil alguém ser espionado quanto atualmente?
O comportamento narcisista das chamadas redes sociais, onde há milhares de pessoas que se apresentam de maneira despudorada e inconsequente, além de aos poucos patrocinar um tipo de totalitarismo de concordância. Parte se deve a ausência de cumprimento do papel dos partidos políticos. Os mesmos devem recrutar novos quadros, além de reconhecer o cidadão como ator político.
Talvez não existam algo tão horrendo como uma sociedade sem valorar as questões políticas e um Estado limitado. Quando as duas coisas ocorrem, naturalmente se percebe a falta de articulação social deixando o caminho livre para ser ocupado pela predominância do crime e a fragilização das questões democráticas.
Infelizmente, alguns políticos optam por uma agenda inimiga da política, principalmente quando suas ações estão avessas ao que se entende como a garantia do direito dos cidadãos.
* Cientista político
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