Quando uma criança visita um museu
Quando uma criança vai a um museu, não se trata apenas de uma visita a um espaço como outro qualquer. Algo de extraordinário acontece. Os centros culturais se constituem em instrumentos poderosos de apelos a mais conhecimentos que muitas vezes fogem do visível, do concreto. Eles exercem o poder de conectar, de criar, de educar, de fazer pensar, questionar, sensibilizar e reverberar.
Nos grandes museus do mundo, em especial naqueles do continente europeu, os visitantes brasileiros se impressionam com a presença em grande quantidade de crianças pequenas, algumas ainda de colo, com suas famílias e numerosos grupos escolares dentro dos espaços expositivos. Pesquisas mostram, e aquele povo sabe disso, que conhecer e participar dessas estruturas – museus, centros culturais, espaços artísticos – a partir da primeira infância ajuda no desenvolvimento infantil, além de despertar, desde cedo, o interesse e o gosto pela arte.
Mas aqui no Brasil, apesar dos números mais tímidos, instituições culturais promovem visitas, atividades e ações especiais voltadas para as crianças, e famílias, visando a formação de um público frequentador, quiçá amante, de museus e de arte. É um trabalho a longo prazo.
O Instituto Ricardo Brennand, no coração do Recife, é um exemplo a ser ilustrado. Com suas ações e proposições educativas, atrai de terça a domingo um público vasto proveniente desde o bairro da Várzea até países que atravessam os oceanos. Cerca de oito mil pessoas visitam mensalmente o Instituto RB com objetivos distintos, mas encontram ali, naquele local um oásis, um refúgio onde arte e natureza dialogam harmoniosamente.
A cada última terça-feira de cada mês, com exceção dos meses de dezembro, janeiro e julho, um programa inclusivo movimenta o Instituto Ricardo Brennand, chamado Terça Gratuita, reforçando o aspecto social e democrático da casa, trazendo cerca de três mil pessoas para visitar o complexo cultural de forma gratuita. É a arte de portas abertas.
Com a agenda da Terça Gratuita, filas de ônibus e de pessoas se formam nos portões da instituição, fazendo todos lembrarem o quão importante e quanto se quer o acesso à cultura. Esse é o combustível.
Durante a semana, os grupos escolares públicos e privados das mais variadas faixas etárias, cujo agendamento ocorre no mês anterior de forma disputada, preenchem com pluralidade e dão vida ao museu. Além de novas aprendizagens, busca-se também criar conexões com os conteúdos explorados em sala de aula. Essa é a mola.
Maravilhadas com os prédios, os acervos e a natureza exuberante, crianças correm na área externa do Instituto RB. Muito se aponta, muito se posta, muito se olha. Mas o que, a priori, parece ser um passeio, quando uma criança visita um museu, quando de frente para uma obra de arte, desenvolve-se o pensamento crítico; aguça-se a curiosidade; aumenta-se o repertório; educa-se o olhar; despertam-se sentimentos; produzem-se conhecimentos e aprendizagens; estimula-se a criatividade. Algo de extraordinário acontece.
*Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e Coordenadora Geral do Instituto Ricardo Brennand
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