Os sintomas na pele podem prever riscos à saúde mental; entenda
Pesquisadores analisaram fator em comum entre a pele e o cérebro
O surgimento de problemas de pele pode estar associado a desfechos mais graves em casos de psicose. É o que diz um novo estudo apresentado no último encontro do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia, realizado em Amsterdã.
Foi descoberto que cerca de 25% dos participantes com problemas de psicose e sintomas na pele tiveram pensamentos ou tentativas de suicídio. Problemas na pele também foram associados a maiores chances da pessoa diagnosticada com psicose desenvolver depressão e apresentar baixo bem-estar no acompanhamento psicológico.
Por outro lado, apenas 7% dos pacientes com psicose e sem as doenças de pele apresentaram pensamentos ou tentativas de suicídio. Os pesquisadores explicam que o cérebro e a pele surgem a partir do mesmo local no embrião: o ectoderma, a camada mais exterior. Por isso, poderiam haver conexões ainda não conhecidas entre eles.
"Já se sabia que entre 30% e 60% das pessoas com problemas de pele apresentam sintomas psiquiátricos. O que fizemos foi olhar as coisas de forma oposta: pessoas com problemas de saúde mental têm problemas de pele e, em caso afirmativo, isso pode nos dizer algo útil?", afirma o autor principal, Joaquín Galvañ, do Instituto de Investigación Sanitaria Gregorio Marañón, na Espanha.
Segundo Galvañ, os achados sugerem que os sintomas dermatológicos podem representar um marcador de gravidade da doença e de resultados ruins em curto prazo nos estágios iniciais da psicose.
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"Potencialmente identificando um subgrupo de pacientes com pior prognóstico clínico que pode se beneficiar de intervenções precoces personalizadas", explica.
Para a pesquisa, a equipe analisou 481 pacientes com um primeiro episódio de psicose (que é a vez que um indivíduo experimenta um primeiro episódio psicótico, como perda de contato com a realidade, alucinações e delírios).
Nos testes, 14,5% apresentaram sintomas dermatológicos (24% mulheres, 9,8% homens), como erupção cutânea, coceira e fotossensibilidade. Todos os pacientes receberam quatro semanas de tratamento com um antipsicótico e depois foram verificados quanto a uma série de parâmetros de saúde mental.
A hipótese principal apresentada pelos pesquisadores é que os resultados indicando uma associação negativa entre problemas de pele e saúde mental podem ser explicados devido à origem do desenvolvimento e das vias inflamatórias comuns entre a pele e os sistemas neurológicos.
Contudo, como ressaltam os autores, a origem desse mecanismo ainda não foi confirmada.
"Também precisamos entender se essa ligação se aplica a uma série de outras condições psiquiátricas, como transtorno bipolar, TDAH, ansiedade ou depressão", conclui Galvañ.

