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Paciente infectado por "ameba comedora de cérebros" morre nos Estados Unidos

Ameba entra no organismo pelo nariz, geralmente durante atividades recreativas em águas doces quentes, e alcança o cérebro, provocando a infecção

Ameba Naegleria fowleri, conhecida como Ameba Naegleria fowleri, conhecida como  - Foto: Divulgação/ Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC)

Um paciente internado em um hospital infantil da Carolina do Sul morreu após contrair uma infecção cerebral rara e altamente letal causada pela ameba Naegleria fowleri, conhecida popularmente como “comedora de cérebro”. A informação foi confirmada nesta terça-feira (23) pelo Prisma Health Children’s Hospital-Midlands, durante coletiva de imprensa.

De acordo com a emissora CBS News, o paciente foi diagnosticado com meningoencefalite amebiana primária (PAM), uma condição que afeta o cérebro e, em mais de 97% dos casos relatados nos Estados Unidos desde a década de 1960, leva à morte.

Autoridades de saúde da Carolina do Sul acreditam que a infecção tenha sido contraída no Lago Murray, popular destino turístico na região, embora não possam confirmar o local com total certeza. Esse é o primeiro caso conhecido no estado desde 2016.

“Essas infecções são devastadoras”, afirmou a médica Anna-Kathryn Burch, especialista em doenças infecciosas pediátricas, durante a coletiva. Segundo ela, a ameba entra no organismo pelo nariz, geralmente durante atividades recreativas em águas doces quentes, como lagos, rios e fontes termais, e alcança o cérebro, provocando a infecção.

A médica ressaltou que a infecção não é transmissível de pessoa para pessoa nem ocorre por ingestão de água contaminada. O risco aumenta em ambientes aquáticos onde a água entra forçadamente pelo nariz, como em mergulhos e saltos.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) recomenda o uso de prendedores nasais ou evitar submergir a cabeça durante atividades em água doce quente, especialmente em locais com pouca circulação de água.

Esse não foi o único caso recente nos Estados Unidos. Em maio deste ano, uma mulher de 71 anos morreu no Texas após utilizar água de torneira, possivelmente contaminada, para irrigação nasal em um motorhome, segundo relatório do CDC.

Saiba mais sobre a infecção
A Naegleria fowleri é uma ameba de vida livre, ou seja, está presente no ambiente. No entanto, ela é oportunista e, se tiver contato com humanos ou animais, penetra nas fossas nasais e vai até o cérebro, onde causa um tipo de meningite chamada meningoencefalite amebiana primária (MAP).

— Ela é agressiva por causa da sua velocidade. Ela emite flagelos que facilitam o deslocamento, então ao entrar nas fossas nasais de forma muito rápida ela ultrapassa a barreira hematoencefálica e se instala no cérebro causando a meningite. A pessoa começa a ter sintomas e dentro de sete dias vai a óbito — disse a parasitologista Denise Leal dos Santos, doutora em Microbiologia Agrícola e do Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Onde existe a ameba comedora de cérebro?
A ameba vive no solo e, principalmente, em água doce de lagos, rios e fontes termais. Há relatos ainda de infecção a partir da torneira, de uso de itens para lavagem das fossas nasais, entre outros semelhantes. Não é encontrada em água salgada.

Denise explica que há relatos por todo o mundo, como no Paquistão, onde em 2012 um surto deixou 10 mortos na cidade de Karachi. Lá, há casos associados ao ritual de ablução, que envolve o uso de água em contato com o rosto.

Porém, os Estados Unidos são o principal país que monitora a doença. Entre 1962 e 2023 foram 164 casos registrados, e 160 óbitos.

Tem ameba comedora de cérebro no Brasil?
Além da possibilidade de já haver casos subnotificados, a parasitologista conta que houve dois casos de Naegleria fowleri diagnosticados em bovinos no Rio Grande do Sul entre 2017 e 2019, o que indica a presença do microrganismo em território brasileiro.

— Poderia ter sido um humano mergulhando, por exemplo, no lago onde esse bovino bebeu água, e ter se contaminado. Provavelmente em breve vamos ver algum caso confirmado no Brasil. Se formos pesquisar, encontramos. Mas não são muitas pessoas que trabalham com esse microrganismo no país — explicou.

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