Pentágono muda as regras para a cobertura de imprensa e abre espaço para veículos pró-Trump
Empresas com visões consideradas críticas ao novo presidente americano precisarão deixar espaços físicos em duas semanas
O Pentágono anunciou mudanças nas regras para os jornalistas que cobrem o dia-a-dia do departamento, afetando diretamente vozes críticas ao presidente Donald Trump.
Segundo uma norma adotada na quarta-feira, haverá um sistema de rotação dos espaços físicos na sede do Pentágono, e os primeiros beneficiados incluem veículos alinhados ao trumpismo.
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Em um comunicado interno, distribuído à associação de imprensa do Pentágono, o porta-voz do departamento, John Ullyot, afirmou que a rede NBC News, o jornal New York Times, a rádio NPR e o portal Politico deverão entregar, em até duas semanas, os espaços ocupados no prédio em Washington.
Os locais serão ocupados, a partir de 14 de fevereiro, pela TV One America News Network, pelo jornal New York Post, pelo site Breitbart News, três veículos diretamente associados ao trumpismo e conhecidos por sua linha editorial favorável ao presidente.
Além deles, o portal HuffPost, de viés progressista, será beneficiado, mesmo sem ter um repórter permanente no Pentágono.
A medida faz parte de um novo “programa de rotação anual da imprensa” que, segundo Ullyot, ampliará o acesso desses locais a outros profissionais e empresas de comunicação.
“Por mais de meio século, a imprensa no Pentágono se beneficiou do trabalho em espaços de escritórios individuais que fornecem acesso cobiçado e aberto a alguns dos principais líderes militares e civis do Departamento", diz o porta-voz no comunicado, emitido na sexta-feira.
As empresas que perderam o acesso aos espaços físicos poderão continuar a cobrir o Pentágono normalmente, arirmou Ullyot.
A medida não foi recebida com elogios pelos veículos afetados.
“Estamos decepcionados com a decisão de nos negar acesso a uma cabine de transmissão no Pentágono que usamos por muitas décadas”, escreveu, em comunicado, a NBC News.
“Apesar dos obstáculos significativos que isso representa para nossa capacidade de reunir e relatar notícias de interesse público nacional, continuaremos a relatar com a mesma integridade e rigor que a NBC News sempre teve.”
Para a NPR, a maior rádio pública dos EUA, "esta decisão interfere na capacidade de milhões de americanos de ouvir diretamente a liderança do Pentágono e na missão de interesse público da NPR de servir os americanos que recorrem à nossa rede de estações de mídia pública locais em todos os 50 estados".
Em comunicado, o New York Times afirma que o jornal “está comprometido em cobrir o Pentágono de forma completa e justa”, e que “medidas tomadas para impedir o acesso [da imprensa] claramente não são do interesse público”.
Já o HuffPost, que foi beneficiado com um espaço no Pentágono, não pareceu disposto a amenizar o tom de suas reportagens.
— Se o governo Trump e o secretário [de Defesa, Peter] Hegseth estiverem interessados em uma cobertura mais contundente sobre sua administração do Departamento de Defesa pelo HuffPost, estamos prontos para entregar — disse um porta-voz do HuffPost na sexta-feira, citado pela CNN.
Boa parte da construção da imagem política de Donald Trump se deve aos veículos outrora conhecidos como alternativos, que ganharam força (e dinheiro) desde sua primeira eleição em 2016.
Sites como o Breitbart, que sob o comando de Steve Bannon se transformou em cabo eleitoral, ou TVs como a One America, que transmitiam eventos de campanha na íntegra, ampliaram a base de eleitores e consolidaram a voz de Trump como a voz do Partido Republicano.
Na semana passada, Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, afirmou em entrevista coletiva que iria “abrir a sala de imprensa a novas vozes da mídia”, permitindo que veículos como o próprio Breitbart façam perguntas, e sugerindo que produtores de conteúdo em redes sociais peçam credenciais oficiais.
— É um fato que os americanos estão consumindo suas notícias de várias plataformas diferentes, especialmente os jovens — disse Leavitt. — Contanto que você esteja criando conteúdo relacionado às notícias do dia e seja um jornalista independente legítimo, você é bem-vindo para cobrir a Casa Branca.
Ela ainda prometeu devolver 440 credenciais de imprensa revogadas durante o governo de Joe Biden, segundo ela, de forma indevida. Em seu primeiro governo, Trump revogou dezenas de credenciais, incluindo de profissionais de empresas como a CNN, alegando “questões de segurança”.

