Pernambucano da rede pública é aprovado em programa de pesquisa da USP na França
Aos 21 anos, Danilo foi selecionado para desenvolver, na Universidade de Lyon, uma pesquisa sobre vínculos afetivos com assistentes virtuais
Nascido em Recife e criado durante toda a vida em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, o estudante de jornalismo Danilo, de 21 anos, está prestes a embarcar para a França.
Aluno da Universidade de São Paulo (USP), ele foi selecionado para desenvolver, durante um ano, uma pesquisa acadêmica na Universidade de Lyon sobre as relações afetivas que pessoas estabelecem com assistentes virtuais e chatbots.
O tema, que une comunicação e psicologia, nasceu de sua vivência como pesquisador no Instituto de Psicologia da USP.
“A minha pesquisa busca entender o comportamento de quem cria laços com essas inteligências artificiais e como essas relações influenciam a forma como as pessoas se informam”, explica.
Antes de chegar à universidade, Danilo trilhou um caminho marcado pela escola pública. Cresceu em Vila Rica, em Jaboatão Centro, e estudou na Escola Estadual Presidente Humberto Castelo Branco, no Recife.
Foi lá que descobriu a paixão pela comunicação.
“Eu entrei na escola pública muito desanimado, por ter saído de outra instituição privada e achava que estando ali eu não receberia apoio para realizar meus sonhos. Mas foi o contrário: ali eu aprendi sobre empatia, direitos humanos e o poder da educação”, conta.
Durante o ensino fundamental, ele criou um projeto de inclusão e acessibilidade para alunos com deficiência na escola, com aulas de Libras e debates sobre capacitismo.
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“Tudo começou porque um colega cadeirante da minha turma enfrentava dificuldades de acesso. A partir disso, passei a me interessar pela comunicação ligada aos direitos humanos”, lembra.
A vontade de estudar foi o que o levou a vender bolos e doces na escola para ajudar nas despesas de casa e, mais tarde, custear o cursinho.
“Eu quase fui expulso da escola por vender bolo, mas era o que eu tinha para continuar estudando”, recorda.
Foi durante a pandemia, ao traduzir notícias sobre a Covid-19 para vizinhos surdos do condomínio onde morava, que Danilo entendeu que queria ser jornalista.
“Percebi que a informação também é uma forma de cuidado. Assim como a medicina, o jornalismo pode salvar, mas por meio do conhecimento”, afirma.
Em 2021, Danilo foi aprovado em primeiro lugar nas cotas para o curso de Jornalismo da USP. Lá, se envolveu com projetos de extensão e pesquisa, além de ter criado um coletivo de estudantes nordestinos.
“Morar em São Paulo é solitário, e o coletivo virou um espaço de afeto. É o que me move: pensar a comunicação a partir dos encontros”, diz.
Agora, o estudante se prepara para viver um novo capítulo acadêmico na França.
O intercâmbio faz parte de um convênio entre a USP e a Universidade de Lyon, e o projeto será desenvolvido no Instituto de Comunicação, em parceria com o setor de Psicologia da instituição.
“Escolhi Lyon porque, além de ter um custo de vida menor que Paris, é uma universidade muito interdisciplinar, que une comunicação, psicologia e educação”, explica. “Meu sonho é voltar para o Brasil e ser professor da Universidade Federal de Pernambuco. A educação pública mudou minha vida, e eu quero retribuir isso”.
Para ajudar com os custos de moradia, alimentação e passagem, Danilo criou uma vaquinha online.
A iniciativa busca arrecadar o valor necessário para complementar o auxílio oferecido pelo governo francês.
“É uma oportunidade única, mas ainda preciso de apoio para conseguir me manter lá”, resume.
Os valores estão sendo reunidos por meio de uma platforma oficial de realização de vaquinhas. Para doar, basta acessar o site clicando aqui.
Para o estudante, a pesquisa internacional é só o começo de um caminho que deverá ser pautado pela dedicação às pautas de educação pública no país.
“Desde que entrei numa escola pública, decidi que nunca mais queria sair dela. É ali que eu me encontrei e quero continuar”.




