Polícia Federal diz que vazamento teria possível objetivo de manter relação de políticos com CV
No texto em que pede a prisão de Bacellar, citado na decisão do ministro Alexandre de Moraes no STF, os investigadores relatam ""manutenção do vínculo" de "agentes políticos com o Comando Vermelho"
Na representação feita pela Polícia Federal pedindo a prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), deputado estadual Rodrigo Bacellar (União), os investigadores classificam como “ação obstrutiva” a conduta do político que teria tomado conhecimento prévio da operação, conversado com o principal alvo — o então deputado estadual Thiago dos Santos Silva, conhecido como “TH Joias” — e orientado sobre a retirada de objetos de interesse da investigação da residência do parlamentar sob suspeita. Ainda de acordo com a PF essa ação teria como “possível objetivo subjacente” a “manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho, facção responsável pelo maior controle territorial do Estado do Rio de Janeiro”. O pedido reproduzido na decisão de Moraes segue afirmando que esse controle "se traduz em milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha", referência às eleições marcadas para outubro de 2026.
Na manhã desta quarta-feira, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi preso na Operação Unha e Carne, deflagrada pela PF suspeito de vazar informações sigilosas da investigação e obstruir as investigações da Zargun.
As conexões políticas da facção foram expostas não apenas pela prisão de TH Jóias na Operação Zargun, conduzida pela PF em setembro deste ano. Índio do Lixão, um dos detidos na Operação Zargun, é apontado como traficante e responsável por movimentar, segundo a PF, R$ 120 milhões em cinco anos. Ele seria braço direito de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, líder do CV no Complexo do Alemão, atuando como uma espécie de tesoureiro da facção. Ainda de acordo com as autoridades, Índio do Lixão pagava policiais para garantir a proteção de integrantes da quadrilha. As investigações da PF mostram que o grupo tinha o objetivo de aumentar o seu poder político e planejava lançar Índio como candidato a vereador em Duque de Caxias.
Mensagens interceptadas pela Polícia Federal durante a investigação mostram que essa era a intenção da quadrilha. Numa conversa, Dudu, ex-assessor de TH na Alerj, diz a Índio que conversou com o joalheiro e com ex-subsecretário estadual de Defesa do Consumidor Alessandro Pitombeira Carracena, outro integrante do chamado Núcleo Político da facção, sobre a possibilidade de o traficante se candidatar.
O ex-secretário Alessandro Pitombeira Carracena foi preso por suspeita de suspeito de receber dinheiro da facção para vazar informações sigilosas e atender a interesses por meio de contatos adquiridos na vida pública, de acordo com a Polícia Federal. Carracena foi subsecretário estadual de Defesa do Consumidor, cargo do qual foi exonerado em janeiro deste ano. Antes, havia sido secretário estadual de Esporte e Lazer do Rio, na gestão do governador Cláudio Castro, em 2022, e secretário municipal de Ordem Pública da capital, na gestão de Marcelo Crivella na Prefeitura do Rio, em 2020.
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Segundo o superintendente da PF no Rio, Fábio Galvão, ficou evidente a participação do subsecretário em ações para auxiliar o Comando Vermelho:
— Há um episódio da investigação que mostra quando uma unidade do Batalhão de Choque foi instalada na Gardênia, comunidade da Zona Oeste do Rio. Essa base atrapalhava o CV. O subsecretário recebeu uma ligação do TH, depois que ele havia falado com o Índio, e fez uma ingerência para retirar o batalhão de lá. Os criminosos conseguiram se infiltrar na polícia e na Assembleia Legislativa. Isso é muito perigoso.
Em setembro, o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Jóias, foi preso em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, no âmbito da Operação Zargun, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Rio (MPRJ) e a Polícia Civil, por meio da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco-RJ).
Segundo a investigação, TH Jóias utilizava o mandato na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para favorecer o crime organizado. Ele foi acusado de intermediar a compra e a venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones destinados ao Complexo do Alemão.

