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Presidente e vice da Câmara de Ipojuca são presos por suspeita de desvio de verba pública

Parlamentares foram presos em flagrante, durante ação suspeita no Recife

Presidente e vice da Câmara de Ipojuca são presos por suspeita de desvio de verba públicaPresidente e vice da Câmara de Ipojuca são presos por suspeita de desvio de verba pública - Foto: Vinicius Lins/Folha de Pernambuco

Entre a tarde da terça-feira (18) e a manhã desta quarta-feira (19), quatro pessoas foram presas suspeitas de participar de um possível esquema de rachadinhas e lavagem de dinheiro na Câmara Municipal de Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife.

Entre os presos da Operação Alvitre II estão o presidente e vice-presidente da câmara, Flávio do Cartório e Professor Eduardo, respectivamente; o presidente da associação Filhos de Ipojuca e um empresário, dono de uma empresa subcontratada para a prestação de serviços. 

Ao todo, a associação, que seria de propriedade do presidente, acumulou o valor de R$ 12 milhões em transferências. 

Operação Alvitre
De acordo com as investigações do Ministério Público de Pernambuco e da Polícia Civil, a associação foi identificada como de interesse, durante a operação, pelo montante em recursos recebidos e pelo fato de que diretores e trabalhadores da instituição eram parentes ou pessoas relacionadas a um dos parlamentares presos. Além disso, algumas dessas pessoas também já haviam sido servidoras da Câmara Municipal de Ipojuca, através de cargos comissionados. 

"Com o avançar das investigações, conseguimos chegar ao parlamentar que seria o real dono da associação a que se destinava valores milionários. E essa associação tinha como presidente, vice-presidente, pessoas que eram ligadas a ele e que, inclusive, já trabalharam com ele no seu gabinete", relatou o delegado Ney Luiz, responsável pela investigação.

A promotora Catarina Gouveia, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Pernambuco (Gaeco/MPPE), detalhou que a investigação iniciou a partir de denúncias da população, em blogs locais e em redes sociais, que começaram a noticiar uma possível "farra das emendas parlamentares em Ipojuca." "As notícias eram graves, tinha um, peso e aí a delegacia local começou a investigar".

"As diligências demonstraram que o imóvel que é sede da associação pertence ao parlamentar. Ele declara esse imóvel na prestação de contas eleitorais dele, a conta de energia está no nome dele, e em diligências de campo, ouvindo a população, as pessoas também respondiam que era dele", informou a promotora.

Filhos de Ipojuca
Antes da associação Filhos de Ipojuca receber os valores, uma associação fantasma, que foi identificada pela própria população de Ipojuca, recebia valores para “oferecer” serviços de saúde para os moradores do município. Após a identificação da fraude, os serviços passaram a ser oferecidos pela Filhos de Ipojuca, que antes oferecia apenas aulas de escolinha de futebol para crianças. 

Segundo as investigações, mais de 20 associações sociais podem fazer parte do esquema. 

Os parlamentares, conforme informação repassada em coletiva de imprensa pelo delegado Ney Luiz, foram presos na tarde da terça-feira (18), em situação “suspeita”, no estacionamento de um supermercado, no bairro de Boa Viagem, no Recife.

"Nós monitorávamos um dos um dos parlamentares, porque existia um mandado de prisão contra ele. A equipe policial estava no local, um estacionamento, monitorando ele quando percebeu uma possível situação flagrancial. A forma como os parlamentares estavam no veículo, um no banco da frente, outro no banco de trás, teve um certo momento que eles abriram as duas portas, como se estivessem passando alguma coisa para o outro... Essas circunstâncias indicaram um possível plagante. Por isso foi feita a abordagem", explicou Luiz.

  • A promotora Catarina Gouveia, do Gaeco/MPPE. Foto: Vinicius Lins/Folha de Pernambuco.
    A promotora Catarina Gouveia, do Gaeco/MPPE. Foto: Vinicius Lins/Folha de Pernambuco.
  • O delegado Ney Luiz, responsável pela investigação. Foto: Vinicius Lins/Folha de Pernambuco.
    O delegado Ney Luiz, responsável pela investigação. Foto: Vinicius Lins/Folha de Pernambuco.

Flagrante
No momento do flagrante da dupla, a polícia apreendeu um total de R$ 17 mil reais e um caderno com diversas anotações onde constavam os nomes de assessores do parlamentar.

"Acreditamos que esses pessoas que trabalhavam no gabinete, inclusive, que algumas recebiam um salário de até mesmo R$ 30 mil reais, sacavam esse dinheiro e repassavam para ele, para que ele conseguisse, de alguma forma, evitar a rastreabilidade desse dinheiro, né? Era realizado um saque e o dinheiro do vivo era passado para ele", contou o delegado. 

O presidente da associação foi preso na própria cidade de Ipojuca e o empresário preso em Bezerros, local de suposto domicílio da empresa.

"O presidente é uma pessoa muito próxima ao parlamentar. No curso das investigações a gente verificou que, inclusive, ele já até trabalhou para o parlamentar, tem um elo uma amizade já antiga com ele e ele teria sido colocado ali na na presidência da associação, porque sempre foi uma pessoa de confiança de confiança dele. A gente conseguiu um mandado de busca e um mandado de prisão contra ele e na casa dele apreendemos cerca de R$ 14 mil reais. Quando realizamos o interrogatório dele, deu para perceber que ele é uma pessoa de pouca instrução, estudou somente até a oitava série e não sabia sequer explicar o que que era uma emenda parlamentar", detalhou Ney.

Ainda de acordo com o delegado responsável pelas investigações, a Polícia Civil está analisando o vasto material que foi aprendido durante a deflagração da Operação Alvitre II e as investigações seguem para "tentar entender por qual motivo cerca de nove parlamentares enviavam emendas para essas associações específicas".

Por meio de nota oficial, o PSD, partido ao qual os parlamentares presos são filiados, informou que está acompanhando a investigação e tomará as medidas cabíveis. 


"O PSD de Pernambuco informa que vai acompanhar as investigações referentes à prisão do presidente da Câmara de Vereadores de Ipojuca, Flávio do Cartório, e do seu vice, Professor Eduardo, ambos filiados ao partido. Assim que o processo legal for concluído, adotaremos as medidas cabíveis".

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